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Assim não dá! Ocupar aulas com ação social

Para não prejudicar o desenvolvimento dos planos de ensino, é importante concentrar as atividades extraclasse no contraturno

POR:
Karina Padial
Para não prejudicar o desenvolvimento dos planos de ensino, é importante concentrar as atividades extraclasse no contraturno. Ilustração: Andre Rocha

Cursos de informática para os pais, fabricação de produtos de limpeza para a comunidade, campanha para adoção de animais abandonados, arrecadação de alimentos... Ações desse tipo, que integram o objetivo de ensinar e vivenciar valores, têm ganhado cada vez mais espaço nas escolas. Os benefícios sociais que elas geram, se forem bem planejadas, são inegáveis e levam ao envolvimento de muitos estudantes. Porém, se os projetos não estiverem vinculados à proposta pedagógica, não devem acontecer no período dedicado às disciplinas regulares.

Boa parte da justificativa para esse cuidado está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). O artigo 24 determina que "a carga horária mínima anual será de 800 horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias de efetivo trabalho escolar". Isso significa que, se realizadas no turno das aulas, as ações voluntárias reduzem esse tempo.

Maristela Zamoner, mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), observou uma classe do 3º ano do Ensino Médio para analisar como as interrupções afetam o dia a dia na classe. O resultado está no artigo Gestão do Tempo Escolar, que revela que dos 37 momentos acompanhados, 91,9% foram paralisados uma ou mais vezes por questões extraclasse, como informes de alunos e professores de outras séries, convocações da equipe gestora e venda de produtos. "Esses períodos representavam uma média de 22,3% do tempo de cada aula. No fim do ano, isso gerou uma perda de 44,6 dias letivos", afirma a pesquisadora.

No livro Professores - Imagens do Futuro Presente (95 págs., Ed. Educa), o educador português António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, diz que "o pior que podemos fazer às crianças é deixá-las sair da escola sem uma verdadeira aprendizagem, centrada na valorização da arte, da ciência e da cultura". Por isso, o ideal é que os projetos sociais sejam realizados no contraturno ou nos fins de semana. "Assim, ensina-se sobre respeito, solidariedade e cooperação ao mesmo tempo que a aprendizagem e a continuidade das atividades desenvolvidas em sala são asseguradas", ressalta Maura Barbosa, consultora de GESTÃO ESCOLAR.

Na EEB Professora Elza Mancelos de Moura, em Guarujá do Sul, a 697 quilômetros de Florianópolis, o projeto Rio das Flores, que conquistou o 2º lugar no Prêmio Escola Voluntária em 2010 e tem como objetivo revitalizar o curso d´água que lhe dá nome, é realizado nos horários em que os estudantes não têm aula e a participação é espontânea. Os alunos se encontram uma vez por semana - ora para fazer a limpeza do rio, ora para conscientizar os moradores do entorno. "Algumas ações foram realizadas no fim de semana para que o contato com a comunidade fosse maior, mas nunca no horário regular. Essa é uma atividade extraclasse e, por isso, não vale nota", conta a diretora, Adriani Kaiber Straub.

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