Recentemente, assumi um projeto de formação de educadores num espaço diferente da escola, em uma instituição beneficente. O lugar fica numa comunidade de baixo poder aquisitivo e muitos problemas sociais. A ideia surgiu após os gestores da instituição notarem que muitas crianças de 9 a 12 anos tinham dificuldades na leitura e na escrita. Por isso, acharam necessário dar subsídios às educadoras para que elas realizassem uma série de atividades focadas na alfabetização com crianças de 5 a 12 anos no período contrário da escola.
A solicitação dos gestores foi para que eu fizesse reuniões de formação durante quatro meses. Achei a proposta bem tranquila, já que alfabetização é um conteúdo que estudo bastante e, além disso, o grupo com o qual eu trabalharia era pequeno – apenas quatro educadoras. Ledo engano… Está sendo um desafio e tanto!
Diagnóstico dos saberes das educadoras
Para começar, elaborei uma situação-problema para que as professoras explicitassem seus saberes acerca dos processos de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita. Solicitei que escrevessem que atividades realizariam se tivessem que assumir uma turma para alfabetizar. Duas delas – as que já tinham atuado em sala de aula – conheciam as fases e hipóteses de escrita. As outras duas, no entanto, não conheciam – elas cursavam Pedagogia e só tinham experiência como cuidadoras de crianças.
Diante disso, preparei os dois primeiros encontros com o foco em como é importante valorizar o que as crianças já sabem e como fazer um diagnóstico do que conhecem sobre a escrita. Lembro que seria um conteúdo totalmente novo para duas pessoas, portanto, me preocupei em mostrar alguns vídeos que explicam como a criança constrói suas hipóteses de escrita. Um dos que utilizei foi o “Construção da escrita – primeiros passos”, do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (Profa).
Assistimos às gravações de professoras propondo situações de leitura e escrita. Explicitei a diferença entre fazer um diagnóstico e realizar uma situação de aprendizagem. Pedi que, nas duas semanas seguintes, elas fizessem o mapeamento dos saberes das crianças com as turmas delas. Assim, poderíamos planejar como encaminharíamos o projeto. As quatro educadoras se mostraram interessadas e toparam a ideia.
O conteúdo da formação aplicado na prática
Passadas as duas semanas, as professoras haviam feito apenas alguns diagnósticos. No entanto, nenhuma delas pediu para as crianças interpretar o que escreveram e duas delas chegaram a usar uma atividade retirada da internet em que os pequenos tinham que escrever o nome e apontar quais eram as vogais e quais eram as consoantes, uma proposta totalmente equivocada segundo a concepção de aprendizagem que procurei explicitar nas formações. Fiquei estarrecida, porque, aparentemente, a minha formação não havia atingido o objetivo de transformar a prática delas! Me perguntei onde eu havia errado e por que elas não faziam os diagnósticos conforme tínhamos planejado.
Depois disso, retomei os conteúdos da formação e preparei mais encontros utilizando a tematização da prática de boas situações de leitura e escrita. Também incluí na formação o acompanhamento de alguns momentos de atividades com as crianças.
Acompanhamento da prática
Só quando vi a prática das educadoras me dei conta do que estava acontecendo. Até então, elas podiam planejar livremente o que fazer com as crianças e optavam por fazer atividades tais como ler histórias, propor que cada criança escolhesse um livro para ler ou brincadeiras e produções artísticas para fazer e realizasse algumas experiências culinárias. Elas não se sentiam capazes e responsáveis por ajudar as crianças a ler e escrever. Na visão delas, isso seria um reforço escolar e não era seu papel.
Bem, com essa nova perspectiva, solicitei uma reunião com os gestores para combinar o que poderíamos fazer para que as educadoras se sentissem capazes e responsáveis pela inserção das crianças no mundo da leitura e escrita.
Nas próximas semanas, vou compartilhar com vocês quais foram os resultados desses encaminhamentos. Acompanhem!
E você, já viveu uma situação em que a formação não impacta a prática docente?
Um abraço, Leninha