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Entre. A sala do diretor também é sua

A localização, o mobiliário e mesmo a postura ao atender os pais ajudam o gestor a ter um ambiente organizado e acolhedor

POR:
Ocimara Balmant
Postura calorosa. Foto: Pedro Motta
Postura calorosa Elicéia, de Governador Valadares (MG), faz questão de ser receptiva no atendimento à comunidade

A sala do diretor pode não ser o lugar mais querido (muita gente ainda quer distância!) nem o mais frequentado da escola, mas nem por isso tem menos importância do que os outros. Pelo contrário. Por receber toda a comunidade envolvida no ensino - de pais a alunos, passando por funcionários e professores -, deve ser um ambiente convidativo, que, inclusive, dissipe a imagem autoritária que perdurou por séculos, associada, principalmente, à resolução de conflitos entre alunos.

Fazer com que esse local seja aconchegante não é difícil, porém é preciso estar atento a uma série de fatores, como a localização, a escolha e a disposição dos móveis e objetos e até a postura do gestor. "Desde a forma como cumprimenta até o lugar onde o convidado deve sentar, são informações não verbais que não podem ser ignoradas", diz a psicopedagoga Vera Cyrineu, que trabalhou com formação de gestores em Itapetininga, a 178 quilômetros de São Paulo.

No site e nas páginas das redes sociais de NOVA ESCOLA e de GESTÃO ESCOLAR publicamos durante 30 dias uma enquete perguntando como deve ser a decoração da sala do diretor. No total, 61,5% dos participantes enxergam o local de trabalho como espaço público e, portanto, impessoal, onde devem constar apenas objetos e referências de produção escolar. Os outros 38,5%, entretanto, acreditam tratar-se de área particular, em que o diretor tem liberdade de mobiliar e decorar. Todavia, se levadas em conta as respostas postadas apenas na página do Facebook da GESTÃO ESCOLAR, o resultado muda: 55% dos participantes acham que é uma área particular. Uma opinião que deve ser respeitada, pondera a psicopedagoga Georgia Vassimon, do Grupo de Estudos e Trabalhos Psicodramáticos (Getep), de São Paulo. "Considerar que é privado não implica dizer que o diretor não quer que as pessoas tenham acesso. Não podemos ser rigorosos demais porque faz parte do acolhimento dar pistas do jeito de cada um."

O mais importante, resume Helena de Paulo Albuquerque, professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é ter bom senso. "Uma foto dos filhos facilita a proximidade com alunos e pais mais tímidos, mas nada de símbolos religiosos. A escola é laica e apartidária. Não pode ter santo da mesma forma que não deve pendurar uma foto de Che Guevara na parede" (leia quadro desta página).

O mobiliário ideal vai depender do tamanho da sala, contudo, alguns cuidados são essenciais, principalmente no atendimento à família, explica Vera Cyrineu: "É preciso ter poltronas confortáveis para os pais se sentarem. Fora isso, disponibilizar uma caixa com lenço de papel e um copo com água são gentilezas que dão conforto a uma mãe aflita" (veja infográfico na última página).

Em alguns casos, até sair da própria cadeira é um bom sinalizador. "Há momentos em que o diretor precisa estar atrás da mesa, como no atendimento a um aluno que tenha desrespeitado os colegas. Em outros, é melhor ficar ao lado de quem está falando. A posição dele pode passar a impressão de seriedade e hierarquia ou de apoio e conforto - o que muitos pais precisam", afirma Nazareth Mazzega, formadora de gestores da Comunidade Educativa Cedac, em João Neiva, a 76 quilômetros de Vitória.

Essa é uma prática comum na rotina de Elicéia dos Anjos Paula, que dirige a EMEF Pio XII, em Governador Valadares, a 322 quilômetros de Belo Horizonte. Na sala com uma mesa em formato de L e várias cadeiras, muitos pais a procuram para resolver problemas de indisciplina dos filhos e, não raro, chegam nervosos. "Eu saio do meu assento e vou para perto deles. Às vezes, só essa atitude já os acalma", diz. Além da disposição em ouvir, na construção da nova escola, Elicéia pediu para que seu espaço ficasse próximo à recepção para agilizar o atendimento aos pais.

O catálogo técnico que sistematiza a construção dos edifícios escolares da rede estadual paulista orienta que a diretoria fique entre a secretaria e a parte de vivência dos alunos. Uma forma de o gestor estar acessível à comunidade exterior ao mesmo tempo em que consegue observar o movimento da escola. "Criamos uma dinâmica espacial para que o diretor saiba de tudo o que acontece. Ele precisa ver e ser visto", afirma Pedro Amando de Barros, arquiteto do escritório responsável pela reforma da EE Caetano de Campos, na capital paulista.

Os erros mais comuns

Como evitar que o espaço de trabalho se pareça com a sala de estar de sua casa:

- Símbolos religiosos A Educação brasileira é laica, isto é, não tem formação religiosa. Logo, ainda que você siga alguma fé, não exponha objetos como a Bíblia e o crucifixo, que podem constranger pessoas de outros credos.

- Fotos de família Elas dão um tom pessoal, o que não cabe em um ambiente profissional da escola. Se quiser tê-las, use-as com moderação.

- Bagunça na mesa A papelada passa a impressão de que você é desorganizado e o visitante pode imaginar que o problema dele vai ficar esquecido no meio da confusão.

- Depósito de material É pouco acolhedor ter de interromper uma conversa com um pai para que alguém pegue canetas ou folha de sulfite. Estoque o material de uso diário em outro local.

Disposição de materiais facilita a limpeza e a organização

Arquivo prático. Foto: Marina Piedade
Arquivo prático Gisele, de Jundiaí (SP), deixa decretos, leis e outros documentos importantes sempre à mão

Deixar de forma visível os objetos e papéis mais utilizados agiliza o trabalho do gestor. É o caso, por exemplo, de um mural com cronograma de atividades e de um armário onde seja possível encontrar com rapidez os documentos profissionais (como apostilas de curso de gestão) e aqueles que precisam ser entregues à Secretaria de Educação.

Decretos e leis de uso frequente também devem ficar sempre à mão. Se a escola veta o uso do celular durante as aulas, por exemplo, vale deixar o regimento interno por perto, assim como todos os comunicados da rede de ensino, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Por outro lado, é preciso atenção para não acumular papéis desnecessários. "Tudo que for de secretaria ou papelaria fica no estoque e é administrado por uma funcionária específica", diz Gisele Aparecida Guilhen Muller, da EMEB Prof. Pedro Clarismundo Fornari, em Jundiaí, a 56 quilômetros de São Paulo.

Deixando a sala em ordem, aumenta a chance de a mesa ficar arrumada. "Para conseguir um equilíbrio, Nazareth Mazzega sugere que o gestor fixe um dia para a faxina: "Na sexta-feira, por exemplo, para começar a semana seguinte com tudo organizado."

Quem economiza nos acessórios, além de ganhar tempo na arrumação, também deixa o ambiente com um ar mais profissional. "Tenho apenas um arranjo de flores, que ganhei dos alunos, e a agenda. Não quero muita coisa na mesa porque é um lugar de trabalho, uma área pública", diz Jussara de Luna Batista, que dirige a EEM Almiro da Cruz, em Barbalha, a 551 quilômetros de Fortaleza.

Um espaço funcional

Todos os detalhes para deixar a sala do gestor mais aconchegante

Um espaço funcional. Infografia: Bruno Algarve