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Relatório do Pisa indica os caminhos para práticas de sucesso

Saiba o que tem trazido bons resultados nas escolas ao redor do mundo e se prepare para o planejamento de ações de 2017

POR:
Marcelo Soares, Laís Semis

O relatório de resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos 2015 (Pisa, na sigla em inglês), divulgado no dia 6 de dezembro, não trouxe notícias muito animadoras para o Brasil, que estacionou no desempenho de Ciências e Leitura e caiu em Matemática, áreas avaliadas de três em três anos pelo exame. No entanto, o documento (disponível na íntegra, em inglês, aqui) levanta os caminhos seguidos por países com bom desempenho, com práticas de sucesso que podem ser pontos de reflexão para os gestores brasileiros no diagnóstico e planejamento de ações em 2017.

GESTÃO ESCOLAR separou algumas dessas práticas para auxiliá-lo na formação de professores e para ter ideias de projetos e ações que podem ser desenvolvidos na escola. Elas foram levantadas com base nas respostas aos questionários preenchidos pelos gestores das escolas participantes do Pisa.

No Brasil, infelizmente, esses dados são um pouco inconsistentes, uma vez que há grande variação nas interpretações sobre como responder algumas questões e muitas perguntas básicas, como se a instituição é pública ou privada, não são respondidas por mais de um em cada quatro gestores (leia o quadro ao final desta reportagem).

Atividades extracurriculares

Os países com melhores pontuações em Ciências, foco da avaliação em 2015, são os que dedicam mais recursos à formação dos professores, incluindo investimento em qualidade e quantidade de docentes, tempo dedicado aos estudos, diferentes abordagens do ensino da disciplina e realização de atividades extracurriculares. O relatório destaca experimentos, excursões, visitas a museus, laboratórios ou zoológicos como formas para envolver os alunos na aprendizagem de Ciências. “Estas atividades podem ajudar os alunos a compreender conceitos científicos, aumentar o interesse na Ciência e até mesmo nutrir cientistas futuros”, diz o relatório da avaliação.

Os dados também mostram que as escolas que promovem competições de Ciências marcaram 36 pontos acima na área no exame do Pisa, enquanto as que oferecem clube de Ciências fizeram 21 pontos a mais que as outras. Confira aqui exemplos de projetos e dicas para montar um Clube de Ciências na sua escola e saiba como transformar uma  sala de aula comum em um laboratório.

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Faltas

O relatório identificou que, quando os alunos faltam na escola, as oportunidades de aprendizado são afetadas. O fato não só compromete o desenvolvimento progressivo das aprendizagens, mas prejudica o planejamento do trabalho do professor (leia mais sobre o tema e saiba como a escola pode lidar com o caso de alunos faltosos aqui).

Os estudantes que declararam faltar na escola pelo menos uma vez nas duas semanas anteriores à avaliação do Pisa tiveram pontuações menores. O teste aplicado em 2015 também indica que os índices de falta reportados no Brasil foi pelo menos 25% maior comparado à 2012. Chegar atrasado nas aulas também está associado negativamente ao desempenho.

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Tempo dedicado ao estudo

Um dos recursos mais preciosos no desempenho do aluno é a quantidade de tempo dedicado aos estudos, tanto dentro como fora da escola. Enquanto os estudantes brasileiros têm uma dedicação menor que 25 horas semanais, a média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), órgão responsável pelo Pisa, é de quase 27 horas. No que diz respeito ao tempo dedicado aos estudos fora da escola, aqueles estudantes que relataram menor dedicação marcaram uma pontuação mais baixa no Pisa.

Um ponto interessante trazido pelo relatório é que os alunos de escolas menos favorecidas passam mais tempo após a escola se dedicando aos estudos. Segundo o documento, os estudantes com mais dificuldade estudam mais tempo fora da instituição como medida compensatória e como forma de reduzir o hiato entre eles e seus pares de melhor desempenho.

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Colaboração entre o corpo docente e valorização

O relatório do Pisa 2015 aponta que não é estatisticamente significante a relação entre altos salários dos professores e bom desempenho dos estudantes. A colaboração entre os docentes, por exemplo, se mostrou como um fator que influencia mais nos resultados. Nas escolas em que os diretores relataram troca de ideias ou materiais entre a equipe, a pontuação foi 9 pontos mais alta na prova de Ciências. Na Eslovênia, essa média foi de 36 pontos a mais. A educadora argentina Delia Lerner, que pesquisa didática da leitura e escrita, acredita que o trabalho compartilhado contribui, principalmente, para a aprendizagem de quem precisa de mais apoio para avançar (leia mais sobre essa prática aqui).

Formação continuada

80% das escolas de países que participam da avaliação convidam especialistas para realizar formação em serviço dos professores. Na mesma proporção, são realizados workshops que tratam de temas específicos enfrentados pela instituição, enquanto 69% organizam workshops para grupos específicos de professores. O Pisa aponta que, em geral, as atividades internas de desenvolvimento profissional costumam ser oferecidas com maior frequência nas escolas “mais favorecidas”, urbanas e privadas. “O apoio à participação dos professores nas atividades de desenvolvimento profissional é um dos meios que as escolas podem reforçar a base de conhecimentos deles para lecionar. A formação continuada é um dos três pilares do profissionalismo docente, junto à autonomia profissional dos professores e a participação dos professores em redes de pares”, destaca o relatório. Clique aqui e confira como os gestores podem cuidar do aperfeiçoamento do corpo docente.

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Por que as respostas do questionário dos gestores brasileiros são inconsistentes  

Em alguns estados brasileiros, existe grande inconsistência nas respostas dos questionários detalhados preenchidos do Pisa, especialmente por gestores das escolas participantes. Mais de um em cada quatro gestores simplesmente não respondeu a uma pergunta tão básica quanto se a escola é pública ou privada. Em alguns estados, o índice é bem mais alto: seis a cada dez escolas baianas não informaram a que tipo de rede pertencem, por exemplo.

Mesmo quando houve resposta, outro problema é a variação nas interpretações sobre como responder às perguntas. Quando foi perguntado o nível de formação dos professores, cada escola respondeu como seu gestor considerou correto. Uma escola com 20 professores respondeu que 20 tinham graduação e 20 tinham mestrado; outra, com 46, respondeu que nenhum tinha graduação e 46 tinham mestrado. Em linguagem coloquial, as duas maneiras de responder são defensáveis; o problema é que apenas uma pode estar correta para o cálculo das estatísticas. A confusão, decorrente de má compreensão do que foi pedido ou falhas na orientação, pode levar a interpretações erradas sobre a situação.

Outros resultados disponíveis, como a quantidade de computadores com acesso à internet na escola, não batem com resultados disponíveis de outras pesquisas feitas especificamente para responder a essa questão, com amostra maior e menor taxa de não-resposta.

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