Todos os dias, às 4h30 da manhã, Maria Eduarda acorda e se prepara para mais um dia de aula. O ônibus escolar passa para pegá-la às 5h20, iniciando uma viagem de 47 km até a escola. O transporte ainda faz paradas entre um sítio e outro para transportar os demais companheiros.
Faz menos de um mês que essa aventura matinal passou a fazer parte da rotina de Maria Eduarda. Ela tem seis anos de idade e está no 1º ano. Fico imaginando a menina levantando de sua cama, sonolenta, esfregando os seus olhinhos castanhos e penteando os seus cabelos longos e lisos. E aí me pergunto: quantas “Marias Eduardas” levantam tão cedo para usufruir do seu direito de estar na escola?
Só na escola que administro, 38 alunos do período da manhã e 12 do período da tarde chegam todos os dias da zona rural. Compartilham o transporte com as demais escolas no município de Itapetininga (SP).
E o que isso significa? Que esses alunos chegam muito cedo ou muito tarde em suas escolas, promovendo uma preocupação em como recepcioná-los e quem pode acolhê-los.
Essa necessidade nos levou a reestruturar os horários da escola. Me reuni com os auxiliares de Educação (monitores) e merendeiras e organizamos um novo esquema de horários para receber esses alunos, visto que o problema se concentrava no período da manhã, já que chegam muito cedo à escola sem o acompanhamento de seus pais.
Passamos a escalar uma merendeira e um auxiliar de Educação que semanalmente revezam entre seus pares para que abram a escola às 6h15. O auxiliar de Educação aguarda os alunos chegarem e os recolhe para o refeitório, onde o café da manhã é servido às 6h45 para todos os alunos, inclusive os que são moradores do bairro. Durante o café outro auxiliar de educação chega para ajudar o colega que entrou mais cedo.
Após o café, já com os alunos na sala de aula, os auxiliares de Educação contam os alunos que entraram no período e preparam uma lista com os nomes dos que vieram da zona rural. Na hora da saída, essa lista deve ser conferida e assinada pelo motorista responsável do dia.
No final do período, antes do ônibus escolar chegar, separamos os alunos da zona rural dos demais. Procuramos retirá-los da sala de aula 10 minutos antes dos colegas para controlar melhor a saída dos alunos. Afinal, é nesse período que o fluxo de alunos aumenta consideravelmente.
O auxiliar de Educação responsável na semana acompanha os alunos até o ônibus e os entrega para a monitora do transporte. Ela foi contratada recentemente pela empresa de transporte escolar, o que acalmou as muitas queixas apresentadas pelos pais quanto à segurança de seus filhos. Antes, só se contava com a figura do motorista para organizar os alunos durante a viagem.
Parece que a nossa responsabilidade não tem fim, não é mesmo? Ela se estende de uma forma fenomenal que nos assusta. Mas é bom lembrar: não fazemos a escola sozinhos! Refletir sobre as ações já é o começo para as possíveis mudanças, portanto tomem as decisões conjuntamente, seja com a equipe ou com a comunidade escolar.
E você, diretor ou diretora, recebe alunos da zona rural em sua escola? Como você organiza essa recepção?
Um grande abraço, Sonia Abreu