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Blog Aluno em Foco

Questões sobre orientação educacional, ética e relacionamentos na escola

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Elogios trazem ou não contribuições para quem os recebe?

O trabalho com o ser humano exige, entre outras coisas, o conhecimento sobre a linguagem mais adequada a ser utilizada nas relações interpessoais

POR:
Flávia Vivaldi
Crédito: Shutterstock

Durante muito tempo acreditou-se que o elogio  era fundamental para a promoção de autoconfiança, segurança e motivação dos alunos, além de favorecer as relações humanas – a mesma crença também era alimentada na Educação dada pelos pais. Constatamos, no entanto, que, apesar dessa prática, ainda temos crianças e adolescentes extremamente inseguros, desestimulados e, muitas vezes, considerados incorrigíveis em relação às atitudes sociais. Somente com esse olhar já poderíamos inferir que, frequentemente, os elogios não provocam os resultados esperados. Mas, para além disso, temos inúmeras pesquisas que investigaram os tipos de elogios e os respectivos efeitos na construção de uma autoimagem positiva. É esse o foco do nosso post.

O trabalho com o ser humano exige, entre outras coisas, o conhecimento sobre a linguagem mais adequada a ser utilizada nas relações interpessoais. Sendo assim, compete a nós, educadores, aprofundar os conhecimentos sobre o tema.  Segundo o psicólogo Haim Ginott (1922-1973), o princípio norteador para uma comunicação construtiva é falar dos fatos, das situações e não das pessoas. Isso significa não emitir julgamentos – positivos ou negativos –, mas sim descrever a ação ou a atitude dando oportunidade de se reconhecer o autor. Complicado? Nem tanto! Na prática o que devemos fazer é substituir nossa já cristalizada linguagem valorativa por uma descritiva. E o desafio está justamente aí, já que fez parte da formação da maioria de nós a prática de emitirmos os mais variados tipos de juízo de valor: “Que lindo!”, “Perfeito!”, “Maravilhoso!” ou “Que feio!”, “Incompleto!”, “Mas é burro, hein!”. Isso sem contar os comentários sarcásticos que ainda estão presentes na fala dos educadores, mas que tanto constrangem os alunos: “Tinha que ser você!” ou “Você é sempre tão lento assim?”.

Uma pesquisa muito interessante realizada pela psicóloga Carol Dweck, professora da Universidade de Columbia, mostra os efeitos gerados pelo uso de diferentes tipos de elogio em dois grupos de estudantes. Na primeira parte da pesquisa, um teste escrito, de fácil resolução, foi aplicado, individualmente. Com ele em mãos, a pesquisadora dava uma nota para o estudante. Para alguns, ela fez elogios referentes à inteligência: “Você deve ser bom nisso!” (elogios valorativos).  Para outros, fez elogios referentes ao esforço, ou seja, por sua atitude frente ao desafio: “Você deve ter se esforçado bastante”  (elogio descritivo). Na segunda parte, os alunos podiam escolher entre um teste mais difícil que o primeiro, mas por meio do qual avançariam na aprendizagem de resolução de problemas, ou um teste que oferecia o mesmo grau de dificuldade que o primeiro, ou seja, que era fácil.

O resultado foi surpreendente! Dos estudantes que foram elogiados descritivamentente, por seu esforço, 90% escolheram o teste mais difícil, o que significa que não se intimidaram frente ao novo desafio. Por outro lado, a maioria dos que foram elogiados de maneira valorativa, pela inteligência, escolheu o teste fácil. E por que isso aconteceu? Explicação: quando elogiamos uma característica da personalidade de uma criança – neste caso foi a inteligência –, de maneira não intencional, estamos dizendo para ela “parecer inteligente” e não se arriscar a errar para não perder esse “status”. Essa perspectiva indica uma crença de que a inteligência é inata e não decorrente de esforço, envolvimento e ação sobre o objeto que se quer conhecer. Entretanto, a eficácia do elogio está em sua especificidade ou, em outras palavras, na possibilidade de esclarecer a quem o recebe os aspectos de sua ação que se destacaram positivamente.

Assim, quem recebe esse tipo de elogio descritivo tem a possibilidade de construir, internamente,  uma imagem verdadeira e positiva  de si, porque, de fato, se sente merecedor e reconhece o elogio como real. Cá entre nós,  quando interpretamos que alguns elogios não nos cabem, nós os descartamos. Com a criança, acontece o mesmo. A sinceridade do elogio é  reconhecida a partir dos 7 anos, quando a intencionalidade começa a ser percebida.

O psicólogo Wulf-Uwe Meyer realizou uma série de estudos em que as crianças viam outros alunos serem elogiados. Os resultados demonstram que, aos 12 anos, os sujeitos acreditam que ganhar um elogio de um docente não significa, necessariamente, que tenham feito alguma coisa de maneira correta – podendo ser, inclusive, um sinal de que não têm capacidade suficiente e o professor considera que precisam de um incentivo extra. Os adolescentes pesquisados descartavam o elogio, pois acreditavam que era a crítica do docente – e não o elogio – que expressava uma atitude positiva do aluno. Nessa perspectiva, um elogio do educador a um estudante pode passar, involuntariamente, a mensagem de que ele chegou ao limite de sua capacidade.

Como, então, garantir que o elogio seja produtivo? 

A resposta está em usar uma regra básica: descrever os esforços e a realização do aluno, assim como os próprios sentimentos frente a isso. “Estou orgulhoso com seu empenho… Sua dedicação trará (ou trouxe) bons resultados… o envolvimento dessa classe inspira meu trabalho”. Percebam que em nenhum dos exemplos houve emissão de juízo de valor, mas, ao contrário, um enfoque na atitude e na postura dos estudantes, validadas por uma expressão de sentimento do professor. Assim, compete ao próprio aluno a avaliação e o julgamento sobre si. Isso faz toda a diferença! Pode acreditar!

E você, como costuma elogiar seus alunos? Já pensou sobre isso?

Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!

Flávia Vivaldi