Ir ao conteúdo principal Ir ao menu Principal Ir ao menu de Guias
Notícias
5 4 3 2 1

A história de João e de sua integração na escola

Saber acolher uma criança e entender suas especificidades é uma forma de garantir o sucesso da adaptação

POR:
Muriele Massucato, Eduarda Diniz Mayrink
A adaptação e integração de crianças que entram pela primeira vez numa escola podem ser difíceis. (Foto: Shutterstock)
A adaptação e integração de crianças que entram pela primeira vez numa escola podem ser difíceis    Foto: Shutterstock

João (nome fictício) começou a frequentar a escola no início do segundo semestre. Aos 5 anos de idade, era a primeira vez que ele entrava numa instituição de ensino. O grupo de professores e os gestores já tinham lidado com casos como esse antes, no entanto, com João havia algumas especificidades que nunca haviam sido vivenciadas.

A adaptação do menino não foi nada fácil. Nos primeiros dias, ele ficava o período inteiro num canto e não brincava nem conversava com os colegas, por mais que a professora e algumas crianças o convidassem para jogar bola ou ir ao canto de faz de conta. João não se soltava e grudava no irmão mais velho, que lhe fez companhia o tempo todo. O irmão também não se comunicava muito, porque era bastante tímido e sempre abaixava a cabeça quando lhe perguntavam algo.

Foram quatro dias sem nenhum sucesso.

Na sexta-feira, quinto dia que João estava na escola, a mãe da Mariana (nome fictício), uma colega do menino, trouxe um par de tênis e dois agasalhos para o garotinho novo da sala a pedido de sua filha, que estava muito preocupada. Mariana havia dito à mãe que estava fazendo muito frio e o colega só usava chinelo e uma blusinha fininha. Outra coleguinha também havia lhe contado que João morava próximo a sua casa e que sua família era bem pobre e habitava uma casinha de madeira que não tinha banheiro. Sensibilizada, a mãe da menina pediu à filha que mostrasse o garoto para ter noção de seu tamanho e providenciou o tênis e os agasalhos.

Achamos uma graça a preocupação da Mariana e a atenção da mãe, mas também ficamos um pouco preocupadas, pois a turma parecia saber bastante sobre o João e a escola não. Até aquele momento, nem as professoras nem as gestoras tinham encontrado os familiares, porque a matrícula do menino foi efetuada pelo pai durante o recesso e ninguém compareceu à primeira reunião de pais do segundo semestre. Os convites para marcar um horário para conversar enviados para casa através do irmão também ficaram sem resposta.

Uma visita que fez toda diferença

O jeito foi ir até a casa da criança. E quantas foram as descobertas ao chegar lá! De fato, a moradia do João era um barraco feito de tábuas no quintal da casa de uma tia. Foi ela que recebeu a professora e contou um pouco sobre a história da família. Os pais eram analfabetos (por isso, de nada adiantava enviar bilhetes para a família), assim como o irmão mais velho, que sempre largava a escola para trabalhar nas colheitas. Os dois meninos passam os dias sozinhos e livros, papéis e lápis eram materiais inéditos ao caçula. Outra informação que nos chamou atenção foi que nenhum dos dois sabia utilizar o banheiro – eles corriam para o mato sempre que precisavam fazer suas necessidades, como era costume na região da qual vieram.

A história que a tia nos contou só contribuiu para que todos da equipe escolar tivessem um olhar diferenciado para o processo de adaptação de João. Por isso, elencamos algumas estratégias específicas para integrar o menino, como apresentar cada espaço da escola, ensiná-lo a usar o banheiro e talheres e convidar seu irmão para participar de algumas atividades com ele, como pedir que cuidasse do grupo que jogava bola no campinho – nessa hora, os professores apenas observavam de longe para não intimidar.

Na sala, a professora apresentou o material do dia a dia e, em vez de insistir para que João o utilizasse, preferiu dividir tudo em duas caixas: uma com giz de cera, canetinhas e papéis e outra com jogo de encaixe e alguns carrinhos. A ideia era que, a cada dia, o menino levasse uma caixa para casa e fosse se familiarizando aos poucos com os objetos utilizados nas aulas e também tivesse materiais para brincar junto com o irmão.

Como crianças são muito espertas e se adaptam muito mais rapidamente do que adultos, alguns dias já levaram João a se entrosar um pouco melhor com o grupo e se arriscar a jogar bola com os colegas. Foi na hora da história que o menino começou a se soltar mais. Ele ficava encantado e se permitia rir e se fascinar com o mundo mágico da literatura.

Agora, além de continuar o processo de adaptação e de conquista da autonomia na escola, temos o objetivo de ensiná-lo a escrever o nome próprio e incentivá-lo a participar das diferentes situações didáticas.

Você já passou por uma situação tão delicada assim? Compartilhe conosco!

Um abraço, Leninha