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A formação precisa estar atrelada à prática

POR:
Muriele Massucato, Eduarda Diniz Mayrink
Leninha Ruiz realiza reunião de formação com professores da EMEI Maria Alice Pasquarelli, em São José dos Campos, em São Paulo. (Foto: Gabriela Portilho)

Leninha Ruiz discute a pauta de formação de professores com equipe técnica da secretaria (Foto: Gabriela Portilho)

Na semana passada, falei sobre um projeto de formação de alfabetização numa instituição beneficente que, após alguns encontros, não havia impactado na prática das educadoras. Ao observar o que estava acontecendo, percebi que as profissionais com as quais eu estava trabalhando não se sentiam capazes nem responsáveis por ajudar as crianças na aprendizagem da leitura e da escrita.

Minha hipótese, compartilhada com os gestores da instituição, foi a de que elas achavam que as crianças já frequentavam a escola por tempo demais (eram cinco horas diárias em um “lugar muito chato”, segundo os próprios alunos) e que, no outro período, seria importante que fizessem atividades mais prazerosas, como brincar, ver filmes e ouvir histórias. A ideia era se diferenciar o máximo da escola, por isso, havia, inclusive, uma oficina de culinária uma vez por semana.

Os gestores logo identificaram que as educadoras não haviam participado o suficiente das discussões e reflexões sobre o papel da instituição que tinham acontecido no início do ano. A avaliação inicial desses encontros foi a de que era preciso fazer algo para ajudar as crianças atendidas a ter sucesso na leitura e na escrita – na comunidade, havia um grande número de estudantes com mais de 8 anos não alfabetizados.

Ressignificando a formação

Depois da conversa, elenquei dois objetivos para a formação das educadoras:

  1. Ter consciência do quanto saber ler e escrever bem impactaria na vida daquelas crianças;
  2. Ter clareza de que aprender pode ser bem bacana se as crianças participarem de projetos com propósitos bem claros.

Claro que os gestores também contribuíram com o trabalho. Eles fizeram uma assembleia para compartilhar com todos a análise das necessidades daquela comunidade e das crianças atendidas, inserindo as educadoras na definição e atualização da linha de ação da instituição.

A partir daí, realizei algumas atividades com as profissionais:

  • Refletimos sobre por que algumas pessoas gostam de ler e outras não. Listamos as hipóteses e pedi para as educadoras que dessem exemplos de pessoas que conhecem, assim, poderíamos discutir como a leitura também é fonte de prazer e como as pessoas adquirem esse hábito;
  • Fizemos uma lista do que podemos fazer para que as crianças gostem de ler. Aqui, a intenção era valorizar algumas atividades que elas já realizavam, como contação de histórias, e mostrar que outras poderíamos fazer;
  • Levei alguns projetos de leitura e escrita para analisar o propósito de cada um e o quanto a criança pode participar ativamente mesmo sem saber ler e escrever. A intenção é que, a partir de bons modelos, as educadoras escolhessem um deles para colocarmos em prática.

A importância de começar pelo começo

Sempre atuei em escolas, onde o papel do professor já está definido. Por isso, tenho certeza de que a maneira como conduzi as formações com as educadoras da instituição não estava adequado, já que estávamos em um cenário diferente. Era preciso começar novamente, definindo o papel de cada uma e contextualizando as formações para deixar clara a expectativa de aprendizagem delas e das crianças.

Para esse contexto, levar alguns projetos prontos fez toda a diferença, porque ficou muito mais fácil compreender como elas poderiam fazer algumas atividades que envolvem as crianças, asseguram a aprendizagem e são bem bacanas, diferente da concepção que aprender é chato.

Ainda estamos no começo (ou recomeço), mas já é visível a disposição das educadoras ao discutir e reescrever um projeto, a partir de um modelo, para as turmas delas.

E você, coordenador, já teve que redirecionar seu projeto de formação alguma vez?

Um abraço, Leninha