Ir ao conteúdo principal Ir ao menu Principal Ir ao menu de Guias
Notícias
5 4 3 2 1

Para muitos gestores, qualquer coisa é desculpa pra não fazer

Rodrigo Barbosa Froés, gestor que está entre os vencedores Prêmio Educador Nota 10 de 2016, conta como não desistiu da gestão, por mais que houvesse dificuldades no caminho

POR:

Rodrigo Froés, 29, recebu o Prêmio Educador Nota 10 em 2016 pelo projeto "Educação de Qualidade, responsabilidade de todos"

"Como gestor você rema contra a maré o tempo todo. Enfrenta problemas estruturais, de legislação, falta de apoio, de ajuda... aí bate sempre a vontade de desistir. Mas como? Aprendi isso com minha mãe: a dormir, acordar, esquecer e nunca tomar uma decisão de impulso. Ela é um poço de paciência, o mundo pode estar caindo e ela está lá, calma. Já eu sou ansioso, inquieto e quando tem algum problema, eu corro para resolver. Em geral, em um processo de mudança de direção escolar, é esperado que você arrume a casa em um ano, coloque em prática as ideias no segundo e, no terceiro, colha os resultados. Na A escola está localizada em uma área bastante violenta de Manaus (AM) e apresentava altos índices de evasão e a oferta da Educação de Jovens e Adultos poderia ser interrompida. Em menos de um ano consegui articular professores, funcionários, alunos e pais para melhorar a infraestrutura, a formação da equipe e trazer os alunos de volta (saiba mais sobre o trabalho de Rodrigo, que foi um dos vencedores do Prêmio Educador Nota 10 aqui).

Para conseguir fazer tudo isso no período de um ano letivo, contei muito com a experiência que acumulei na Educação desde o início da minha carreira. Comecei cursando História e, já no último período da faculdade, me convidaram para dar aula em turma de 1º ano, para alunos de 8 anos. Quando cheguei lá na escola, que ficava muito longe, a professora da outra turma tinha desistido. Entrei para dar aula para 70 alunos, de duas turmas, que estavam ali só pela merenda, a maioria sem saber ler e escrever. Levei essa situação por três meses sozinho, até entrar uma professora experiente com quem aprendi muito. Estabeleci com ela uma relação de parceria e deu tudo certo!

Depois de formado, comecei a dar aulas de História e Geografia pela Secretaria de Educação do Estado do Amazonas para comunidades indígenas do interior. A primeira foi Itapereira, em São Gabriel da Cachoeira, onde vivem os Baniwa e os Tucano. Passei por várias comunidades em três anos, vinha a Manaus só por alguns períodos. Acho que essa experiência formou minha visão profissional, aprendi com os índios que era preciso ser prático, objetivo e que a escola deve preparar para a vida. Eles têm respeito pelo professor, pela Educação. Eu sinto saudades, foi um tempo bom. Para a gestão também me ensinou muito, pois nas tribos não são individualistas, se pensa no todo, no bem comum.

Sei que mudar a Educação é um desejo meio utópico, mas é um ideal pra mim. Quero ver mudanças. Já levei bronca de uma professora minha na graduação, que disse: “é muita audácia sua achar que está mudando a Educação”. Mas disse para ela que, se cada um fizer bem a sua parte, vamos conseguir mudar sim. Acho que tem muita gente dando desculpas para não fazer a sua parte: diz que o governo não investe, que a estrutura está deteriorada. Eu mudei a gestão mesmo sem investimento, sem ajuda.

Claro que é difícil para os docentes, que, às vezes, dão tudo de si e os alunos não reagem. Da mesma forma que os jovens de hoje não respeitam seus pais, também não respeitam professores, regras, limites. E isso impacta o resultado da aprendizagem. Os professores precisam aprender a lidar com a frustração, mas seguir trabalhando.

Noto as pessoas perdendo energia em coisas fúteis. Os jovens se mobilizam para votar contra ou a favor de alguém em um reality show, mas não fazem nenhum tipo de mobilização para pintar a escola ou organizar um mutirão de limpeza, dizem que isso é obrigação da prefeitura. Acho que, hoje, temos uma sociedade que não sabe usar a liberdade, pois está pautada em falta de respeito e de valores. Sempre busquei basear minhas relações com os outros em respeito e em valores, pois tive isso em casa, vindo da minha mãe que não sabe ler nem escrever, mas tem inteligência prática e vivida. Hoje, reconheço que articular profissionais de diferentes áreas, pais de alunos e estudantes é uma tarefa difícil, mas vale muito a pena. Dá trabalho, o desafio é imenso, mas quando a gente consegue resultados, a sensação de realização é ainda maior."

Rodrigo Barbosa Froés é diretor escolar da EM Antônio Matias Fernandes, na cidade de Manaus (AM) e Educador Nota 10 de 2016.

Depoimento a Maggi Krause