Tive a oportunidade de participar como jurada da seleção do concurso de redação anual da EPTV, afiliada da TV Globo no interior de São Paulo e no sul de Minas. O tema deste ano foi “A Educação que temos é a educação que deveríamos ter?”. Nesta semana, entreguei à comissão organizadora as dez que selecionei para a classificação final.
Li uma centena de trabalhos e gostaria de cumprimentar todos os alunos e professores que se envolveram nos debates, nas pesquisas e nas reflexões que foram expressas em riquíssimas produções. Fica muito claro para quem lê que cada um dos textos foi fruto de argumentos e informações compartilhadas nas mais diversas salas de aula.
Mas a leitura também me provocou um misto de sentimentos e inúmeras reflexões. Enxergar a Educação pelo olhar dos alunos me fez sentir tristeza e orgulho; decepção e esperança; desânimo e renovação. Por estarmos na semana de comemoração do Dia das Crianças e do Professor, gostaria de compartilhar isso com vocês!
Antes de tudo, é preciso dizer que havia por parte dos estudantes uma surpreendente sensatez e clareza em relação ao cenário educacional do nosso país. Mas com tristeza, reconheci nos trabalhos o quanto as expectativas deles são esmagadas pela configuração de uma Educação ainda transmissiva, carregada em teorias que, embora necessárias, não são relacionadas à realidade e à prática. Isso tem gerado entre os alunos a sensação de que o estudo não tem sentido, nem significado. Ao mesmo tempo, a competência de escrita, demonstrada nos mais diferentes estilos, alimentou meu orgulho pela escolha dessa profissão. Afinal, é pelas mãos do professor que esses jovens construíram uma escrita segura, argumentativa e variada.
Minha decepção se deu ao constatar que ainda são encontradas práticas e posturas dos educadores que temos insistentemente combatido: autoritarismo, verbalismo e distanciamento. Ao mesmo tempo, o olhar de reconhecimento e respeito dos estudantes por essas pessoas que aceitam o desafio e escolhem a Educação como área de atuação me encheu de esperança. Há sim admiração pelo professor. Há sim respeito pela profissão. E, portanto, motivação suficiente para continuarmos a investir na qualificação docente.
A sensação de desânimo surgiu pela reincidência com que apareceram aspectos negativos e contrários à Educação que vislumbramos. Por outro lado, renovou minha energia perceber que os discursos de que a Educação deve ser prioridade no nosso país provocam nos jovens uma enorme criticidade. Eles têm consciência da precarização do sistema educacional e reconhecem os paradoxos que acompanham teoria e prática, entre eles a inadequação das estruturas físicas e a inconsistência dos meios utilizados para alcançar os objetivos almejados. Diferente do que diz o senso comum, os alunos não são alienados. Se passarmos a escutá-los certamente teremos muito material para transformar nossa realidade educacional.
É com esse sentimento de renovação que estendo meus cumprimentos mineiros a todos que escolheram e construíram a Educação como valor!
Até a próxima sexta-feira!
Flávia Vivaldi