Assembleias escolares: uma experiência vivenciada na prática
POR: Muriele Massucato
Olá colegas,
No post anterior, “Qual é o papel do coordenador pedagógico na mediação dos conflitos entre alunos”, comentei sobre a necessidade da abordagem formativa dos coordenadores pedagógicos, capacitando sua equipe docente para o enfrentamento adequado da questão. No texto, citei o trabalho com as assembleias escolares como sugestão prática para isso.
Em uma unidade escolar aqui da rede municipal de São Bernardo do Campo, SP, escola na qual atuei por três anos como coordenadora pedagógica, já havia desenvolvido um projeto para inserção das assembleias escolares como alternativa à mediação dos conflitos. É justamente esta a experiência que eu vou dividir aqui com vocês hoje.
Em 2013, a situação da “terceirização” da mediação dos conflitos era algo relativamente comum nessa escola. Os casos de indisciplina eram geralmente passados à direção ou coordenação pedagógica, que conversavam com as crianças e buscavam estabelecer acordos. Porém, por não serem parte dos agrupamentos nos quais estas crianças estavam inseridas, os combinados não eram acompanhados diariamente.
Além disso, o compromisso entre a criança e as gestoras acabava ficando fora da sala de aula. Conclusão: muitas vezes a reincidência era frequente, demonstrando que o conversado com a equipe gestora não era refletido no cotidiano do aluno com a sua turma.
Ressalto, contudo, que não era má vontade ou descaso dos professores – ao contrário, se tratava de uma equipe muito séria e competente –, mas sim de uma concepção equivocada. De forma geral, as crianças achavam que os problemas de relações interpessoais eram demandas da equipe gestora e, por isso, não tinham a ver com as salas de aula.
Então, para contribuir com o meu grupo, discutimos em HTPCs alternativas viáveis para que os conflitos e indisciplina fossem abordados em sala de aula, no contexto e no momento em que ocorressem, contando sobretudo com a participação do professor e das crianças na resolução dos conflitos.
Lemos sobre asssembleias escolares nos livros de autoria do professor Ulisses F. Araújo, da USP: "Assembléia Escolar: Um Caminho para a Resolução de Conflitos"' e "Autogestão na Sala de Aula: As Assembleias Escolares".
Também assistimos ao documentário “Assembleias Escolares”, de direção de Roberto Machado e disponível nos materiais do MEC TV Escola.
Após a formação, vivenciamos a proposta na prática. Os professores aderiram em sua totalidade à iniciativa, inserindo as assembleias de classe enquanto ação permanente da rotina das turmas, semanal ou quinzenalmente. Percebemos, logo de imediato, impactos positivos na escola. Os professores relataram boa gestão de sala de aula e uma relação mais humanizada e respeitosa entre suas turmas. As gestoras praticamente não mediavam mais situações corriqueiras, do cotidianos das salas de aula.
Porém, no ano seguinte, enquanto as salas estavam, de modo geral, mais calmas, o ambiente profissional na escola estava um tanto agitado. Acontecia um pouco de tudo: insatisfações do grupo, fofocas entre os profissionais, conflitos entre colegas de trabalho e outras situações corriqueiras, mas muito desafiadoras. Portanto, ampliamos a proposta das assembleias escolares com os funcionários da nossa equipe.
Foi uma experiência maravilhosa. Durante todo o ano realizamos assembleias previamente agendadas, com a participação de todos os profissionais. Nas reuniões, eles felicitavam as ações assertivas da equipe, criticavam as ações ou atitudes que incomodavam (sem citar nomes) e sugeriam melhorias, cuidando sempre para não exporem as pessoas. Sempre relembrávamos os combinados, ressaltando a importância de transformarmos ações ou situações, e não "mudarmos as pessoas". Por isso, nomes ou indiretas eram proibidos.
Estes acordos sempre deram muito certo! Os cartazes com os registros das reuniões ficavam disponíveis para todos na sala dos funcionários. Sentimos, enquanto equipe, uma melhoria significativa nas relações profissionais. As decisões e encaminhamentos das reuniões eram demanda não só da equipe gestora, mas sim de todo o grupo. Ou seja, um compromisso de cada um e de todos nós! Os resultados deram tão certo, que o projeto foi inserido no PPP da unidade escolar, para preservar, valorizar e ampliar este trabalho na escola.
Tivemos, no terceiro ano de incorporação das assembleias escolares, experiências piloto em reuniões de pais, nas quais os professores mediavam assembleias com as famílias, dentro das salas de aula. Os resultados de todas as turmas foram compilados e tabulados pela equipe gestora, que incorporou, em parceria com a equipe escolar, várias observações das famílias como demandas para os planos de ação do PPP da escola, em consonância às expectativas da comunidade.
Foram anos muito produtivos e significativos de crescimento para todos e agora, atuando em uma nova unidade escolar, vejo novamente a necessidade de incorporação deste trabalho. Estou, no momento, abordando conceitualmente o tema com a equipe docente do Ensino Fundamental, em uma sequência formativa de quatro HTPCs, e deixo aqui como sugestão os materiais formativos que organizei. Em breve realizaremos uma assembleia escolar com os professores e já estou na expectativa de colher novamente bons frutos com a ação.
E vocês, já vivenciaram a proposta das assembleias escolares? Vamos compartilhar nossas experiências?
Um abraço,
Muriele Massucato
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