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Blog Aluno em Foco

Questões sobre orientação educacional, ética e relacionamentos na escola

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A linguagem construtiva do educador – Parte 1

POR:
Flávia Vivaldi
Ilustração de Vilmar Oliveira

Para evitar os rótulos na hora de intervir em classe, o ideal é pensar na ação ocorrida em vez de caracterizar o aluno a partir do que ele fez

O tema indicado pelo título deste post será desmembrado em duas partes, pois o considero de grande relevância para a reflexão do trabalho do educador. Neste primeiro texto, pensaremos acerca dos efeitos que a linguagem provoca em nossas relações. E, no segundo post, nossa atenção se voltará para os elogios e se devemos ou não usá-los.

Feita essa introdução, você pode estar se perguntando: “Afinal, tendo o objetivo de auxiliar na formação, a linguagem do educador pode ser destrutiva?”. E minha resposta é: “Sim, e como!”

Sem nenhuma intenção, podemos destruir os alunos aos poucos apenas pela linguagem que adotamos em nossos comentários, correções e intervenções, simplesmente por não conhecermos os efeitos nocivos que a maneira de expressar o que pensamos pode causar.

Comecemos por entender que as linguagens oral e corporal não são inofensivas, mesmo quando elas estão a serviço de nossos objetivos mais nobres. Apesar de muitas vezes querermos auxiliar os alunos quanto às brincadeiras fora de hora, posturas inadequadas ou até mesmo na correção de atividades, a forma que usamos para tais fins pode apontar para a direção contrária daquela que tanto almejamos: seu desenvolvimento e formação.

É que, naturalmente, carregamos nossa linguagem com juízos de valor que recaem diretamente sobre a personalidade do interlocutor. Explicando melhor: em diversas situações, usamos frases do tipo: “Como você é desatento!” ou “Deixa de ser preguiçoso!”. Ou ainda: “Você é muito bagunceiro! Atrapalhado! Enrolador!”. Percebam quantos rótulos podem ser dados para cada personalidade em construção…

Mas não pensem que os rótulos são somente negativos. Há também outros tantos carregados de orgulho e satisfação, como: “Você é ótimo!” ou “Mas é inteligente, hein?”, e assim por diante…

O fato é que expressões dessa natureza emitem juízos de valor sobre a personalidade de nossos alunos, provocando-lhes sensações das mais diversas, que vão do desconforto ao ódio.

Como chamar a atenção ou elogiar um aluno?

Minha resposta para esta pergunta é simples: descreva o fato, a situação. Expresse sua indignação pelo que o viu fazer ou deixar de fazer, mas não fale sobre sua personalidade. Afinal, o que incomoda são as atitudes e não as pessoas. Assim, ao falar das atitudes, damos espaço para que os pequenos e jovens construam mentalmente boas ou más imagens de si, o que permite e favorece a mudança (ou não) de algumas condutas.

Ao contrário, se o rotulamos, das duas uma: ou se rebelam, imaginando a melhor maneira de se vingar da humilhação sofrida, ou assumem definitivamente para si o rótulo recebido, agindo da mesma maneira repetidas e infinitas vezes. Nosso foco deve ser a preservação do respeito mútuo e, portanto, cabe a nós o exercício de uma nova linguagem: a descritiva, e não a já conhecida valorativa. Sendo assim, ao perceber brincadeiras, barulho excessivo, provocações, será bem mais construtivo para os alunos que lancemos mão da linguagem que acolhe, respeita, limita e permite boas reflexões.

Alguns exemplos de intervenções descritivas

Há muitas maneiras de expressar nossos sentimentos, alertar os alunos, corrigir suas atitudes e, acima de tudo, manter o respeito. Experimente: “Realmente bater papo com o amigo é ótimo, mas agora precisamos terminar a tarefa” ou “Estou vendo que seu espaço de trabalho está bem desorganizado. Precisa de ajuda?” ou ainda “Eu não consigo explicar com alguém falando junto comigo. Podem me ajudar?”.

Novamente, estamos diante de um grande desafio, uma vez que essa certamente não foi a maneira como fomos educados, tanto pela família quanto pela escola. Quantos rótulos foram “grudados” em nós por pais e professores? Sendo os juízos positivos ou negativos, o fato de serem impostos e não construídos por cada um faz toda a diferença.

Uma coisa é você ouvir um comentário do tipo “Como você está gorda!”. Outra bem diferente é: “Uma cor escura ficará melhor em você!”. Essa última fala me permite concluir que realmente preciso perder alguns quilinhos sem querer avançar em ninguém de raiva ou me afogar num balde de sorvete em nome da depressão que esse rótulo causa em qualquer mulher…

Um autor que se dedica a compreender melhor essas questões da linguagem é Haim Ginott (confira algumas sugestões de livros dele ao final do post). São inúmeros os livros dele que podem realmente nos auxiliar, como educadores, e também as famílias frente ao desafio de educar.

Na próxima semana, nosso foco será nos elogios. Como usá-los para que seus efeitos auxiliem na formação de personalidades autônomas?

Vamos lá, compartilhe conosco suas experiências e contribua para as reflexões. Este é nosso espaço de conversa, não se esqueça!

Cumprimentos mineiros e até a próxima segunda!

GINOTT, H.G. Pais e filhos – novas soluções para velhos problemas –  Rio de Janeiro: Bloch, 1989
GINOTT, H.G. Pais e jovens -  Rio de Janeiro: Bloch, 1975.
GINOTT, H.G. O professor e a criança -  Rio de Janeiro: Bloch, 1973