Uma Educação inclusiva deve olhar para o cada aluno de forma individualizada e colaborativa, considerando suas habilidades e dificuldades de aprendizagem. A escola deve ser um lugar de encontro, igualdade e desenvolvimento. Isso não significa reduzir as expectativas da turma ou deixar de avaliar os estudantes – as metas de conquista do conhecimento são estabelecidas em consonância com o potencial de cada criança ou jovem.
Ao refletir sobre esse assunto durante uma formação de professores, uma colega, coordenadora, me fez os seguintes questionamentos: “Você recebe alunos com necessidades especiais? O que você faz para desenvolver o trabalho com eles? Como você lida com as famílias dessas crianças?”
A escola em que trabalho, de fato, recebe estudantes com deficiência. E, como coordenadora, procuro estabelecer uma relação de parceria com as famílias, prestando a elas toda a assistência necessária.
Apesar de já ter participado de muitas formações sobre Educação inclusiva, lidar com essa questão na prática foi essencial. Observando como acontece o acolhimento aos alunos com deficiência e de que maneira eles desenvolvem suas atividades no ambiente escolar, pude aprender muito. Gostaria de contar a vocês uma situação que vivenciei que ilustra bem isso.
Recebemos um aluno especial que tinha um diagnóstico de paralisia cerebral. Todas as ações que ele realizava dependiam do auxílio de um adulto. O garoto contava, inclusive, com um professor de apoio. Comecei, então, a observar as atividades que eram propostas a ele na escola, e percebi que todas elas ficavam limitadas à sua deficiência e suas habilidades motoras, ou seja, tudo era feito na cadeira de rodas. Entre o professor, o aluno e a família havia uma sensação permanente de medo e insegurança.
Resolvi conversar com a criança e, aos poucos, descobri que, em casa, ele fazia muitas coisas diferentes e mais desafiadoras do que as atividades que a escola estava oferecendo. Então, convidei a mãe do garoto para uma conversa mais detalhada sobre a deficiência dele, e esse diálogo modificou toda a forma de pensar o trabalho pedagógico que estava sendo desenvolvido até então com a criança.
A mãe contou que, dentro de casa, o garoto pegava sozinho os brinquedos e os objetos, realizava atividades sentado no chão, onde conseguia até se locomover. No ambiente doméstico, havia muitas outras coisas que ele gostava de fazer, e que também poderiam fazer parte da rotina na escola.
Com base no relato da família, pesquisamos e planejamos diversas atividades que pudessem contribuir com o desenvolvimento da autonomia. Nas aulas de Educação Física, por exemplo, propusemos um exercício de movimentação no solo utilizando colchonetes. Em outros momentos, oferecemos ao aluno experiências que estimulassem sensações e percepção do corpo, atividades envolvendo artes visuais com instrumentos mais adequados para o manuseio, além de jogos voltados para desenvolver conteúdos básicos de leitura e matemática.
Depois dessa experiência, conclui que a primeira ação que deve ser feita quando a escola recebe alunos com necessidades especiais é conversar com os responsáveis e estabelecer uma relação de parceria. É preciso ouvir a família e construir vínculos com ela. Isso é fundamental para determinar quais são as reais necessidades de desenvolvimento da criança, e como a escola pode supri-las. O desafio é oferecer à família um tratamento cordial, aberto e compreensivo, mas sem criar uma dependência.
O segundo passo é informar os profissionais que vão conviver com a criança – professores e funcionários – sobre as conclusões dessa conversa, dizendo à equipe quais as habilidades e as limitações que ela tem. Essas ações iniciais colaboram para criar uma relação de proximidade com o aluno. Todos já saberão chamá-lo pelo nome e ficarão mais interessados em conhecer suas capacidades e características individuais, em vez de somente classificá-lo ou categorizá-lo.
Após esses momentos com a família e a equipe, é importante auxiliar o professor ou outro profissional que trabalhará com o aluno a construir uma rotina de atividades baseadas em um currículo específico, de acordo com as necessidades individuais. Depois, é necessário voltar a falar com os responsáveis para explicar a rotina.
Ajudar o aluno a desenvolver a autonomia é uma das principais metas da escola e a participação dos pais pode contribuir decisivamente para que ela seja alcançada.
Construir um espaço-tempo de gestão que acolha as diferenças ajuda e muito no trabalho cotidiano. Nesta relação de parceria, tanto a escola quanto a família aprendem a ajudar as crianças a conquistar avanços na autonomia e também na aprendizagem.
E você, coordenador, como atende os alunos com necessidades especiais na sua escola
Boa semana e até quinta-feita,
Eduarda