Depois de falar das equipes de ajuda e o papel do aluno ajudante no post da semana passada, vamos dar continuidade ao tema da “convivência planejada na escola”. Desta vez, tratando sobre outro protagonista no sistema de apoio da escola: o professor de referência.
É verdade que o papel de referência para os alunos nas questões de convivência já é – ou deveria ser – de todos os docentes, mas aqueles que exercem essa função desenvolvem um trabalho não apenas com os estudantes, mas também com as famílias e com os seus pares.
Para a garotada, ele é um orientador, que deve conhecer as características pessoais dos alunos e as condições sociais e familiares que podem repercutir negativamente nas relações interpessoais e no desempenho acadêmico.
Quanto aos colegas professores, é preciso se manter atento às relações que eles estabelecem levando em conta, principalmente, a diversidade que os estudantes apresentam e se suas práticas pedagógicas condizem com os valores morais que devem estar presentes na escola.
Em relação aos pais, é ele o responsável por fornecer informações sobre os aspectos ligados às atividades docentes, assim como promover o envolvimento e a cooperação educativa das famílias.
Por isso, a qualidade da relação estabelecida pelos professores é um fator determinante na escolha daqueles que são destacados como referência e que, dessa maneira, estarão diretamente envolvidos na formação dos alunos em relação à convivência e à resolução de conflitos. Por essa razão, também, devem ser acolhedores e inspirar atitudes de reciprocidade e cooperação. A existência dessa figura, no entanto, não exime os demais educadores da função de orientador, que é intrínseca à sua atuação e que precisa ser desenvolvida em sua atividade cotidiana.
Para um trabalho dessa natureza ser efetivo e se viabilizar, é preciso promover um marco organizativo favorável para seu desempenho e que se manifesta nos aspectos seguintes:
- Considerando a convivência como uma atividade educativa, é necessário que ela seja panejada e conte com um plano de ação específico.
- Os professores de referência precisam dispor de uma hora semanal para a aula de convivência
- Eles também devem contar com uma hora semanal para atender pais e mães.
- Os docentes de referência precisam de assessoramento para o planejamento e desenvolvimento da função, ou seja, uma formação específica.
O trabalho na prática
Mas e como deve ser a postura do professor de referência na condução das discussões, das reflexões e dos debates?
Vamos a alguns pontos que são importantes de ele ter claro:
- Não conduzir a discussão de maneira com que os alunos cheguem à conclusão que ele considera “satisfatória”.
- Propiciar situações em que os alunos se deparem com diferentes pontos de vista e reflitam sobre eles. Perguntas como “O que deve ser feito?”, “Por quê?”, “Como?”, “Quais são as alternativas possíveis?” e “Quais as consequências de cada alternativa?” colaboram para isso.
- Fazer o papel de “advogado do diabo”, provocando conflitos morais necessários para que a garotada passe de um nível de compreensão para outro.
- Nunca fazer um “fechamento” da discussão, ensinando a moral da história ou emitindo sua própria opinião; os alunos devem formular os seus próprios pontos de vista.
Vale dizer que, além do trabalho sistemático de Educação moral com os alunos, o professor de referência está também diretamente ligado às equipes de ajuda, com as quais, aliás, deve se reunir quinzenalmente. Nesses encontros, ele dará o suporte necessário aos alunos ajudantes, dando devolutivas às dúvidas e inseguranças que possam surgir, tomando conhecimento de quais demandas eles têm atendido e retomando, sempre que preciso, os princípios da mediação.
Como vocês podem perceber, o trabalho exige mais do que simplesmente criar a figura do docente de referência na escola. Antes disso, é preciso entender que a convivência respeitosa é resultado de todo um processo bem planejado e executado para esse fim. Mas podem acreditar: vale muito a pena!
Gostou da sugestão? Sua escola oferece espaço para esse tipo de proposta de trabalho? Deixe seu comentário.
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!
Flávia Vivaldi