“O que pode ter acontecido com esse aluno? No ano passado, quando estava no 6º ano, eu não tinha problemas com ele. Fazia as tarefas e estava conversando muito nas aulas, bastava eu olhar que ele ficava quieto.” Quantas vezes já ouvimos isso dos professores dos anos finais do Ensino Fundamental! Por volta do segundo bimestre do 7º ano, é muito comum que os professores apontem nas atitudes dos alunos com os quais já trabalhavam no ano anterior, diferenças consideradas, na maioria das vezes, negativas. Esse momento coincide com o início da adolescência, no qual se evidenciam os questionamentos e enfrentamentos, característicos e pertinentes ao desenvolvimento. Em outras palavras, a obediência à autoridade e o medo das consequências, típicos da heteronomia e predominantes na infância, começam a diminuir. A necessidade de se firmar como sujeito fortalece a busca pela compreensão: “em nome de que devo fazer isto ou aquilo?”; “por que tem que ser assim ou assado?”, ou seja, a qualidade de raciocínio é superior porque é orientada ao entendimento sobre o princípio que sustenta uma regra, uma escolha ou uma ação.
Outra característica a ser considerada nessa etapa do desenvolvimento é a importância e o fortalecimento da relação entre os pares. A amizade ganha outro status, e, muitas vezes, em nome dos amigos, pode haver distanciamento, resistência e até certa aversão às figuras de autoridade – pais, professores, gestores etc.Isso faz parte do desenvolvimento e merece uma atenção especial, já que os valores até então vividos e construídos, principalmente por meio das relações familiares e escolares, serão ou não legitimados pelos adolescentes no processo de consolidação da personalidade.
Temos, então, um terreno extremamente fértil para realizar um trabalho de valores na escola, que tenha como pressuposto a construção, por meio da autorregulação, internalização e reflexão, de um guia moral, ou seja, deprincípios que orientem as nossas ações. Isso significa vivenciar a moral em atividades específicas para esse fim. O problema é que, muitas vezes, há uma compreensão reducionista sobre as atividades propostas e os educadores acabam lançando mão de uma metodologia discursiva, com tarefas do tipo perguntas e respostas, esvaziando a possibilidade do momento ser moralmente rico.
O que fazer? Como fazer?
Claro que não existem receitas mágicas. Mas já sabemos que o estudo e o conhecimento são os caminhos mais seguros. Por isso, a escola precisa se concentrar no planejamento dessas atividades.
Assim como outros pesquisadores do tema, Josep Maria Puig, professor de Teoria da Educação e coordenador do Grupo de Pesquisas em Educação Moral da Universidade de Barcelona, compara as atividades a serem propostas e desenvolvidas com o aluno àquelas realizadas em uma oficina pelos aprendizes e seus respectivos tutores. O que se requer, nesse caso, é que o aprendiz aprenda fazendo e que tenha uma postura atuante diante de um novo saber que, progressivamente, vai sendo interiorizado.
Levando isso em conta, há a necessidade de implantação de práticas morais, ou seja, atividades sistematizadas utilizadas na resolução de situações moralmente relevantes, que tenhama presença de virtudes e expressão de valores. Mas daí vem o que mais angustia o professor: Como fazer? É preciso considerar que osmeios se vinculam aos fins, isto é, se desejamos a autonomia moral dos alunos, não podemos contar que ela será alcançada pela doutrinação, passividade e simples reprodução de ideias. É preciso, sim, de cooperação, que deve ser entendida como a coordenação de ações no plano mental, com o outro (entre pares).
Mas afinal, quais práticas morais podem ser essas? Com certeza compartilharei algumas delas com vocês. No entanto, por uma questão de respeito ao leitor e à teoria, não seria coerente simplesmente citá-las, precisamos detalhá-las. E isso, fica para o nosso próximo encontro!
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!
Flávia Vivaldi