“Espelho, espelho meu, existe um alimento mais gostoso que o meu?”. A adaptação da frase da famosa madrasta da história de Branca de Neve e os Sete Anões, exposta na mostra cultural do Colégio Guilherme Dumont Villares (GDV), em São Paulo, é apenas um exemplo de como a escola conseguiu atrair a atenção dos alunos da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental para a importância da alimentação saudável. Essa é uma necessidade temática no currículo do Brasil, uma vez que a geração do fast food e a obesidade infantil crescem a cada dia. A Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que, em 20 anos, os casos de obesidade mais do que quadruplicaram entre crianças de 5 a 9 anos.
Com base em um planejamento coletivo, unindo várias áreas do conhecimento e seus professores, a contação de histórias com foco nos alimentos que eram citados nelas garantiu o encantamento dos pequenos pelo tema. Além da maçã da Branca de Neve, as turmas estudaram como seria uma cesta de frutas saborosa, diversificada e bem colorida para a vovó da Chapeuzinho Vermelho e se inspiraram em João e o Pé de Feijão para montar um jogo sobre o passo a passo de um plantio e a adubação para garantir o solo saudável.
A análise de obras do artista Giuseppe Arcimboldo (1527-1593), pintor italiano, autor da famosa série “As quatro estações” com frutas, verduras e flores compondo fisionomias humanas, deu o impulso para um conjunto de atividades integrando as várias disciplinas. Os alunos estudaram “De onde vem cada alimento” e “Como ele é produzido” para depois experimentar o plantio em diferentes épocas do ano, comparando os resultados. A investigação foi registrada usando desenhos com títulos como: “Eu plantei no mês xxx (inverno) e ficou assim…”.
Ao percorrer, na mostra cultural, a pequena estufa de plantas para a alimentação e a aromaterapia e ver o registro comparativo dos alunos, achei incrível como não é preciso sofisticação para tirar do papel o que pode ser praticado no dia a dia desta importante fase de formação que é a infância. Para envolver os pais e demais visitantes, havia jogos de tabuleiro gigantes e atividades como “Você sabia que?” sobre os temas pesquisados.
O Ano Internacional da Agricultura Familiar, proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi adotado transversalmente em todas as disciplinas nas outras faixas etárias atendidas pela escola. Inspirou, por exemplo, o estudo na Língua Portuguesa das palavras do dialeto caipira. Maquetes retrataram as diferentes formas de uso responsável do solo e da água para abordar a prática da agricultura sustentável e mais saudável. E uma árvore foi montada com folhas ilustradas com as fotos da diversidade dos alunos da escola, representando a sociodiversidade brasileira e seu reflexo na culinária.
Saí da mostra cultural encantada e muito inspirada, tocada pela folha que escolhi de uma outra árvore, a “Seeds of Hope” (sementes da esperança), repleta de mensagens dos alunos escritas em inglês após o uso dessa disciplina para trabalhar o sonho da juventude para o planeta Terra.
O mais significativo foi ver algo tão concreto na Educação pela sustentabilidade feito com materiais de baixo custo e, portanto, acessível para todas as escolas. O que prevaleceu em todos os projetos foi um bom planejamento e o compromisso de toda a comunidade escolar, com uma dose extra de criatividade.
Precisamos colher cada boa história de sucesso na Educação, nos vários cantos do Brasil, e transformá-las em alimento para quem precisa de inspiração. Se você tem uma experiência assim para contar, escreva para a gente!
Uma ótima semana.
Andrée