O olhar atento do diretor
Você acompanha o trabalho pedagógico de todas as classes? Saiba por que isso é tão importante
POR: Paula SatoSe em uma empresa o gestor é responsável por todos os processos de trabalho e precisa se empenhar em conseguir bons resultados, numa escola não é muito diferente. O diretor precisa se preocupar não só com as questõesburocráticas, mas, principalmente, com a parte pedagógica. Afinal, o "lucro" da escola está na aprendizagem dos alunos. E, para ter certeza de que a instituição funciona bem, é essencial circular por todos os espaços, prestando atenção naquilo que Maura Barbosa, coordenadora pedagógica do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac), chama de movimento da escola. "Tudo o que acontece é importante para saber se as condições de aprendizagem estão garantidas." Segundo ela, o diretor está cuidando do lado pedagógico quando se preocupa com a qualidade do ensino, observa e analisa detalhes da rotina escolar. "Se os alunos saem constantemente da sala de aula e demoram a voltar, é indício de que algo não deve estar funcionando bem dentro da classe e isso precisa ser averiguado", diz ela.
Para Angela Mello, coordenadora do curso Gestão para o Sucesso Escolar, da Fundação Lemann, em São Paulo, as questões pedagógicas devem merecer a atenção do diretor principalmente por ele ser um educador. "É fundamental conhecer os fatos que possam atrapalhar o processo de ensino", afirma. Andar pelos corredores e pelo pátio na hora do recreio, conversar com os alunos e com os professores, observar a entrada e a saída dos estudantes, assim como conhecer a maneira de os docentes ensinarem, são atitudes sempre presentes na rotina do gestor atento. No quadro abaixo, você tem um checklist dos pontos mais importantes a serem observados com a finalidade de detectar se as condições para o aprendizado estão garantidas. Dependendo da realidade de sua escola, acrescente outros itens às tabelas e passe a prestar atenção neles.
1. Gestão da aprendizagem
- Acompanha o cronograma de reuniões periódicas dos professores com o coordenador pedagógico?
- Faz reuniões com o coordenador para discutir ensino e a aprendizagem de alunos e professores?
- Elabora e analisa com regularidade as planilhas de acompanhamento dos alunos?
- Organiza um espaço para atender crianças com dificuldades de aprendizagem?
- Oferece na escola atividades para apoio aos alunos com dificuldades?
- Verifica periodicamente a frequência de estudantes, professores e funcionários?
2. Infraestrutura e material pedagógico
- Garante que todos tenham caderno, lápis, livro e os materiais necessários para fazer as atividades?
- Assegura que todas as salas tenham mobiliário suficiente e em boas condições de uso?
- Possibilita que as classes tenham um canto de leitura com materiais e livros de qualidade?
- Providencia espaço, na escola e na sala de aula, para a divulgação das produções dos alunos?
- Investe no acervo da biblioteca, cuidando da qualidade literária dos livros adquiridos?
- Assegura uma merenda de qualidade todos os dias?
3. Organização da sala e produção dos alunos
- Observa se as carteiras estão organizadas de maneira a favorecer a interação entre os alunos?
- Conversa com os estudantes sobre o que eles estão estudando, lendo e produzindo?
- Olha os cadernos das crianças e verifica se eles comunicam o que aprendem?
- Confere se as classes estão organizadas e limpas para receber alunos e professores?
- Observa se os alunos saem muito da classe e em que momento?
4. Interação com a comunidade
- Tem disponibilidade para atender os pais dos alunos?
- Realiza com regularidade reuniões de pais para apresentar a proposta educativa?
- Orienta os familiares no acompanhamento da vida escolar dos filhos?
- Promove reuniões com os funcionários a fim de garantir um ambiente organizado e limpo?
- Preocupa-se com a organização e a higiene dos espaços da escola?
- Observa como os pais e a comunidade são atendidos pelos funcionários?
Na tarefa de gerir a aprendizagem, o diretor pode contar com um auxiliar de peso, que é o coordenador pedagógico. Essa sintonia faz com que as informações sobre os métodos usados pelos professores, o relacionamento desses com as crianças e os jovens e as possíveis dificuldades que o corpo docente tem para ensinar sejam sempre compartilhadas. Ambos devem analisar se os problemas detectados podem ser resolvidos com uma intervenção individual do próprio coordenador, se aquele item específico pode virar um conteúdo de formação para os horários de trabalho coletivo ou se é preciso pensar em cursos de formação oferecidos pela Secretaria de Educação. Quando falta esse membro na equipe, o diretor deve se aproximar ainda mais da sala de aula.
