A mediação tem sido alvo de estudos em diferentes áreas, em especial na Educação e no Direito. Trata-se de uma prática que ajuda os envolvidos em uma situação de conflito a compreender o problema e a encontrar soluções com a ajuda de uma terceira parte, o mediador. É ele o responsável por facilitar a análise da divergência pelos dois lados, encorajando, durante o processo, a comunicação adequada, de maneira a construir ou reparar relacionamentos pessoais danificados.
A escola que vislumbra a elaboração e a implantação de um plano de convivência precisa,portanto, considerar a dimensão dos conflitos sob o ponto de vista da mediação. Para isso, é interessante formar estudantes para atuar como mediadores junto aos seus pares – uma alternativa ao procedimento tradicional, em que apenas os adultos agem para resolver tensões entre os jovens. Tal formação deve ser oferecida por profissionais especialistas e tratar de temas como:
a) tipos e processos de conflitos;
b) abordagem da mediação;
c) atitudes e habilidades de comunicação (verbal e não-verbal, escuta ativa, imparcialidade, reflexão sobre os sentimentos etc.);
d) características das sessões (diferentes fases, intervenções adequadas e inadequadas etc.)
É importante levar em conta que, como a condução da mediação exige abstrações elaboradas e percepção de diferentes pontos de vista, é mais pertinente delegá-la a alunos mais velhos, preferencialmente dos últimos anos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Além disso, a escolha dos estudantes que atuarão nesse processo deve seguir os mesmos critérios da seleção dos alunos ajudantes, que abordamos neste post aqui: jovens reconhecidos pelos pares – e, neste caso, também pelos professores – como confiáveis, respeitosos e justos. Aliás, os mediadores são integrantes das equipes de ajuda e podem ser indicados pelos seus parceiros, caso atendam às especificidades do “cargo”. Com isso definido, é necessário que a escola divulgue amplamente quem são os mediadores,a função que vão exercer e como os demais alunos poderão solicitar ajuda. Uma das possibilidades é colocar no mural de um local de grande circulação todas essas informações.
Como funciona
Cada sessão é realizada por dois alunos mediadores, depois de ter sido agendada por pelo menos um dos envolvidos no conflito. Após ouvir o relato do problema, os mediadores seguem o protocolo: falam com a outra parte envolvida e a convidam para uma conversa junto com aquele que solicitou a intervenção. É preciso muita atenção e cuidado para que os jovens responsáveis por esse momento não se tornem ou sejam vistos como tiranos – por isso, vale mais uma vez ressaltar, é fundamental que eles passem por um processo de formação.
Alguns estudos espanhóis, que buscaram avaliar a qualidade da mediação realizada por adolescentes, encontraram alguns erros típicos na prática. Entre eles, estão:
- Apontar aos envolvidos o que fazer;
- Doutrinar com discurso moralizante;
- Julgar, criticar, culpar ou avaliar;
- Premiar, concordar ou aprovar;
- Ridicularizar, insultar ou ironizar;
- Relativizar ou dar pouca atenção ao que acontece com uma das partes;
- Desviar do foco do problema;
- Ameaçar ou prever consequências negativas, do tipo “se você não fizer isso…”.
Esses equívocos contrariam os objetivos de promover reflexão e responsabilização de todos os envolvidos no conflito. A restauração das relações só é possível quando as partes se comprometem, sem qualquer tipo de pressão e regulação externa, a mudar as atitudes que provocaram a divergência.
A complexidade e a responsabilidade do papel de mediador explica também a necessidade de, durante o início, a prática ser supervisionada por um adulto conhecedor do tema. É importante que a criação de uma equipe voltada para esse trabalho seja entendida como um projeto de longo prazo, planejado com metas realistas adaptadas para as necessidades da escola. Uma implantação lenta, mas cautelosa, pode ser muito mais eficaz do que um processo rápido e cheio de erros que prejudique fortemente a ideia da mediação.
Mais uma vez, destaco a relevância do estudo e do aprofundamento teórico para que a convivência na escola não seja planejada de maneira “caseira e artesanal”. Gosto de lembrar que, como educadores, somos eternos pesquisadores.
Nas últimas semanas falamos sobre os alunos ajudantes, o professor de referência e os alunos mediadores. Já temos, assim, alguns dos principais protagonistas de uma rede de apoio para planejar a convivência na escola. Portanto, mãos a obra!
E, claro, não deixe de compartilhar conosco suas dúvidas e suas experiências.
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!
Flávia Vivaldi