Olá,
O jornalista Wellington Soares, da equipe de NOVA ESCOLA e GESTÃO ESCOLAR, conversou com Maria Alice Setubal, que lançou recentemente o livro Educação e Sustentabilidade – Princípios e Valores para a Formação de Educadores. Maria Alice é doutora em Psicologia da Educação, presidente da Fundação Tide Setubal e dirige o Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). Na entrevista que você confere a seguir, ela comenta o processo de elaboração do livro e destaca os principais aspectos que precisam ser debatidos para integrar o conceito de sustentabilidade à Educação.
Qual o objetivo do livro?
MARIA ALICE SETUBAL Queria desmistificar o tema, que virou moda. Todo mundo fala sobre ele, mas ninguém sabe exatamente o que é. Por isso, apresentamos as várias dimensões do conceito: ambiental, social, cultural, econômico e político.
Como foi o trabalho de elaboração do livro?
MARIA ALICE O material vem de rodas de conversas com especialistas realizadas em 2014 e também a partir da observação de experiências no bairro de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo. O contato com essas ações foi importante para que a discussão teórica dialogasse com as diferentes práticas educativas que já acontecem nas escolas. Fizemos em torno de 40 entrevistas com esses atores que estão no território. Foi dessas fontes que veio o material que embasa o livro. Como resultado, há no livro as diferentes vozes, quem está na escola, quem é da comunidade, jovens participantes de grupos, professores teóricos internacionais…
Qual o papel das escolas nas discussões sobre sustentabilidade?
MARIA ALICE O conceito, em todas as suas dimensões, precisa se relacionar de maneira interdisciplinar com o ambiente educacional. Isso passa pelas práticas para pensar o meio-ambiente – por exemplo no descarte de resíduos – , mas também requer um novo olhar sobre o currículo, sobre a formação dos professores e sobre a relação entre a escola e o meio em que ela está envolvida. A sustentabilidade é um conceito para pensar a Educação para a frente, para o século 21, isso quer dizer que pensar a sustentabilidade é refletir não só nos problemas que tivemos, mas também como se faz o elo entre passado, presente e futuro.
Em muitas escolas, a sustentabilidade entra quase como um tópico. Essa é a abordagem que você defende?
MARIA ALICE Não. O conceito de sustentabilidade não se relaciona com um assunto da Biologia, ou da Geografia. É algo muito maior. Ele nos obriga a pensar como cada um de nós – em especial as crianças e os jovens – se relacionam com o meio ambiente, como a escola se relaciona com seu entorno e assim por diante. As várias dimensões da sustentabilidade podem ser trabalhadas em diversas disciplinas e de forma transdisciplinar também. O que é essencial é pensar a relação da instituição com o que está ao seu redor. Muitas vezes quando o tema é discutido, vejo que professores discutem questões como a preservação da floresta amazônica – que é um tema importante – mas não relaciona esse tópico com outros que estão acontecendo ali na porta da escola, como falta d’água ou um esgoto a céu aberto.
Educação e Sustentabilidade – Princípios e Valores para a Formação de Educadores, Maria Alice Setubal, 192 págs., Ed. Peirópolis, tel. (11) 3816-0699, 42,20 reais.
