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Blog Aluno em Foco

Questões sobre orientação educacional, ética e relacionamentos na escola

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A importância de avaliar a convivência nas escolas

POR:
Flávia Vivaldi

Foto: Shutterstock

Já na reta final do ano letivo, além das avaliações referentes ao desempenho acadêmico dos alunos, torna-se também imprescindível uma análise coletiva sobre o trabalho de convivência realizado pela escola. Nesse processo, talvez o primeiro – e maior – desafio seja a escolha de instrumentos que possam mensurá-lo. Mas, acredite, há bons caminhos!

Ao longo desse ano, como parte de uma pesquisa maior sobre o clima escolar nas escolas, tive o prazer de desenvolver junto à EM Violeta Dória Lins, em Campinas, um programa de intervenção com o objetivo de promover uma convivência respeitosa em sala de aula cotidianamente.Neste post, compartilho com vocês como foi este trabalho e qual a análise que fizemos sobre o que foi desenvolvido até agora.

Iniciamos o trabalho ainda no final de 2014, após a instituição manifestar um desejo espontâneo de trabalhar essa questão. O primeiro passo foi realizar o diagnóstico do clima escolar. Para tanto, foram enviados questionários aos professores, gestores e alunos que cursavam a partir do 7º ano, parra conhecer a percepção de cada grupo quanto às diversas dimensões da escola. Entre elas: o trabalho com o conhecimento; relações sociais e conflitos; regras, sanções e segurança; situações de intimidação e bullying; família, escola e comunidade; infraestrutura e rede física; relações com o trabalho; e gestão e participação (sendo estas duas últimas restritas para a avaliação dos educadores). Nos três tipos de questionário, além de perguntas específicas para aquele grupo, também havia itens de relação, ou seja, questões que aparecem em todos e permitem a identificação das percepções sobre um mesmo assunto que convergem ou divergem. Depois disso, juntamente com a equipe – professores, funcionários e gestores –, fizemos a análise dos resultados obtidos.

A próxima etapa foi planejar a formação semanal com base nas características apontadas no diagnóstico, assim como na literatura nacional e internacional sobre o desenvolvimento de personalidades éticas e convivência moral nas escolas. Paralelo a esses encontros, a instituição criou uma nova disciplina, específica para o trabalho da moral e da convivência. Com isso, os professores de referência puderam implementar espaços sistemáticos de participação dos alunos, por meio de diálogos, debates e autoconhecimento. Para esses docentes, além da formação geral, tivemos encontros quinzenais de estudos e planejamento das atividades. Foram momentos muito especiais, no qual compartilhamos as atitudes e os depoimentos dos estudantes obtidos durante as aulas. Quantos avanços! Houve muita reflexão e tomadas de consciência acerca de questões presentes no dia a dia, como o tipo de linguagem utilizada, a falta da escuta etc., que tanto podem influenciar na qualidade das relações.

A implantação das equipes de ajuda para o trabalho de acolhimento e auxílio na resolução de conflitos entre pares, realizada no segundo semestre, fortaleceu ainda mais a proposta de promover um ambiente favorável a todos. Já em novembro, aplicamos novamente os questionários – agora na versão online – e estamos muito ansiosos para conhecer os resultados. Antecipadamente, sabemos que muitas mudanças ainda serão necessárias, já que o trabalho desenvolvido potencializou o olhar crítico e participativo de toda a comunidade. E está aqui o maior avanço que poderíamos desejar!

Como pesquisadora, no papel de formadora daquele grupo, tive a oportunidade de encerrar as atividades do ano participando de uma reunião do Conselho de Escola e da Comissão Própria de Avaliação (CPA), cujo objetivo central foi o de reformular algumas regras até então presentes na escola. Ouvir dos representantes dos alunos do 3º ano ao 5º ano, dos professores, dos funcionários e da equipe gestora argumentos pautados nos princípios morais eleitos pela própria comunidade escolar como importantes – justiça, respeito, tolerância e perseverança –, me trouxe a sensação indescritível de orgulho e otimismo por uma Educação cidadã. Guardando as devidas proporções, é como se eu estivesse participando da “derrubada do muro de Berlim”. Algumas regras até então em vigor, de fato, traziam a percepção de aprisionamento e direitos violados.

Não caberia aqui detalhar a riqueza de experiências que vivemos junto à escola, mas é importante ressaltar o envolvimento da equipe nos estudos, o compromisso com a melhoria da convivência, a responsabilidade e humildade de reconhecer a ineficácia de algumas práticas já consolidadas e o engajamento dos profissionais em (re)construir um repertório teórico que favorecesse e possibilitasse o trabalho da convivência respeitosa.

Avaliar a convivência inclui momentos de ressignificação de posturas, princípios e caminhos. Ainda que não tenhamos os dados quantitativos da segunda etapa do questionário, os dados qualitativos são visíveis e significativos. Seguramente, em 2016, para aquela instituição a convivência já é um valor.

E você, como avalia o trabalho de convivência na sua escola? Conhece e aplica instrumentos para esse fim?

Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!

Flávia Vivaldi