Às vésperas do início de mais um semestre letivo, me veio à cabeça a seguinte pergunta: “Se eu fosse professora e estivesse voltando das férias para reiniciar as aulas com turmas de adolescentes e jovens, como faria meu primeiro contato?”.
Lembrei o quanto tem feito a diferença para os professores com os quais tenho trabalhado conhecer mais profundamente sobre o desenvolvimento humano: as características de cada etapa, os fatores que favorecem ou comprometem o processo etc. Então, pensei: “Por que não provocar nos alunos o desejo de saber sobre o próprio desenvolvimento e a reflexão sobre as próprias características? Afinal, nada melhor do que o conhecimento para que possamos agir da melhor maneira possível em nossas vidas”.
Minha retomada com os alunos seria realizada na seguinte direção: “Vocês sabem quais são as características de cada etapa do desenvolvimento humano? Será que suas atitudes refletem a etapa em que se encontram?”.
Certamente, os estudantes levantariam algumas hipóteses. Então, eu retomaria minha fala: “Em linhas gerais, é importante saber que todo nosso desenvolvimento está ligado a alguns fatores: a maturação biológica, a interação com as pessoas e com os objetos do mundo e a organização disso internamente.
Quando pequenos, até por volta dos seis anos, nossa percepção do mundo ainda é restrita ao nosso próprio olhar. Acreditamos que a maneira como lidamos com as coisas e com as pessoas é única e que, portanto, todos pensam e sentem de maneira muito parecida com a nossa. É mais ou menos uma visão de que ‘o importante sou eu e o meu umbigo’. E isso é normal nesse período.
Aos poucos, a visão de mundo, antes centrada em nós mesmos, é ampliada. Vamos conseguindo perceber que nem sempre nossas vontades, ideias e ações prevalecem e que há muitas outras possibilidades a ser consideradas. Conhecer e saber lidar com essas possibilidades é sinal que nossa inteligência está se desenvolvendo.
Talvez o que mais represente essa ampliação da inteligência seja o autocontrole sobre as nossas vontades. Na fase do eu e meu umbigo é natural querer ter todas as vontades satisfeitas ou ter uma vontade fraca para fazer aquilo de que não gostamos muito. No entanto, com o tempo passamos a fazer o que deve ser feito, independente daquilo que nós queremos. A inteligência nos permite tomar melhores decisões: entre os alimentos que eu e meu umbigo gostamos de comer é ela que nos ajuda a optar por aquilo que mantém ou melhora a saúde. Ou seja, ela nos ajuda a fortalecer a vontade de fazer o que é importante e necessário para ampliar nosso conhecimento”.
E daí eu terminaria minha intervenção com outra pergunta: “Pois bem, o que vocês escolhem para este semestre: ser comandados pela visão eu e meu umbigo ou controlá-la abrindo cada vez mais espaço para o desenvolvimento da inteligência?”
Minha proposta é que os alunos tenham uma apropriação racional do desenvolvimento que possa auxiliá-los no processo de autorregulação. Com uma pitada de humor podemos, nos momentos de resistência aos compromissos escolares, lançar a pergunta: “Quem está decidindo isso é sua inteligência ou seu umbigo?”. Uma provocação que não fere o respeito mas alerta e estimula a autorregulação.
E você, como está pensando a retomada da convivência com os alunos? Planejou alguma estratégia para incentivá-los às responsabilidades do semestre letivo? Compartilhe conosco. Sua experiência é sempre bem-vinda.
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!
Flávia Vivaldi