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Blog Aluno em Foco

Questões sobre orientação educacional, ética e relacionamentos na escola

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O acompanhamento da família: um desafio possível

POR:
Flávia Vivaldi

Equipe gestora do CE Professor José Carlos Pinotti, em Curitiba, faz atendimentos individualizados regulares. Foto: Fabio Augusto

No último post, falamos sobre as sanções por reciprocidade que devem ser usadas no processo de formação do aluno. Tendo em vista os comentários e as perguntas enviadas por colegas leitores, pensei que seria importante nos aprofundar em alguns aspectos e, assim, auxiliar o trabalho da escola. Vamos abordar, então, sobre como alcançar a parceria da família.

Na maioria das vezes, a escola convida (ou convoca) os responsáveis para compartilhar as atitudes do aluno que precisam ser revistas, esperando, com isso, que a família tome uma providência. Mas essa maneira de abordar os comportamentos inadequados nem sempre alcança os resultados desejados. O primeiro obstáculo é conseguir que os pais compareçam ao encontro solicitado. E uma das estratégias para isso é oferecer algumas opções de datas e horários para que o argumento de já ter um compromisso agendado não seja, automaticamente, utilizado. Oferecer a possibilidade de escolher horário apropriado é diferente de dar oportunidade dos responsáveis optarem se comparecerão ou não à reunião. Ou seja, a agenda é negociada, a presença não.

Outra questão é que sabemos que no momento da reunião há uma grande chance do clima de tensão pairar sobre os envolvidos. Portanto, é fundamental que se faça uma fala inicial de acolhimento por meio da qual seja expressa, claramente, a importância do encontro. Também é importante começar a conversa apontando que o objetivo tanto da escola como da família é o mesmo – contribuir para uma formação que contemple o pleno desenvolvimento do ser humano – e que para alcançá-lo é necessário um trabalho compartilhado. Uma abordagem dessa natureza tranquiliza a família em relação a já esperada reclamação ou culpabilização.

Depois disso, vale combinar com os pais que na presença do filho, que deverá ser chamado em seguida, é preciso focar nas atitudes presentes na postura dele, tanto nas positivas como nas que merecem reflexão. Vale destacar a importância dele não se sentir acuado e sim confiante de que não se trata de um território hostil mas, ao contrário, de uma conversa com pessoas comprometidas com sua Educação.

Já na presença do aluno, usando uma linguagem descritiva, é hora de ressaltar os avanços e pedir que ele mesmo aponte o que acha ser preciso mudar. Nesse ponto, aproveite para perguntar como a escola e a família podem ajudá-lo. Não deixe de registrar o compromisso assumido por cada parte, fazer a leitura do documento para todos e avaliar o encontro ouvindo cada um dos envolvidos e perguntando se há algo que gostariam de acrescentar. O contrato está feito. Mas antes dos responsáveis irem embora, já agende a próxima reunião para que, juntos, possam avaliar os resultados alcançados. Os encontros devem ser sistemáticos – quinzenais, de preferência – para favorecer a participação da família e valorizar a escola como instituição.

Ao perceber a parceria no trabalho, o aluno se sente implicado em cumprir o que compete a ele. Isso porque, ao reconhecer o empenho de todos em ajudá-lo, o aluno se sente valor – quando ele tem a oportunidade de se enxergar de maneira positiva –, e experimenta, naturalmente, os sentimentos de vergonha e culpa quando não corresponde ao compromisso que ele próprio assumiu – o que é fundamental para sua formação moral.

Alguns cuidados, porém, precisam ser tomados. Um exemplo é o de nunca chamar o aluno para participar da conversa sem antes preparar o clima com os responsáveis, evitando assim o risco de transformar conversão encontro em um episódio de desrespeito, agressividade ou, até mesmo, violência. Certa vez, cometi o grave erro de chamar o estudante assim que sua mãe chegou paraa reunião solicitada por mim. Vivi um dos piores momentos da minha vida profissional quando, ao entrar na sala, o garoto foi agredido pela mãe no rosto como punição pelo constrangimento de ter sido chamada na escola. Foi uma experiência terrível e hoje tenho plena consciência de que eu poderia ter evitado esse triste fato. Acredito que aquele foi um rascunho mal feito do que, hoje, considero um atendimento adequado.

Fica, então, essa sugestão de protocolo para encontros de acompanhamento familiar, ressaltando que essas orientações devem ser compartilhadas com toda a equipe da escola – diretores, coordenadores, orientadores e docentes. Assim, qualquer profissional que seja convidado a participar de uma reunião como essa saberá como agir. Garantir que a escola fale uma mesma língua é essencial.

O que achou? Acredita que podemos perseverar no objetivo de ter a família como parceira e co-responsável pela formação de nossos alunos e alunas? Sua participação faz a diferença!

Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!

Flávia Vivaldi