Os portões da escola acabaram de abrir. Pais, mães, avós, irmãos e outros responsáveis levam as crianças até a sala de aula, onde os professores já estão a postos aguardando os alunos. Os pequenos dirigem-se aos cantos com as diferentes propostas de atividades. Nas portas de algumas salas, alguns familiares trocam palavras com o professor até o término do horário de entrada, que dura, mais ou menos, 15 minutos. Após isso, a família vai embora e os docentes voltam toda a atenção para a turma.
Essa é a rotina esperada no início de cada dia numa instituição de Educação Infantil. No entanto, não era isso que estava acontecendo nos últimos tempos na escola em que eu trabalhava. Num dia, o porteiro teve que conversar com a diretora devido a um grupo de 5 ou 6 responsáveis que, diariamente, permaneciam por mais de 30 minutos depois do fechamento do portão.
A primeira ação da diretora foi descobrir de que turma eram os pequenos trazidos pelas pessoas que ficavam depois do horário da entrada e perguntar à professora responsável se estava havendo algum problema e qual era o motivo de, todos os dias, o grupo permanecer conversando com a professora na porta da sala. A docente não gostou e, rispidamente, respondeu que os pais precisam participar da vida escolar dos filhos e ela dava seguimento à conversa para investir no bom relacionamento. A gestora argumentou que, de fato, esse investimento era muito importante, no entanto, feito no horário da aula, poderia prejudicar o processo de aprendizagem das crianças. Ela explicou que havia meios e momentos mais adequados, como a reunião de pais, outros eventos e a agenda dos alunos.
A professora não concordou e, com o tempo, a situação tomou uma proporção desagradável, pois a docente falou para o grupo de familiares que permanecia na porta da sala que a tinham proibido de conversar diariamente com ele. A mãe de um aluno, que nada tinha a ver com a história, ouviu essa conversa e, preocupada, procurou a equipe gestora. Segundo ela, aquela rodinha já estava afligindo outros pais que achavam que a educadora não estava dando a devido atenção os pequenos.
É claro que o caso exigia uma intervenção maior. Notamos que a conversa rápida entre a docente e a diretora só havia agravado a situação. Por isso, optamos por agendar um horário para orientar a professora. Dessa vez, combinamos que abordaríamos os aspectos ligados ao fazer pedagógico e administrativo, ou seja, o papel do docente na aprendizagem dos alunos e a responsabilidade que ele tem de zelar por todos durante o período em que ficam na escola.
Quando chegou o dia da reunião, para nossa surpresa, a professora começou pedindo desculpas e disse que tinha percebido a seriedade do problema após conversar com colegas. Ela disse que, a princípio, ficou bem chateada, mas, ao refletir sobre a situação e se colocar no papel dos responsáveis que se mostraram preocupados com suas atitudes, entendeu que, de fato, não estava sendo profissional e que havia outros meios de estar sempre próxima das famílias.
Eu e a diretora chegamos à conclusão que é sempre bom ouvir os pares e se dispor a refletir e mudar a atitude. Conversamos mais um pouco sobre o papel do professor, mas sem querer passar sermão, e sim para validar a posição da docente e valorizar a reflexão feita por ela. A partir de então, cabia a ela redefinir sua postura durante a entrada das crianças e investir na comunicação com todas as famílias por outros canais.
E você, já vivenciou uma situação semelhante?
Um abraço, Leninha