Caros educadores, há muito tempo que me acostumei a fazer um exercício mental antes de iniciar meu ano de trabalho, colocando foco nas minhas metas profissionais. Penso e elejo alguns desafios a serem superados. A ideia é ter clareza sobre o grau de dificuldade daquilo que escolhi e traçar metas possíveis de serem realizadas. Um desafio que, certamente, estará na lista de começo de ano de muitos educadores é “trabalhar a e com a inclusão”.
É discutindo sobre esse tema que vamos estrear os nossos encontros de 2016. Embora a Lei nº 7.853, que prevê que todas as escolas devem aceitar matrículas de alunos com deficiência, tenha sido regulamentada em 1989, sabemos o quanto tem sido desafiador para as instituições promoverem, de fato, a inclusão desses estudantes. Os esforços nesse sentido são inquestionáveis, mas as dificuldades são inúmeras: desde adequar a infraestrutura até realizar a formação dos educadores para atender a todas as necessidades. Não podemos, no entanto, nos conformar em oferecer o mínimo necessário. A inclusão social vai mais além do que tornar possível e confortável a presença física da deficiência:é promover situações que favoreçam a interação e o desenvolvimento de todos os alunos.
A última matéria de capa da revista Nova Escola (ed. 288 – dez./2015, disponível para assinantes em http://abr.ai/1RKmL88) fala, justamente, sobre a importância de se construir uma rede de apoio que atue conjuntamente para que a inclusão, de fato, aconteça. E, nós, orientadores educacionais, somos peça fundamental na articulação de todos os atores e na formação dos professores e demais membros da comunidade escolar, que, insistentemente recorrem ao fato, verídico, de não terem sido preparados para trabalhar com as diversas deficiências.
Por isso, devemos iniciar uma reflexão que envolva todos os profissionais que atuam na escola. Também precisamos ajudar a coordenação pedagógica a organizar um plano de formação e participar dos encontros formativos com os docentes. Um dos pontos fundamentais desse processo, e que fortalecem o respeito mútuo, um dos princípios da Educação inclusiva, é mostrar a todos que não é preciso apenas conhecer o diagnóstico do aluno, mas saber sobre a deficiência em questão. Os relatórios e laudos médicos, em geral, se restringem a mostrar o que o sujeito não consegue fazer. Mas se deve ir além e conhecer as potencialidades – e elas sempre existem – para que se possa trabalhar no sentido de desenvolvê-las.
Tudo isso é fundamental para que a orientação elabore um repertório metodológico que inclua o aluno com deficiência no processo de desenvolvimento. E ele deve levar em conta estratégias que permitam aos professores reconhecer as capacidades (físicas e cognitivas) do estudante. Isso permitirá a criação de uma rede de apoio mais forte e coesa, uma vez que os docentes poderão atuar para que o educador responsável pelo atendimento educacional especializado (AEE) não seja apenas aquele que elabora pequenas tarefas para que a criança não atrapalhe a aula dos demais, mas que não se relacionam ao processo de ensino e aprendizagem. Trabalhar de maneira articulada e com base em uma concepção que leve em conta a autoria desses alunos é fundamental.
No ano passado, conheci o trabalho de um professor de Ensino Religioso que atuava no 9º ano e tinha um aluno diagnosticado com a Síndrome do X Frágil, que apresentava comprometimento motor e intelectual e comportamento característico do espectro autista. Percebendo o interesse do garoto pelo programa de TV “Chaves”, o docente levou para a classe a história que teria inspirado o criador do personagem: a do filósofo Diógenes, o Cínico (412 – 323 a.C), conhecido por morar em um barril. Focando nessa característica e valorizando as informações que o estudante dava sobre a vida do Chaves, a turma debateu, entre outros temas, o consumismo e os valores materiais e não materiais. O exercício do professor foi se colocar no lugar do outro para que pudesse entender o que poderia ser motivador e desafiador para o aluno, de maneira que sua presença e participação em aula não fosse apenas “café com leite”.
Uma sugestão, portanto, é que orientadores e professores compartilhem o conhecimento científico sobre a deficiência – e não sobre o laudo – com a turma e abram espaço para que todos imaginem a si próprios nas adversidades – uma prática efetiva de exercitar a empatia. Vale também convidar e desafiar os pares e as turmas para elaborarem propostas para a efetiva participação dos alunos com deficiência. É impressionante como a criatividade da garotada pode auxiliar a equipe pedagógica e docente na construção de um currículo inclusivo.
Agora é sua vez: conte-nos como tem sido seu trabalho com a inclusão. Quais estratégias você pode compartilhar conosco? Sua contribuição é sempre muito bem vinda!
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta-feira!
Flávia Vivaldi