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"Avaliações internacionais são cada vez mais políticas"

Em entrevista, Oren Pizmony-Levy, da Universidade de Columbia, diz que professores e pais deveriam participar mais da definição de políticas públicas e explica porque não se deve comparar Brasil e Finlândia

POR:
Camila Camilo
Oren Pizmony-Levy

Oren Pizmony-Levy

 

Para o professor doutor Oren Pizmony-Levy, o Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos) não pode ser considerado uma medida perfeita de avaliação de estudantes. Na contramão de quem usa seus resultados para indicar sistemas educacionais a serem imitados, o docente do Departamento de Educação Comparada da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, relembra que, na origem, o objetivo das avaliações internacionais não é ranquear países, e afirma que os resultados estão ganhando contornos cada vez mais políticos, sendo usados, por exemplo, para reivindicar melhorias no sistema educacional.

Como surgiram as avaliações internacionais?
Na década de 1960, havia um grupo de estudiosos de várias nacionalidades interessado em analisar como era a Educação em diferentes países e comparar esses contextos com lupa de cientista. Eles tinham objetivos puramente acadêmicos e não havia qualquer interesse em ranquear ou apontar se um sistema educacional era melhor que o outro. Isso só começou a ser feito na década de 1990, quando mais países perceberam que poderiam usar os dados das avaliações para balizar políticas públicas. Com o tempo, os resultados ganharam popularidade não só entre quem trabalhava no governo, viraram argumento para questionar o sistema educacional vigente e reclamar por reformas, especialmente nos países mais ricos.

Então, por que os países participam das avaliações?
Hoje, acredita-se que um país moderno e sério deve submeter seus estudantes a avaliações feitas por alunos da mesma faixa etária em outros lugares do mundo. Isso dá maior evidência às políticas públicas na área. Além do mais, em alguns locais, a participação está ligada ao recebimento de fundos de agências de Educação. Há, também, a ideia de que ranquear pode ajudar a resolver problemas. Eu discordo. Na realidade, os países não estão tomando decisões com base em evidências. Se fizessem isso, seria mais difícil usar os dados como instrumento político. Hoje, nos Estados Unidos, por exemplo, é possível ver a mesma estatística sendo usada para defender ou combater um programa.

Há professores ou diretores envolvidos na formulação dessas avaliações?
Não. Infelizmente, quem está dentro das escolas não costuma fazer parte dessas discussões. Isso acontece porque, na grande maioria dos países, os professores e diretores não são envolvidos na formulação das políticas públicas nem no debate sobre a Educação como sistema. Eles são vistos como ferramentas de implementação, mas não são ouvidos no seu processo de criação nem estão entre seus propositores. E isso não acontece só com os exames internacionais. A meu ver, os professores sempre deveriam estar presentes nas decisões importantes em Educação. Eles estão na linha de frente do sistema, têm informações preciosas, um ponto de vista privilegiado e muito com o que colaborar. O mesmo se dá com os pais, que também querem ajudar a decidir os rumos da Educação do lugar onde vivem e não só observar e viver os resultados das decisões feitas pelo governo.

Qual a maneira ideal para um professor ou um diretor usar as informações do Pisa?
Da maneira como elas existem hoje, ajudam pouco quem trabalha na escola. De todo modo, o exame influencia mudanças no sistema educacional. Os educadores sofrem as consequências dessas reformas e precisam estar conscientes a respeito. Eu considero útil uma alternativa utilizada nos Estados Unidos na década de 1990 com outra avaliação internacional. Alguns vídeos mostrando educadores de outros países foram exibidos aos professores americanos. Eles tiveram, então, a oportunidade de analisar e discutir como seus colegas ensinavam, quais ferramentas usavam, se os métodos eram muitos diferentes dos que já conheciam etc.

Como é definido o escopo dessas avaliações?
No Pisa, por exemplo, o foco são habilidades. É uma lista do que se presume que as crianças deveriam saber. Para mim, trata-se de uma visão restrita porque a prova foca em competências importantes para o mercado de trabalho. Para uma sociedade democrática, essa é uma concepção limitada sobre para que serve a Educação. Além disso, a avaliação é restrita a Línguas, Matemática e Ciências. Falta abranger também o que os estudantes conhecem em Artes, História e Geografia. Mais importante do que discutir a posição de um país na lista de participantes do Pisa é focar em entender melhor como ensinamos Matemática, como o aluno aprende Ciências etc. Ou seja, pensar em como os professores podem aperfeiçoar o modo como trabalham.

No Brasil, os resultados do Pisa são frequentemente usados para comparar o nosso sistema educacional com o dos países mais bem posicionados. Isso ajuda a melhorar a Educação?
É muito fácil cair na armadilha da comparação. No Pisa, é bem comum pensar que há soluções rápidas e esquecer o contexto. Eu sempre digo aos meus alunos que fiquem atentos para o que estão comparando e em quais condições. Não faz sentido botar na mesma balança o Brasil e a Finlândia, por exemplo. São duas realidades diferentes, os contextos econômicos e históricos não combinam em nada. É muito mais razoável analisar o desempenho dos estudantes brasileiros e dos seus vizinhos na América do Sul. Ainda assim, é preciso ficar atento para o quesito destacado. Respeitar o tempo também é importante. A periodicidade da prova não é a mesma necessária para saber se uma política implementada deu certo ou não.

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