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Agressões já atingiram 68% dos jovens LGBT em escolas

Pesquisa mostra que banheiro e aulas de Educação Física são espaços mais temidos

POR:
Nairim Bernardo

Homofobia na escolaCrédito: Shutterstock

A escola ainda é um ambiente bastante hostil para muitos alunos. 68% dos jovens LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) entre 13 e 21 anos declaram já ter sido agredidos verbalmente na escola por causa de sua orientação sexual. Já as agressões físicas atingiram 26,6% dos estudantes LGBT brasileiros. Devido à violência, 60% se sentiam inseguros no ambiente educacional no último ano por causa de sua orientação sexual.

Os dados são da Pesquisa Nacional Sobre o Ambiente Educacional no Brasil, realizada pela Secretaria de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Um formulário online foi divulgado em sites de organizações parceiras, grupos em redes sociais voltados para o público LGBT, órgãos estudantis, sindicatos e instituições voltadas à defesa de direitos humanos. Entre dezembro de 2015 e março de 2016, 1.016 estudantes, 73,1% provenientes de escolas públicas, responderam às perguntas.

Toni Rey, coordenador da pesquisa em âmbito nacional e secretário de Educação da ABGLT, espera ir muito além da coleta de dados. “O nosso objetivo é influenciar as políticas públicas para que as instituições, tanto privadas quanto públicas, tenham ações eficazes para enfrentar a violência e o bullying que a comunidade LGBT sofre”, diz. Apesar de trabalhar diariamente com o tema, Tony relata ter se surpreendido bastante com os números. “Outros cinco países da América Latina realizam essa pesquisa - Argentina, Peru, Colômbia, Chile e Uruguai. Destes, o Brasil é o que apresenta maior número de agressões verbais nas escolas”.

Jorge Pereira (nome fictício), agora com 20 anos de idade, conta algumas violências sofridas durante o período escolar. “No 6º ano, alguns colegas de sala me xingavam e um menino chegou a dizer que tinha nojo de mim. Durante uma época, eu chegava em casa e começava a chorar. Já no Ensino Médio, eu escapei do bullying porque me escondia. Me sentia muito mal ouvindo os comentários que outros alunos gays sofriam. Então, por medo de perder meus amigos e sofrer agressões, só consegui me assumir quando fui para a faculdade. Para mim, terminar o Ensino Médio não foi só concluir uma etapa da vida, foi fugir de um lugar e de pessoas que me faziam mal”.

Outro dado que chama a atenção é o que diz respeito aos lugares da escola evitados pelos alunos por se sentirem constrangidos ou inseguros. Dos entrevistados, 38,4% declaram evitar usar o banheiro e 36,1% se sentem mais vulneráveis nas aulas de Educação Física. Além de evitar alguns espaços, quase um terço (31,7%) dos estudantes LGBT declaram ter faltado à aula pelo menos um dia no último mês.

Adultos também agridem

Os jovens não são os únicos a cometer atos de violência. A pesquisa mostra que 69,1% dos alunos ouve comentários LGBTfóbicos de professores ou funcionários da instituição. Além disso, a frequência com que funcionários da escola estavam presentes nos momentos de agressão verbal é de 64,7%. Enquanto 8,3% dos estudantes sempre intervém em casos de agressão, apenas 3,5% dos professores tomam uma atitude em todos os casos. E, segundo os alunos, em 55,9% dos casos as medidas tomadas pela instituição não são eficazes (leia reportagens de NOVA ESCOLA sobre sexualidade, gênero e feminismo).

Para Maria Cristina Cavaleiro, docente da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) e coordenadora do Grupo de Estudos de Sexualidade e Gênero, a maior dificuldade está no fato de que grande parte dos professores e funcionários não entende que muitas piadas e brincadeiras são, na verdade, uma agressão. “Os educadores precisam compreender que estão diante de casos de violência. Para isso, é necessário promover formações sobre o assunto”, alerta.

Em vez de procurar casos de alunos LGBT ou supor que a escola não tem nenhum, é necessário desenvolver ações permanentes de combate à homofobia. “As formas como o preconceito se apresenta reinventam-se com muita facilidade. Por isso, a escola precisa estar sempre atenta e trabalhar questões de gênero e sexualidade. Não adianta chamar alguém para dar uma palestra e considerar que o problema está resolvido. O trabalho precisa ser diário”, reforça Maria Cristina.

Como a escola nem sempre toma medidas eficazes para prevenir a violência e, em muitos casos, não sabe ou prefere não agir diante de uma denúncia de LGBTfobia, apenas 10,7% dos entrevistados dizem sempre denunciar as violências e agressões sofridas na instituição de ensino. Um número ainda menor, 7,7%, conta para a família. Mas 38,7% dos familiares nunca procuraram a escola para conversar sobre essas agressões.

“Às vezes, a direção da escola resolve chamar a família, mas boa parte delas são homofóbicas. Por isso, infelizmente, convocar familiares ou responsáveis em casos pontuais pode ser arriscado para o próprio aluno agredido”, explica Maria Cristina. Para ela, a melhor maneira de tratar a questão é fazer com que discussões sobre gênero e sexualidade cheguem até os responsáveis como parte de um projeto permanente de combate à homofobia e outros preconceitos. “O problema não são os gays, lésbicas, travestis ou transexuais. O problema é a homofobia da sociedade, que também está presente na escola, e deve ser combatida”, resume.

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