Olá,
No post da semana passada, comecei a falar sobre minha experiência no Fórum Social Mundial, na Tunísia. De volta ao Brasil, quero expressar minha alegria por ter retornado com mais força, coragem e uma grande bagagem de aprendizados para continuar a fazer a diferença pelo nosso país. Pude constatar que, apesar de todas as dificuldades, somos ainda muito favorecidos em comparação a tudo que vi e vivi por lá.
Ao conhecer pessoas e culturas de várias partes do mundo, ouvi histórias e lutas de classes e minorias por seus direitos e por dignidade. Observei como ainda existe muito sofrimento, especialmente de mulheres, jovens e crianças, originado de preconceitos religiosos, culturais, de gênero e da pobreza. Pude participar ativamente de alguns painéis e mesas-redondas e compartilho agora alguns aprendizados e discussões relevantes ligados à temática do nosso blog.
Soluções para a água
Um dos painéis mais concorridos no contexto da sustentabilidade foi promovido pela instituição “Eau Ile de France”, uma espécie de Agência das Águas na França, que discutiu, durante três dias, a relação direta entre a água e as mudanças climáticas no mundo. Segundo o cientista eslovaco, pesquisador e autor do livro Water for the Recovery Climate, Michal Kravcik, estamos afetando seriamente o clima por não compreender a função do ciclo da água nos pequenos ecossistemas e a necessidade de sua manutenção natural.
Para Michal, a água deve, sempre que possível, ser renovada e retornar ao seu ciclo. Isso vale para a que cai com a chuva, a que infiltra no solo ou é absorvida pelas árvores e, portanto, não devem ser perdidas pela impermeabilização excessiva nas cidades (asfalto) e a ausência das matas ciliares. Ele destacou as intervenções humanas que podem melhorar essa situação por meio de tecnologias sustentáveis como o reuso do líquido tratado para diversos fins de limpeza urbana e a adoção de telhados verdes.
Neste painel também foi discutida a importância da agroecologia (cultivo de espécies agrícolas e alimentos com florestas e priorizando a agricultura orgânica) e o uso adequado do solo, evitando o desgaste e o assoreamento dos rios. Pude participar do debate contando os avanços do Brasil nessas boas práticas, nas políticas públicas e na existência de várias ONGs que atuam em prol das águas, uma vez que ainda ouvimos, nesta ocasião, equívocos dos estrangeiros sobre o nosso país. Lembrei a todos da dimensão do nosso território e do desafio de 145 milhões de brasileiros dependerem das áreas de Mata Atlântica que sobraram (8% do original) e dos seus mananciais que sofrem diariamente os impactos do crescimento das cidades.
O papel da Educação
A Casa Brasil abrigou dois importantes painéis ligados à Educação. O primeiro tratou dos desafios da Educação de Jovens e Adultos (EJA), como fator de inclusão social, melhoria de condições de vida e de acesso ao conhecimento. No segundo, aconteceu o 4º Fórum Mundial de Mídias Livres, sobre a “Sociedade Civil e os Sistemas de Comunicação”, cuja discussão girou em torno da democratização e do acesso aos meios de comunicação de forma gratuita e inclusiva, em todos os níveis da sociedade, especialmente aqueles visando criar espaços informativos, educativos e críticos com temáticas relevantes, como é o caso do nosso blog.
Em ambos os casos, eu apresentei nos debates a importância de investir em larga escala na Educação dos brasileiros, tendo como princípio uma visão socioambiental. Ou seja, aquela construída com base em cenários e realidades locais, pois não há como dissociar questões sociais das ambientais no chamado “mundo possível” que todos no Fórum Social Mundial buscaram como sonho comum. Pela reação do público, percebi que esta associação ainda não é tão tranquila e simples para a maioria, mas creio que estamos avançando pouco a pouco.
Força feminina
Para terminar, deixo aqui uma homenagem especial a todas as mulheres que eu conheci no evento. Líderes comunitárias, educadoras, ativistas e tantas outras que estão conquistando espaços e direitos e transformando suas realidades com uma sensibilidade e perseverança incríveis. Em especial, as integrantes da Associação das Mulheres da Área Rural da Tunísia que me concederam uma entrevista sobre o trabalho da ONG que fundaram e que apoia as mulheres a retomarem sua autoestima, desenvolvendo habilidades para criar produtos da agricultura natural e do artesanato.
Até segunda que vem, já com saudades de Túnis!
Andrée