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A preocupação excessiva com a inclusão pode ofuscar a aprendizagem

POR:
Muriele Massucato, Eduarda Diniz Mayrink
Ilustração com peças de quebra-cabeças. (Ilustração: Isac Rodrigues)

Ao trabalhar com crianças com deficiência, é importante não subestimar o potencial delas (Ilustração: Isac Rodrigues)

Lorena tem 4 anos e começou a frequentar a escola pela primeira vez há poucas semanas. Ela tem deficiência física, utiliza cadeira de rodas, não tem total controle dos braços e das mãos e tem bastante dificuldade para falar, o que não a impede de participar ativamente de todas as atividades. Muito simpática e sorridente, ela conquistou todos e se tornou o centro das atenções, algo comum de acontecer com crianças pequenas muito comunicativas. No entanto, ela estava sendo prejudicada com tanta paparicação.

Desde que Lorena chegou, a professora dela fez todas as adaptações necessárias no planejamento para incluí-la nas diferentes propostas. Além disso, ela encontrou uma cadeira de rodas que se encaixava na altura das mesas da sala, mudou algumas prateleiras de lugar para ampliar o espaço, retirou um tapete que criava um obstáculo e buscou um adaptador no giz de cera e no pincel para que a criança conseguisse ter movimentos gráficos mais precisos.

O verdadeiro desafio, no entanto, foi colocar limites nos pequenos e nos adultos que queriam fazer tudo por Lorena. Na sala de aula, as crianças começaram a tratá-la como um bebê, pegavam tudo para ela, disputavam quem empurraria a cadeira e até verbalizavam por ela ao menor indício de comunicação. Na hora da história, brigavam para ver quem se sentaria ao seu lado. Nos momentos coletivos, como a hora do lanche e do parque, eram os funcionários e alguns professores de outras turmas que disputavam quem cuidaria da pequena.

Como toda criança que tem o potencial subestimado, Lorena passou a ter atitudes de dependência e a demonstrar menos autonomia. Se antes ela tentava se alimentar sozinha, mesmo levando mais tempo do que os colegas, agora esperava que alguém desse a comida na boca. No parque, se ia aos diferentes brinquedos ajudada pela professora ou pela estagiária, agora só queria ficar na cadeira de rodas porque muitas crianças queriam empurrá-la. Além disso, ela passou apenas a apontar o que queria e não tentar falar o que queria.

Logo que a professora percebeu o que estava acontecendo, foi conversar comigo e com a diretora da escola para ajudá-la. Em sala, ela já havia começado a orientar as crianças para que não fizessem tudo pela colega e a mostrar para Lorena como ela já conseguia fazer muito sozinha. A todo o momento, ela era incentivada e elogiada pelas conquistas. Quanto aos funcionários e aos professores, eu e a diretora realizamos um bate-papo para elogiar o empenho de cada um ao acolher e auxiliar a aluna, mas também para dizer que precisávamos repensar se algumas atitudes estavam ajudando ou atrapalhando o desenvolvimento da menina. Explicitamos a importância da autonomia, o quanto Lorena poderia ampliar diversas habilidades e aprendizagens se a incentivássemos ao invés de fazer tudo por ela.  Foi uma conversa muito tranquila, pois todos concordaram que estavam mesmo havendo muitos excessos.

É claro que a mudança não ocorreu do dia para noite, mas, aos poucos, Lorena foi aprendendo muito!

Você já observou alguma situação semelhante na escola em que você trabalha?

Um abraço, Leninha