No primeiro semestre deste ano, fiz uma formação extensa sobre o eixo de Natureza e Sociedade na Educação Infantil em uma escola para a qual estou fazendo assessoria. Durante as reuniões, discutimos os critérios para definir um projeto bacana para promover o interesse das crianças pela pesquisa e para estabelecer conexões com os conhecimentos prévios dos pequenos. Na época, todos os professores acharam legal pesquisar sobre as aves e batizou o projeto de “Voa ou não voa?”. Com base em muitos livros bacanas, a turma pôde observar diferentes aves, ouvir o relato de experiências de algumas pessoas que entendiam do assunto e participar ativamente das diferentes situações didáticas. As atividades foram um sucesso entre todos os professores e todas as crianças.
Neste semestre, no entanto, isso não aconteceu. Logo no início do planejamento dos projetos dos últimos meses letivos, surgiu um impasse no trio de professoras das turmas de 4 anos: duas delas queriam propor a pesquisa sobre a vida na Idade Média com o projeto “Quem mora no Castelo?”, mas uma delas, a Dora, não queria realizá-lo de jeito nenhum!
Eu e as colegas da Dora apresentamos vários argumentos para convencê-la: as crianças já possuem alguns conhecimentos via histórias de contos de fada; existem vários filmes que mostram as vestimentas, o tipo de alimentação e os meios de transporte, como O Homem da Máscara de Ferro e Coração Cavaleiro (uma das professoras já havia selecionado algumas cenas!); um dos cantos de faz de conta da sala poderia ser um mini castelo com fantasias, trono, coroas, joias e espadas de plástico, entre outros acessórios. As duas professoras a favor do projeto acreditavam que seria muito bacana buscar e comparar os diferentes aspectos da vida cotidiana de reis, rainhas, cavaleiros e outros empregados de um castelo. Dessa forma, as crianças poderiam ir além de apenas se fantasiar de príncipes e princesas.
Nada disso fez a Dora mudar de ideia.
Por que a professora não queria realizar o projeto?
Dora tinha uma experiência de projeto com essa temática que não havia sido feliz. Na ocasião, o tema lhe foi imposto e também havia muito pouco material de pesquisa para realizar o trabalho. Ela ainda guardava más lembranças e não havia meios de convencê-la de que agora seria diferente. Por isso, ela achava que existiam outros temas mais instigantes e menos chatos para pesquisar do que o modo de vida da Idade Média.
A contraproposta da professora era fazer um projeto sobre um tema relacionado aos fenômenos da natureza, como a influência dos planetas, do sol e da lua na vida das pessoas. O argumento dela era que já possuía materiais de pesquisa e que as crianças poderiam entrevistas algumas pessoas a respeito de conhecimentos empíricos e científicos. Além disso, os pequenos se interessariam mais sobre esse assunto. Na turma dela, inclusive, ela já havia observado que as crianças possuíam hipóteses interessantes sobre a Terra, o dia e a noite, a chuva e o sol, e outros aspectos.
O que fazer?
As duas propostas de projetos eram boas e passíveis de instigar as crianças a levantar hipóteses, se contagiar pela curiosidade no tema e investigar diferentes materiais de qualidade, como livros, vídeos, sites e entrevistas.
A direção da escola gostaria que as turmas fizessem o mesmo projeto. Algumas tentativas de consenso foram feitas, mas nenhuma parte cedia. Nesse caso, a solução mais prudente foi permitir que acontecessem dois projetos diferentes. A justificava para essa decisão foi que o interesse e disponibilidade de professor e das crianças precisavam estar em foco e, por isso, se levaria em consideração os temas que mestre e alunos demonstravam mais interesse – na sala da professora Dora, por exemplo, os pequenos já tinham várias curiosidades sobre os fenômenos da natureza, incentivados por ela. O objetivo das atividades seria estabelecer conexão com os conhecimentos prévios das crianças e lhes dar possibilidade de fazer boas pesquisas e perguntas e aprender de maneira lúdica e instigante. Dessa forma, as situações didáticas prevaleceriam sobre a temática.
A escola, por outro lado, também ganharia com a diversidade de projetos realizados, porque teria duas propostas escritas e testadas no seu portfólio de planejamentos.
E na sua escola, já aconteceu algo semelhante?
Um abraço, Leninha