Embora esse pareça um assunto há tempos resolvido, ainda me surpreendo com algumas concepções equivocadas a respeito do profissional responsável pelas crianças nos berçários. Muitas pessoas continuam achando que ele apenas oferece cuidados básicos aos bebês quando os pais estão ausentes.
Quando escuto algo assim, me lembro, de imediato, das muitas reflexões que fizemos no início dos anos 1990 sobre a diferença entre o papel da mãe, do pai, dos tios e dos avós e o papel da escola. Enquanto os pais se responsabilizam por cuidar e educar as crianças segundo a sua concepção de vida, crenças e valores pessoais, os professores (sim, as pessoas que atuam nos berçários são professores formados) se encarregam de cuidar e educar segundo um planejamento com objetivos claros e sustentados por pesquisas e referenciais teóricos de como os bebês aprendem e conquistam sua autonomia.
Mas até que isso ficasse bem claro para os educadores – até então, as creches faziam parte da Secretaria de Desenvolvimento Social ou Assistência Social e não da Secretaria de Educação, e o foco era exclusivamente o cuidar –, foram necessárias muitas formações sobre as especificidades do processo de aprendizagem das crianças de 0 a 3 anos. E, na medida em que eles tinham mais informações sobre a atuação direta com bebês, mais consistentes e coerentes eram seus planejamentos e prática.
Para ampliar a discussão, fui trocar uma ideia com algumas coordenadoras pedagógicas que são minhas amigas de longa data e atuam na Educação Infantil com pequenos de 0 a 3 anos. Queria saber o que elas tinham para falar sobre o assunto. As considerações que elas fizeram foram tão bacanas que gostaria de compartilhar com vocês.
A Rosana Helena de Oliveira, que atua numa creche com cinco turmas do berçário, enfatizou a importância da atuação do professor como agente formador dos outros profissionais que trabalham com ele no dia a dia, como babás e auxiliares de classe. Muitos ainda acreditam que basta organizar o ambiente e assegurar cuidados essenciais, como banho, alimentação, segurança e sono. Então, se eles não tiverem clareza de que atuar com esses pequenos não é só tomar conta deles, não será possível mudar essa concepção. Renata de Miranda Dias Oliveira, coordenadora de uma EMEI que atende 12 turmas de 1 a 3 anos, ressaltou a intencionalidade educativa nas salas de berçário, onde só um profissional que estudou por anos e participa de formação continuada pode assegurar um planejamento adequado.
Já a Cássia Maria Vieira Silva, que foi coordenadora de creche por 13 anos e hoje é formadora de professores e gestores nessa etapa, se empolgou na discussão e nos brindou com um depoimento. Vale a pena ler!
Qualquer pessoa pode saber quais são os cuidados pertinentes com os bebês no dia a dia, mas, para proporcionar um trabalho que favoreça avanços significativos na aprendizagem dessas crianças tão pequenas, é fundamental a atuação de um profissional qualificado.
Os pequenos, que muitas vezes ainda não aprenderam a falar, nos mostram a direção a seguir por meio de gestos, balbucios, sorrisos, danças, choros e palmas. Precisamos ter uma escuta atenta e cuidadosa para conhecê-los, estabelecer vínculos e interpretar essas manifestações. Só assim podemos pensar em estratégias que favorecem a interação entre as crianças, entre a criança e o adulto e entre a criança e o meio, a fim de proporcionar vivências significativas que envolvam a exploração de todos os sentidos e que se transformem em verdadeiros momentos de aprendizagens. Também é necessária muita atenção e reflexão para promover a autonomia e autoria nas experiências de cada um dos pequenos.
Para se apropriar dos conhecimentos sobre a faixa etária e o trabalho a ser realizado com as turmas, o professor deve ter um espaço de reflexão e ação. Ele precisa contar com a formação continuada do coordenador pedagógico, durante a qual elabora planejamento, pensa sobre a prática e confronta experiências e conhecimentos com as informações teóricas. Nesse processo, o registro é indispensável, pois possibilita a análise e a reestruturação das intervenções, num processo constante de aperfeiçoamento da proposta pedagógica coerente com o desenvolvimento dos bebês.
O texto da Cássia pontuou brilhantemente o fato de que o profissional responsável pela Educação dos bebês na creche é um professor. Vocês concordam?
Um abraço, Leninha