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Sábado letivo e também produtivo

Saiba quando optar por programar aulas e atividades no fim de semana

POR:
André Bernardo
Pai e filho fizeram uma apresentação para alunos, educadores e familiares da EM Anita Garibaldi. Foto: Divulgação
Em família Pai e filho fizeram uma apresentação para alunos, educadores e familiares da EM Anita Garibaldi

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a carga horária anual deve ser de pelo menos 800 horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias de efetivo trabalho escolar. Simples? Nem tanto. No meio do caminho, pode haver uma paralisação de funcionários e professores ou um número excessivo de feriados, interferindo no calendário. Nem sempre é possível inserir o tempo a mais de segunda a sexta-feira. Quando isso acontece, o sábado pode ser a única alternativa.

Em 2014, os jogos do Brasil na Copa do Mundo levaram alguns gestores a liberar as classes. Conclusão? Mais aulas para repor. No CE João Guimarães, em Italva, a 345 quilômetros do Rio de Janeiro, a diretora, Élia Márcia, contabilizou sete sábados letivos, cinco dedicados à reposição. "O pessoal reclamou, mas entendeu", afirma. Na primeira reunião de pais, ainda no mês de fevereiro, Élia avisou que aquele seria um ano atípico por causa do campeonato, mostrou quantas horas seriam perdidas e garantiu que haveria aprendizado efetivo também no final de semana. Para assegurar a presença dos estudantes, sempre que marcava aula aos sábados, ia de sala em sala, convocando as turmas a comparecer. "Não adianta o professor ir à escola e não encontrar ninguém", justifica.

E, como não é todo ano que o Brasil sedia a Copa do Mundo, Élia resolveu dedicar uma dessas datas especiais ao assunto. Ao término dos dois primeiros períodos de aula, as classes assistiram a um vídeo no auditório. Entre outros temas, o documentário tratou da carreira dos atletas e da paixão do brasileiro pelo futebol. Terminada a sessão, os alunos fizeram um rápido lanche e seguiram para a quadra onde protagonizaram o seu próprio campeonato. Todas as atividades foram pensadas de acordo com temas trabalhados em várias disciplinas antecipadamente. O jogo, por exemplo, foi coordenado pelo professor de Educação Física. "Para dar certo, todo dia letivo tem de ser bem planejado. Não dá para fazer de qualquer jeito, só para cumprir tabela", diz a diretora.

Por mais produtivo que seja o sábado, o ideal é que ele constitua uma exceção, e não uma regra, no calendário escolar. Essa é a opinião de Rosimar Siqueira Esquinsani, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Passo Fundo (UPF). Segundo ela, as ações mais indicadas para ser realizadas nessas datas são aquelas que se diferenciam do cotidiano escolar, como feira de Ciências ou visita a museus e bibliotecas. "Para ter o status de letivo, deve haver, nesse ou em qualquer outro dia, a presença dos alunos. Assim sendo, reunião de pais não caracteriza, em tese, dia letivo", ressalva. Na hora de organizar o calendário, Rosimar dá uma dica: em vez dos 200 dias previstos, os gestores podem reservar uns 205 e, assim, garantir uma margem de segurança. "Se algo acontecer, haverá uma compensação."

Programação planejada

Como Élia comentou, o sábado letivo não é das resoluções mais populares. Ele consegue desagradar alunos e docentes. Pedro Demo, PhD em Sociologia e docente da Universidade de Brasília (UnB), considera que só há aulas nesse dia quando as coisas não se resolvem no tempo regulamentar. Na opinião dele, o sábado pode ser usado em situações de conserto tardio. Mas, para dar resultado, precisa fugir da mesmice e de formatos batidos como o ensino baseado em cópia. "A criança só aprende se lê, pesquisa e estuda com autonomia. Se isso fosse feito de segunda a sexta-feira, poderíamos usar o final de semana para coisas mais edificantes", pondera.

Diretora da EM Anita Garibaldi, em Joinville, a 176 quilômetros de Florianópolis, Lucélia Krelling afirma que, em 2014, a instituição teve um único sábado letivo. Nele, a gestora organizou uma integração entre pais, alunos, docentes e funcionários que também serviu como um momento importante do projeto de leitura, assunto eleito como prioritário pela equipe da escola no início daquele ano. Nos meses anteriores, cada turma estudou um gênero literário: contos de fadas, histórias de suspense etc. "Nesse dia, as crianças apresentaram o trabalho realizado com os professores sobre esse tema", relata. "Uma classe fez um teatro e outra organizou um jornal."

Além das atividades pedagógicas, a escola preparou uma programação com jogos e oficinas, incluindo um campeonato de xadrez e uma aula de hip-hop. Lucélia montou a grade de horários com antecedência, envolveu alguns docentes e familiares para dar os cursos e convidou todos da comunidade para se inscrever. Uma das ações está na foto que abre esta reportagem. "A realização de uma confraternização como essa em um sábado acaba refletindo no aprendizado da criança, que se empenha mais, e os pais também ficam satisfeitos em participar e prestigiar a apresentação dos filhos", comemora a gestora.