O jeito do gestor ideal
Nem toda forma de gerir favorece a aprendizagem. Descubra se você está no caminho certo
POR: Fernanda SallaGeralmente visto com calculadora e planilhas em mãos tentando deixar as contas da escola em ordem, há diretores que mais parecem contadores. Outros gostam de refletir muito sobre o que é educar e, com perfil de filósofo, volta e meia estão envolvidos em debates e reflexões teóricas sobre docência. Em ambos os casos, a aprendizagem dos alunos, meta principal da gestão escolar, corre perigo, porque as principais ações postas em práticas por eles não têm esse fator como norte.
É verdade que muitos coordenadores pedagógicos e diretores ainda não sabem com exatidão seu papel. E por isso não desempenham o que se espera deles. Confundem o que é responsabilidade de um e de outro e se frustram porque a escola parece sempre envolvida com os mesmos problemas. Mas cada um tem ocupações específicas e seu cotidiano deve ser marcado por tarefas diferentes (porém complementares).
“No Brasil, é comum que a dupla gestora aprenda o que cada um deve e não deve fazer no exercício do cargo, aos poucos, em meio a tentativas e erros”, diz Beatriz Gouveia, diretora pedagógica da Somos Educação. Para complicar, há muitos nomes para o cargo de coordenador: orientador educacional, pedagogo, supervisor escolar, assistente pedagógico, professor coordenador etc. “Um indício de que a função não está bem definida. Quem se candidata à vaga de coordenador acaba construindo uma ideia do que é a profissão dependendo de como o cargo é chamado na rede”, diz Rosaura Soligo, coordenadora de projetos do Instituto Abaporu de Educação e Cultura, em São Paulo. A isso soma-se o fato de cada lugar ter listas próprias de atribuições. “A configuração da função do coordenador depende da legislação, da estrutura da escola (como ela se organiza e com quais funcionários conta) e do sentido que o próprio profissional dá ao trabalho”, diz Laurinda de Almeida, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
No caso do diretor, as diferentes formas de escolha (concurso público, eleição pela comunidade escolar ou nomeação política) influenciam nos interesses que vai defender, qual linha pedagógica seguirá e as prioridade curriculares.
Sem ter quem diga especificamente o que cabe a cada gestor, surgem desvios na função. “Para compreender a parte de cada um e ter um perfil adequado, que se encaixe nas atribuições do cargo, é preciso ver a escola como um espaço de construção coletiva. Os profissionais têm de atuar em parceria”, diz Marília Novaes, formadora da Comunidade Educativa Cedac, em São Paulo.
Mesmo em países que há formações e exigências específicas para ser diretor de escola, nem todos têm um mesmo perfil de gestão. Na Inglaterra, os pretendentes ao cargo passam por um programa de quase um ano, entrevista e testes para assumir a posição na escola. Mas pesquisadores do Centre for High Performance, no Reino Unido, investigaram os estilos de liderança escolar comparando ações com resultados no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) e identificaram a existência de cinco estilos. Apenas um se mostrou eficiente na melhoria do desempenho dos estudantes.
O lado pedagógico da direção
O diretor tem de criar mecanismos para que questões burocráticas não tenham mais peso que as educativas. Deve organizar as demandas e distribuí-las levando em conta as habilidades e atribuições de cada membro da equipe e fazer a gestão compartilhada da aprendizagem com o coordenador, além de garantir tempo e espaço para que ele forme os docentes. “Ainda cabe a ele articular famílias, funcionários, educadores e alunos para que participem da gestão”, diz Ana Benedita Brentano, do Instituto Avisa Lá, em São Paulo. Assim, planeja e constrói, como um arquiteto, uma estrutra que se sustenta mesmo em sua ausência.
“Não há nada mais administrativo do que o próprio pedagógico, ou seja, o processo de educar. É o fazer pedagógico que dá a razão de ser do fazer administrativo, senão esse se reduz à mera burocratização, fazendo-se fim em si mesmo e negando os fins educacionais a que deve servir”, conforme Vitor Paro, da Universidade de São Paulo (USP), em Diretor Escolar: Educador ou Gerente?.
Coordenação em construção
No Brasil, cada vez mais se consolida a importância do coordenador pedagógico como formador de docentes. Mas muitos assumem o cargo sem ter plena noção de que essa é a principal função. “Não é verdade, por exemplo, que o bom professor será necessariamente bom coordenador”, diz Adriana Pierini, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Sem ter a consciência de que tem de atuar com formação e sem conhecimentos específicos, alguns podem fazer as formações descoladas da prática escolar”, diz Rosaura. A indefinição e desinformação sobre a coordenação também fazem com que acabem agindo como um bombeiro, apagando incêndios ao assumir problemas docentes. O desejável é que o coordenador seja parceiro do diretor e dos professores.
Identificamos cinco perfis de diretor e outros cinco de coordenador e elaboramos testes para você descobrir em qual se encaixa, refletir sobre como exerce a função e ler dicas para se aprimorar:
Ilustrações: Ale Kaiko
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