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Formação de professores em leitura literária

Projeto desenvolvido pela coordenadora pedagógica vencedora do Prêmio Victor Civita, na categoria Gestor Nota 10, aproxima as crianças da literatura

POR:
Noêmia Lopes
Foto: Kriz Knack
HORA DE ESTUDO A organização da equipe deve variar de acordo com os objetivos pretendidos
Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10

Quando alguém pergunta para Giulia Lopes, aluna do 1º ano da EMEF Professor Odinir Magnani, em Tupã, a 520 quilômetros de São Paulo, se ela tem algum escritor favorito, a garotinha não pensa duas vezes antes de responder com convicção: Ruth Rocha. Giulia conhece vários livros e o estilo da autora e comenta as histórias com os amigos e a família. Seus colegas também são leitores entusiasmados. Uns gostam mais de poesia, e outros, de contos. Todos, porém, apesar da pouca idade, já descobriram o prazer que a literatura proporciona.

Mas nem sempre as coisas foram assim nessa escola. Até recentemente, as crianças não eram incentivadas a ler. As famílias - a maioria de zona rural - têm poucos livros em casa. Na escola, os professores pegavam exemplares na biblioteca para ler para as turmas, mas faziam isso sem um objetivo claro. Muitas vezes, essa tarefa era executada de maneira automática, apenas para preencher a agenda, e sem a consciência de que a leitura em voz alta também é uma atividade didática de grande importância na formação de leitores. Era urgente, portanto, pensar em ações para mudar esse cenário.

Foi o que a coordenadora pedagógica Angélica Arroio Quiqueto de Sousa decidiu fazer. Ao assumir o cargo, em 2008, ela começou a observar o que acontecia em classe nos momentos de leitura. Com base no diagnóstico inicial, percebeu que os professores necessitavam de formação específica para poder formar leitores de verdade. Era preciso que eles lessem com objetivos claros (ter propósitos), fizessem as turmas aprenderem a usufruir as obras, da capa ao posfácio (ensinar procedimentos leitores) e estimulassem atitudes comuns a quem gosta de ler, como fazer indicações literárias e seguir autores (desenvolver os chamados comportamentos leitores).

Nessa época, Angélica participou de um programa de formação oferecido pela Secretaria de Educação do município em parceria com o Instituto Avisa Lá, de São Paulo. Nele, aprendeu como ajudar os professores a agir como bons modelos de leitores e, assim, ensinar as crianças a também se tornarem leitoras (leia mais sobre a trajetória da coordenadora na última página). O próximo passo foi voltar os olhos novamente para as necessidades reais da escola e montar o projeto de formação continuada Uma Escola de Leitores. Focado na leitura em voz alta pelo professor, o trabalho rendeu o título de Gestora Nota 10 no Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10 (veja uma adaptação do projeto vencedor).

Atenção à prática de cada um da equipe e construção de novos conhecimentos

Foto: Kriz Knack
ESTRATÉGIA VALIOSA As observações de sala de aula permitem acompanhar a evolução do trabalho

Entre os 496 trabalhos inscritos na categoria Gestor, o de Angélica se destacou pela preocupação constante em adequar as propostas pré-definidas pelo programa da Secretaria às especificidades da escola e da equipe docente. Para garantir a eficácia dessa adaptação, a coordenadora usou estratégias como observação de sala de aula, devolutivas aos docentes, tematização da prática (discussão teórica sobre atividades desenvolvidas com os alunos), dupla conceitualização (reflexão sobre o objeto de ensino e as condições didáticas para ensiná-lo) e registros reflexivos. "O processo só funciona quando o formador planeja os momentos de trabalho coletivo, fica atento às respostas do grupo e conhece bem cada professor. Angélica tem esses cuidados, por isso fez o grupo questionar antigas práticas e construir novos conhecimentos em equipe", diz Ana Inoue, selecionadora do Prêmio Victor Civita.

Outras ferramentas importantes foram a organização e o planejamento dos encontros pedagógicos. Dependendo do objetivo que queria alcançar, Angélica agrupava os professores de maneiras distintas. Se a meta era que colegas com diferentes conhecimentos trocassem ideias, juntava-os em duplas. Se o propósito era discutir um conteúdo específico, organizava os grupos por disciplina ou série. Em todas as ocasiões, explicava os motivos dessas escolhas.

Todos os professores (inclusive os especialistas, como os de Arte e de Educação Física), a diretora e a vice-diretora se engajaram no projeto e participaram das reuniões. "Mudamos nossa concepção sobre o que é ler em voz alta para os alunos. Antes, não fazíamos isso para despertar o interesse pela literatura nem para refletir sobre as obras. Não dávamos importância às etapas necessárias antes, durante e depois de ler. Hoje, as crianças têm mais familiaridade com os livros e participam ativamente", conta a diretora, Ana Cláudia Miranda Bacchi Gutinieki.

Além dos ganhos na aprendizagem dos alunos, o projeto teve outros desdobramentos importantes. Os professores se apaixonaram pelos livros, pediram que a equipe gestora ampliasse o acervo de obras para adultos e adquirisse tanto as literárias como as específicas para a formação continuada. Hoje, na hora do intervalo, eles trocam sugestões de títulos e opiniões sobre as leituras que fazem. Os pais estão incentivando mais o hábito de ler em casa, ampliando o acervo da família e buscando adquirir bons livros para os filhos. Os funcionários participam de um momento semanal de leitura em voz alta para a escola toda (aberto aos familiares). Com tantos leitores entusiasmados, a ideia é que, com o tempo, todos, independentemente da idade e da função, tomem a frente no auditório e compartilhem com os demais a aventura de embarcar em uma história.

Quem é Angélica Sousa
Referência para a equipe

Foto: Kriz Knack

Angélica Arroio Quiqueto de Sousa tem 36 anos. Fez Magistério no começo dos anos 1990, mas, naquela época, optou por não exercer o ofício de professora e foi trabalhar no comércio, área em que ficou por dez anos. Mudou de opinião quando sua irmã, Adriana Sobhie, insistiu para que cursassem juntas a faculdade de Pedagogia (hoje, Adriana é diretora de Orientação Educacional da rede municipal de Tupã). Em 2006, Angélica chegou à sala de aula e trabalhou com turmas de alfabetização e reforço. Dois anos mais tarde, aceitou o cargo de coordenadora pedagógica que hoje ocupa na EMEF Professor Odinir Magnani. A implantação do projeto sobre leitura de textos literários, entre setembro de 2009 e junho de 2010, ajudou a fortalecer seu papel como formadora. "O trabalho me ensinou a importância de estudar, traçar metas claras e valorizar a formação continuada como espaço de confronto de ideias e de aprendizagem. Assim, pude cumprir minha função e ajudar os professores a melhorar a prática de sala de aula", conta ela. No currículo, a coordenadora tem também dois filhos: Leonardo, 12 anos, e Juliana, 6 - dois leitores apaixonados.

Quer saber mais?

CONTATO
EMEF Professor Odinir Magnani, tel. (14) 3491-3789

BIBLIOGRAFIA
Ler e Escrever na Escola - O Real, o Possível e o Necessário
, Delia Lerner, 128 págs., Ed. Artmed,
tel. 0800-703-3444, 37 reais

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