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Blog Aluno em Foco

Questões sobre orientação educacional, ética e relacionamentos na escola

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Insensibilidade moral: o caso da “lista das vadias”

POR:
Flávia Vivaldi

Foto: Shutterstock

Recentemente fomos surpreendidos por mais uma notícia que denuncia a decadência moral da sociedade: “Meninas abandonam estudos e tentam suicídio após entrar para lista das ‘mais vadias’”. Estarrecedora, não? Percebemos de maneira mais clara a gravidade da situação quando lemos os relatos do drama vivido pelas meninas que figuraram no top 10 das mais rodadas, segundo o critério dos criadores do ranking. Além da humilhação sofrida na escola, as eleitas foram também condenadas por moradores de seus bairros e, pasmem, por alguns companheiros de igreja.

Qual a explicação para tanta perversidade? Não há uma única resposta, mas podemos refletir sobre algumas delas.

Há uma tendência em acreditar que autores de uma crueldade como essa, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos, são pessoas com autoestima baixa – afinal, ao liderar uma ação que toma grandes proporções e, consequentemente, tornam seus autores populares entre os pares e respeitados ou, na verdade, temidos por eles, a autoestima desses sujeitos aumenta consideravelmente. No entanto, mais do que ausência de autoestima, a meu ver, estamos diante da ausência de sensibilidade moral, o queé gravíssimo porque impede a pessoa de sentir empatia pelo próximo. Ou seja, essa ausência ou fragilidade da sensibilidade moral explica a carência de ações morais, fazendo com que os alunos sejam incapazes de impedir e denunciar fatos desmoralizantes e de defender as vítimas ou se solidarizar com elas. Desenvolver e aguçar a sensibilidade moral, nesses tempos de banalização da violência e de busca da fama a qualquer preço, não é simples.

A moralidade humana, como temos repetidamente afirmado, é fruto de uma construção. Da mesma maneira, a autonomia moral, ou seja, a legitimação interna do que é certo, é desenvolvida e favorecida paralelamente ao desenvolvimento da cognição e da afetividade, por meio das diferentes relações interpessoais estabelecidas, seja com a autoridade ou com os pares. Por isso, mais uma vez, o papel da escola é fundamental para a formação dos sujeitos.

As reportagens também mostram que partiu da comunidade algumas atitudes que buscaram acolher as vítimas, bem como promover um debate acerca do tema. Por sua vez, a ação das escolas, das quais as meninas que sofreram tamanha violência moral e psicológica e seus agressores faziam parte,foi restrita à retirada de cartazes que traziam nomes e comentários humilhantes. E é assim que funciona normalmente: por não saber como lidar com uma situação tão delicada e séria a escola se paralisa. Claro que sem intenção, o não fazer nada (ou fazer pouco) gera nas vítimas o desconforto do não acolhimento e a insegurança diante de eventos de intimidação e humilhação. Aos agressores e seus fiéis escudeiros, a percepção é de que a impunidade tanto acoberta quanto valida ações de comprometimento moral.

A Educação moral dos alunos deve contribuir para o exercício da sensibilidade moral – recentemente, dedicamos três posts para compartilhar e esclarecer como o trabalho da escola pode favorecer a construção de personalidades mais justas e respeitosas, adotando sistematicamente práticas morais que possibilitem aos alunos oportunidades de construção da sua autonomia. E fazer essa formação moral das crianças e dos jovens é compromisso das instituições sociais diretamente responsáveis por eles: a família e a escola.  Antes que você, leitor, me pergunte dos casos em que a família além de não educar moralmente é fonte de inspiração para atitudes imorais, eu respondo: aí, colegas, o desafio da escola é ainda maior por ser, talvez, a única possibilidade de apresentar às crianças e jovens uma alternativa para o que chamamos de Educação do “querer moral”.

Há espaços para o exercício da sensibilidade moral em sua escola? Como você o desenvolve? Compartilhe conosco suas experiências.

Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!

Flávia Vivaldi