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Como a escola pode ajudar a reduzir o peso da mochila dos alunos

O diálogo é fundamental para que todos façam sua parte

POR:
Ubiratan Leal

Um livro, e outro, e mais outro, e depois um livro de atividades, e mais um caderno, e um segundo caderno, e também a agenda, sem esquecer o casaco porque o tempo pode virar. De volume em volume, a mochila fica cheia, e os alunos levam esse peso nas costas todo dia. Os pais não gostam e questionam se é realmente preciso carregar tanto material.

É um debate já comum e a solução pode partir da escola. Veja os principais pontos que devem ser colocados na conversa com a família e os alunos e discutidos internamente, entre a equipe gestora:

Conscientização do problema

Peso de mochila não costuma ser o tema principal de reuniões de planejamento nem de encontros com pais. Mas não deve ser esquecido. O primeiro passo é fazer com que todos, inclusive professores e funcionários, entendam a importância do assunto. “Mochilas muito pesadas causam uma sobrecarga na coluna vertebral e as crianças e os adolescentes acabam sentido dores devido à má postura”, explica o ortopedista Rogério Vidal Lima, especialista em coluna do Hospital das Clínicas de São Paulo. A reação para compensar e diminuir a dor pode ser desvios da coluna vertebral, como a escoliose. “Existem várias formas de tratamento que levam em conta o grau de desvio da coluna. Elas podem ir desde a observação do paciente até a cirurgia, nos casos mais graves.” O alerta já é motivo suficiente para levar o tema para discussão.

Escolha da mochila

Há alunos que recebem o kit de material escolar já com a mochila da rede pública. Nesse caso, há pouca margem para mudança. Mas, quando a escolha cabe ao aluno e aos pais, a escola pode orientar sobre alguns parâmetros básicos. Especialistas apontam que a carga não pode ultrapassar 10% do peso corporal do estudante, mas não é só isso que deve ser considerado. “Uma mochila grande demais favorece carregar mais peso do que o necessário e atrapalha o caminhar”, comenta Rogério. De acordo com o ele, o conforto oferecido pelas alças e o ajuste delas ao corpo também são importantes. “Mas é sempre bom alertar as crianças e adolescentes que é preciso carregar a mochila com as duas alças nos ombros, para equilibrar o peso no corpo”, acrescenta o ortopedista. Outra possibilidade é a mala de rodinha, que tira o peso das costas. O modelo, no entanto, costuma ser alvo de resistência dos alunos mais velhos, que a consideram “coisa de criança”, além de ser um obstáculo para os que estudam em escolas com pouca acessibilidade, com muitas escadas e sem rampas, por exemplo.

Identificar as limitações estruturais da escola

Em um mundo ideal, os alunos não teriam problema de mochilas pesadas porque não teriam de carregar tanto material. Livros e cadernos ficariam na escola, guardados em armários, e o estudante precisaria levar para casa apenas o que fosse necessário para estudar ou fazer a lição do dia. Mas isso é fora da realidade para a maior parte das escolas públicas, que sofrem com a falta de espaço ou de material. Mesmo nas particulares, com mais capacidade de investimento, os armários ainda são algo pontual. O Colégio Marista Asa Sul, de Brasília, por exemplo, oferece armários para todos os estudantes apenas dos anos iniciais Fundamental I ou alugam de acordo com a demanda das outras etapas.“E, para conscientizar alunos e pais sobre o peso das mochilas, realizamos nos últimos anos um evento semestral para debater o assunto“,conta Ricardo Trimm, psicopedagogo da escola.

Grade horária

A montagem da grade já exige uma engenharia complexa, que considera a disponibilidade do professor, da estrutura da escola e o que faz mais sentido pedagógico. Incluir mais um elemento nessa mistura nem sempre é possível. Ainda assim, nos casos em que houver alguma margem de manobra, montar uma grade com mais aulas duplas reduz a quantidade de disciplinas em um dia – e, consequentemente, de livros e cadernos a serem carregados.

Otimizar o material do dia

Muitos pais questionam a escola sobre a necessidade de se ter tanto material. A resposta nem sempre está na quantidade de volumes utilizados, mas em quantos são exigidos a cada dia. Em disciplinas que têm livro com textos e livro de atividades, o professor pode ser orientado a antecipar o planejamento das aulas ao aluno e avisá-lo quando um dos dois não será utilizado na próxima aula, poupando-o de carregar peso à toa. “Mesmo que isso não resolva totalmente o problema, mostra uma iniciativa da escola em responder ao ‘precisa mesmo carregar tudo isso?’ que ouvimos tanto”, comenta Ricardo, do Colégio Marista Asa Sul.