Tendo ou não coordenador pedagógico, é interessante o gestor participar das reuniões de formação e também conversar com os professores para saber o que eles estão ensinando. Nesse contato com a equipe docente, Alexina Vinhola, diretora da EE Caramuru, em São Paulo, teve boas surpresas: descobriu os profissionais que conseguiam os melhores resultados e logo tratou de divulgar suas práticas para colegas de outras unidades. Jucelma Alves Pereira, à frente da EE Ana Amorim, em Pedro Afonso, a 206 quilômetros de Palmas, reúne-se com frequência com os professores para saber de suas dificuldades.
E por que não procurar saber dos próprios alunos o que eles estão aprendendo? A escola que disponibiliza espaços para que as turmas exponham sua produção favorece esse contato direto. Rosana da Silva Kosuge, diretora da EM Rosa Maciel de Oliveira, em Cotia, na Grande São Paulo, olha até os cadernos das crianças de vez em quando. Já Elitânia Silva dos Santos, diretora da EM Carlos Drummond de Andrade, em Parauapebas, a 645 quilômetros de Belém, segue algumas das atividades desenvolvidas pelas turmas (saiba mais sobre a prática dessas quatro diretoras nos textos que acompanham as fotos).
Outra maneira de estreitar a ligação com a parte pedagógica é apontada por Laura Bandoni de Oliveira, coordenadora estadual do Projeto Liderança nas Escolas, em São Paulo - uma parceria entre o Conselho Britânico e o Conselho Nacional de Secretários de Educação. Ela conta que os diretores de escolas britânicas não só acompanham o que se passa nas classes mas também não deixam de ser professores e dar pelo menos uma aula por semana. Para ela, essa interação é essencial para o bom funcionamento da equipe. "O diretor precisa entender a dinâmica da sala de aula para conseguir compreender em detalhes a realidade de sua escola", afirma Laura.
Avaliação e feedback
Jucelma Alves Pereira, da EE Ana Amorim, em Pedro Afonso, Tocantins (à esq. na foto), vive uma situação privilegiada: no estado, uma experiência inovadora colocou um diretor assistente para ajudar na parte administrativa. Assim, o diretor geral tem mais tempo para pensar no pedagógico. Quinzenalmente, ela visita as salas de aula e depois dá um feedback aos professores, como fez com Tereza Craveiro, do 4º ano, e Raimunda Quixadeira, do 1º: "Apontamos os pontos positivos e os que devem ser melhorados".
Valor ao coletivo
Para estar antenada com a escola, Rosana da Silva Kosuge, diretora da EM Rosa Maciel de Oliveira, em Cotia, São Paulo, costuma andar pelos corredores, conversar com os professores e acompanhar o que acontece em sala de aula, dando uma olhada no caderno dos alunos de vez em quando. Assim, ela sabe como as crianças estão aprendendo: "Tanto pais como estudantes sentem que a escola dá valor a cada um deles e os professores também percebem que não estão sozinhos".
Ideias partilhadas
Entrar na sala de aula revelou boas surpresas para Alexina Santáguita Vinhola, da EE Caramuru, em São Paulo. Com o hábito de visitar as classes, ela descobriu que alguns professores eram melhores do que imaginava. Procurou conhecer a fundo os projetos que davam resultado e apresentou-os para colegas diretores num curso de gestão. Com isso, a equipe se sentiu valorizada e motivada a seguir trabalhando. "E eu também ganhei. Não sabia que estava perdendo aulas tão boas", diz Alexina.
Proposta na prática
Antes de passar por cursos de gestão, a diretora Elitânia Silva dos Santos admite que olhava mais para questões administrativas. Agora, na EM Carlos Drummond de Andrade, em Parauapebas, no Pará, é comum vê-la acompanhar atividades desenvolvidas em classe, como leiturae escrita. Ela participa do planejamento das aulas junto com os docentes e a coordenação pedagógica. "Também converso com os alunos para que saibam que a escola está lá para ajudá-los", diz.
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CONTATOS
EE Ana Amorim, R. Constâcio Gomes, 1101, Pedro Afonso, TO, tel. (63) 3466-1895
EE Caramuru, Rua Rego Barros, 501, São Paulo, SP, tel. (11) 2783-2852
EM Carlos Drummond de Andrade, Avenida Santa Rita, 71, Parauapebas, PA, tel. (94) 3346-7270
EM Rosa Maciel de Oliveira, Estrada da Cachoeira, s/nº, Cotia, SP, tel. (11) 4611-2420