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Inep divulga resultado do Enem 2015 por escola

Desafio dos gestores é olhar para o aprendizado em vez de apenas se preocupar com a posição no ranking

POR:
Ana Ligia Scachetti

Atualizado em 7 de outubro de 2016

Os disputados rankings do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015 acabam de ser divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Confira todos os detalhes no site do órgão (atenção, o resultado dos institutos federais não estão incluídos nesta divulgação). Diante deles, escolas, pais e alunos focam-se em buscar em que posição cada instituição ficou. O ranking, no entanto, é o que menos importa e deve ser visto com bastante cautela.

A lista traz resultados semelhantes aos das edições anteriores. Instituições particulares estão na primeira posição e as públicas mais bem colocadas são federais, especialmente colégios de aplicação. O primeiro cuidado é ter clareza de por que isso acontece. “O ranking do Enem simplesmente consagra as escolas que fazem seleção de seus alunos”, comenta José Francisco (Chico) Soares, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e ex-presidente do Inep. “Entre as bem classificadas, as privadas selecionam seus alunos pela renda e entre os que podem pagar escolhem os alunos que se saem bem em provas. Esta seleção é frequentemente feita ao longo dos anos, convidando-se os alunos mais fracos a saírem da escola. As escolas públicas, que estão entre as melhores colocações, são aquelas que admitem seus alunos através de difíceis vestibulares.”

Comparação na medida certa
O próprio Inep, ao divulgar os dados, alerta: “Toda e qualquer comparação entre escolas pertencentes a contextos diferentes sem a devida ponderação entre o desempenho e os diferentes fatores intra e extra escolares a ele associados é considerada indevida”. Mas é possível fazer uma análise positiva e produtiva, buscando instituições de perfil semelhantes e tentando entender, em conjunto com elas, que ações foram implementadas e podem servir de inspiração para outras unidades. É uma política da boa vizinhança e de troca de conhecimentos que pode ser estabelecida pelos diretores.

“Sozinha, a escola encontra uma série de dificuldades”, relata Marília Novaes, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa Cedac. “Quando duas instituições se unem, os gestores podem compartilhar as soluções que encontraram. Isso é solidariedade. Quando conto os meus saberes para outras pessoas, eu descubro o que minha escola fez de bom e outros também vão poder ganhar com isso. E quem mais ganha é o aluno.”

Chico Soares ressalta que não se deve desconsiderar que entre as escolas líderes há projetos de muito boa qualidade pedagógica. “Eles precisam ser conhecidos e podem inspirar as mudanças que o sistema de Educação Básica brasileira precisa”, comenta. “Se a viabilidade desses projetos vem das boas condições de funcionamento e dos alunos selecionados, por outro lado são experiências feitas com estudantes e professores brasileiros e, portanto, úteis para indicar formas de organização do Ensino Médio que podem ser usadas em escolas públicas.”

Análise que leva à ação
Ao verificar as notas cabe, também, atentar para os outros indicadores que a acompanham. Por exemplo, qual é o número de alunos cadastrados no Censo e quantos participaram do Exame. O desafio de conseguir uma boa média aumenta conforme cresce a quantidade de avaliados. Há, ainda, informações sobre a permanência, o nível socioeconômico, a formação docente e as taxas de aprovação, reprovação e abandono. “Há possibilidades de análise muito grandes”, aponta Marília. “O diretor precisa olhar pra dentro. Ele e o coordenador pedagógico têm de mergulhar nesses dados para poder entender como a escola está, o que avançou em relação ao ano anterior e como está o aprendizado dos alunos.”

Marília sugere que a gestão se faça perguntas como “O que os números de permanência e abandono nos diz”. Num segundo momento, a reflexão deve ser feita com os professores. “É necessário traçar um plano de ação para este ano ainda e projetar metas para o ano que vem”, alerta. “Este é um momento precioso para levar insumos para o projeto político-pedagógico (PPP) da escola.”

Há, infelizmente, uma grande lacuna na divulgação do Enem. Aspectos pedagógicos não são evidenciados e isso desfavorece que os gestores possam avaliar o trabalho nessa área. “Esta é uma cobrança importante, uma grande falha do Enem”, admite Soares. “Não consegui, enquanto estava no Inep, desenvolver algo como a Plataforma de Devolutivas Pedagógicas para o Exame.”

Formação além do Enem
Independentemente da nota boa ou ruim, a instituição precisa refletir, ainda, sobre que aspectos formativos estão sendo privilegiados em seu currículo. “Às vezes, o aluno vai bem no Enem, mas não vai bem em outros aspectos, como as questões ligadas à convivência e às relações”, avisa Marília. Essa clareza sobre que jovem se deseja formar e o que está sendo feito para isso precisa, também, ser dividido com as famílias.

Como os resultados do Enem costumam ser amplamente divulgados, é natural que os pais olhem para o ranking e se sintam satisfeitos ou incomodados. A direção precisa, então, esclarecer melhor e compartilhar o seu plano de ação. “O posicionamento da escola perante a comunidade é fundamental para fortalecer o vínculo e a confiança”, destaca Marília.

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