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Conduza os professores na reflexão sobre ler para estudar

POR:
Muriele Massucato, Eduarda Diniz Mayrink
Menina lê um livro em sala de aula (Foto: Manuela Novais)

Toda leitura deve ter um objetivo claro, principalmente quando se trata de um texto mais longo. Isso evita que as crianças se percam no meio da leitura (Foto: Manuela Novais)

Para as crianças, aprender a estudar é uma condição fundamental à continuidade da vida escolar. À medida que avançam, elas precisam se aprofundar nas diversas áreas do conhecimento, o que exige o domínio de certos procedimentos. E mesmo na vida adulta, para além da escola e da universidade, o estudo é uma atividade permanente, num mundo em que as mudanças são cada vez mais rápidas.

Cabe à escola ensinar as práticas associadas ao estudo, especialmente a leitura e a produção de textos científicos. Para que a turma aprenda essas práticas, é preciso criar situações em que se possa ler e compartilhar com outras pessoas o aprendizado. Portanto, devemos propor, desde os primeiros anos, diversas atividades, como explorar a biblioteca para localizar determinada informação ou ler para resolver dúvidas, coletar dados e empregá-los de forma pertinente. Essas situações, quando bem planejadas e sistematizadas, permitem que os alunos desempenhem constantemente a tarefa de estudar.

Gostaria de compartilhar uma experiência realizada com professores de 3º ano com base em um projeto didático chamado “Animais da nossa região”. Durante o trabalho, cuja proposta era realizar pesquisas sobre animais que tinham como habitat a região da nossa cidade, Rio Piracicaba (MG), as professoras contavam com minha supervisão para planejar as atividades em equipe. Enquanto fazíamos isso, eu aproveitava para transformar o momento em uma oportunidade de formação sobre o que seria esse “ler para estudar”.

A ideia era utilizar textos informativos para desenvolver comportamentos de leitores e escritores. Ao avaliar os primeiros textos selecionados, observei que a maioria deles era curto e não trazia muitas informações diferentes. Além disso, as questões propostas no planejamento limitavam-se a pedir que os alunos localizassem alguns dados explícitos no texto.

Por essa razão, uma das primeiras discussões da equipe foi a necessidade de escolher leituras maiores e mais complexas.  Num primeiro momento, as professores mostraram resistência a isso. “São textos muito grandes”, “meus alunos não dão conta de ler e compreender tudo” e “estou achando muito difícil esse projeto com textos maiores” foram só alguns dos comentários. O que fazer, então, para superar essa desconfiança?

Passei a frequentar as aulas que planejávamos antecipadamente e fazer observações e registros. Depois, discuti com as docentes o que havia sido feito, dando sugestões de acordo com as dificuldades apresentadas pelas crianças.

Uma conclusão importante a que chegamos foi que toda leitura deve ter um objetivo claro, principalmente quando se trata de um texto mais longo. Se o propósito da atividade não for bem explicado, as crianças podem se perder no meio da leitura. Um exemplo: pode-se pedir que a classe leia para buscar uma informação sobre a moradia do joão-de-barro.

Outro momento muito interessante da reflexão em equipe foi a seleção dos materiais específicos sobre a capivara. Precisávamos encontrar uma maneira de utilizá-los que fosse capaz de fomentar a pesquisa e gerar mais questões que motivassem a leitura, definindo qual seria lido primeiro, qual forneceria as informações mais gerais ou específicas etc.

Ao comparar os textos selecionados, notamos diferenças importantes entre eles. Descobrimos que um dizia que a capivara era herbívora, sem dar maiores explicações; outro explicava justamente explicitar o que é ser um animal herbívoro; em um terceiro, aparecia a informação de que esse animal comia peixes; e, por fim, encontramos um texto que esclarecia a aparente contradição entre o primeiro e o terceiro: a capivara é herbívora na maior parte do tempo, mas quando a vegetação se torna escassa, complementa a alimentação comendo pequenos peixes.  Eureka! Tínhamos encontrado a questão motivadora: “O que a capivara come?”.

Assim, montamos uma sequência, na qual os alunos puderam praticar todos os procedimentos de pesquisa e leitura. No último texto, após lerem e confrontarem todas as informações obtidas, descobriram a resposta à questão. Esse processo demorou uma semana e meia e, no dia da reunião de pais, alguns falaram que seus filhos, durante o período de estudos, só falavam de capivaras em casa.

Ao final, os alunos tinham desenvolvido o comportamento leitor, participando de diversas situações de leitura – no início, contando com o apoio do professor; depois, assumindo gradualmente maior controle sobre a atividade. Já os professores encerraram o trabalho tendo aprendido a selecionar bons textos e a usá-los adequadamente. Durante todo o processo, percebi que o olhar das professoras mudava aos poucos e, assim, os tais “textos difíceis” foram encarados sem medo.

Supervisionar o material que será utilizado em um projeto, propor a elaboração coletiva do planejamento, além de estudar, analisar e refletir sobre as intervenções na atividade são importantes estratégias para ajudar o docente a compreender melhor a situação didática e ir para a sala de aula mais seguro.

E você, já tematizou com seus professores o que é “ler para estudar”?

Um abraço, Eduarda