Uma professora novata na Educação Infantil entrou na sala dos professores e desabafou: “Não estou dando conta das crianças. Elas são muito agitadas, não ficam sentadas e não me obedecem. É melhor alguém ir lá para a sala, porque eu saí e deixei todas lá. Elas estão fazendo a maior bagunça!”.
Imediatamente, eu parei a reunião com um professor e fui ver o que estava acontecendo com a turma. De fato, os pequenos estavam bem agitados e especulando onde a professora tinha ido. Era o momento de atividades diversificadas e algumas crianças ainda estavam nos cantinhos, mas a maioria estava na porta da sala e no corredor. Propus a elas que entrassem e guardassem os materiais e os brinquedos e sentassem para uma roda de conversa, durante a qual pedi que me contassem o que sabiam sobre a epidemia de Dengue. O papo terminou chegando à saúde e à alimentação. Durante os 20 minutos que passei com os pequenos, a diretora ficou conversando com a professora, ouviu o desabafo dela e deu algumas orientações, como a necessidade de se considerar a característica da faixa etária e lembrar que, na Educação Infantil, esperamos crianças ativas e falantes, pois, para elas, falar o tempo todo é muito natural e não significa falta de respeito.
Qual era a situação
A docente responsável pela turma só havia atuado numa escola muito tradicional com crianças de 9 e 10 anos e estava acostumada com alunos que permaneciam sentados em seus lugares durante a maior parte do tempo e levantavam a mão quando queriam falar algo. Basicamente, o papel dela era conduzir as atividades coletivas que faziam com base nos livros didáticos. Sem dúvida, esse ambiente era bem mais calmo do que um local com 31 crianças de 5 anos que se movimentavam com liberdade pela sala de aula, mudavam de cantinhos e conversavam naturalmente o tempo todo.
Por outro lado, não se podia negar que essa turma específica era muito agitada mesmo. Havia duas ou três crianças, inclusive, que tomavam a liderança tanto para atuar nas diferentes situações didáticas como para articular o grupo e desafiar a professora.
Que estratégia seguir com uma turma assim
A docente que assumiu essa classe no ano anterior havia levado cerca de dois meses para encontrar a melhor forma de gerir a turma. E era justamente esse o desafio que a professora sobre a qual estamos falando tinha: conseguir se antecipar às próprias crianças e planejar e configurar a sala de maneira a ter propostas instigantes que envolvessem a todos.
Nessa hora, eu, como coordenadora pedagógica, passei a acompanhar mais de perto, ajudando a profissional a planejar mais adequadamente. Fizemos uma lista de atividades desafiadoras para o momento do diversificado, algumas propostas combinadas de desenho e colagem, pensamos num canto de modelagem com diferentes apetrechos a cada dia (palitos, espátulas, tampinhas plásticas) e na disponibilização de quebra-cabeças de 150 peças e novos jogos de Matemática e de leitura e escrita. Refletimos sobre a necessidade de revitalizar o canto de faz de conta, pois ele era sempre uma cozinha. Perguntamos às crianças o que elas achavam de montar um restaurante e logo elas deram muitas ideias. Confeccionamos uma churrasqueira, comidas e ingredientes com EVA e espuma. Combinamos que, assim que elas perdessem o interesse, montaríamos outro canto. Além disso, redefinimos a rotina, aumentando as atividades fora de sala, como jogos e brincadeiras no pátio, seguidas de um momento mais calmo, como roda de cantoria.
Levei o tema para a formação com todos os professores, sem expor a educadora que estava tendo dificuldades, elaborando estudos de caso para que discutíssemos sobre o papel do docente e o que ele deveria fazer em situações pontuais nas quais uma ou mais crianças têm atitudes diferentes dos combinados estabelecidos previamente. A ideia era que os colegas compartilhassem experiências de gestão de sala que deram certo. Discutimos várias possibilidades de encaminhamentos para aqueles momentos nos quais o professor não sabe bem o que fazer. Elaborei pequenas histórias com situações como as que ocorriam na sala em questão e, em duplas, os profissionais discutiram e relataram que atitudes seriam mais adequadas para que a turma se envolvesse na proposta.
Algumas das reflexões que fizemos funcionaram imediatamente. Entre elas, estavam momentos mais desafiadores no diversificado e atitudes mais pontuais, como usar o recurso de elogiar os esforços das crianças para realizar uma atividade. Por outro lado, outras ainda precisaram de ajustes para dar certo. As brincadeiras fora de sala, por exemplo, só funcionaram quando foram propostos jogos simultâneos, dando opção de escolha para os pequenos. A professora novata também tomou a iniciativa de fazer um relaxamento de 3 a 5 minutos depois das atividades mais agitadas. Isso funcionou muito bem e ela conseguiu envolver todos num ambiente gostoso com música e pouca iluminação.
Às vezes, a turma ainda a desafia, mas agora a docente sabe que não pode ficar tão mexida com isso. O que ela deve fazer é procurar minimizar os efeitos da dispersão dos pequenos e propor um novo desafio.
E na sua escola, você já enfrentou uma situação onde as crianças precisavam de um planejamento mais estruturado? Compartilhe conosco!
Abraços, Leninha