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Telma Vinha é professora de Psicologia Educacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Telma Vinha É professora de Psicologia Educacional da Universidade de Campinas (Unicamp)
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Agressões pouco vistas e muito sentidas

Quando os pares ajudam a vítima, têm potencial de reduzir danos e até mesmo de interromper a agressão

POR:
Telma Vinha

Julia anda aflita, pois Ana ameaça romper a amizade caso ela não faça suas tarefas escolares. Marcos se isolou de todos no recreio desde que percebeu um grupo de colegas interromper a conversa com a sua aproximação. Rafaela não quer mais ir à escola por causa do boato de que estaria grávida. O sofrimento desses estudantes chama a atenção para agressões corriqueiras que passam despercebidas pelos educadores. Como não causam grande alarde, muitas delas são de difícil identificação. Outras são consideradas inofensivas e por isso não recebem a devida importância.

Britt Galen e Marion Underwood, pesquisadoras do Reed College, nos Estados Unidos, denominam agressão social as atitudes de excluir alguém, espalhar rumores ou manipular o outro. Quem agride tem o objetivo de prejudicar os relacionamentos, o status social e a autoestima do colega, de um modo que não é explícito como as agressões físicas e verbais. Seu caráter camuflado fica evidente quando o autor oculta sua identidade ou a intenção de causar dano. Por exemplo, espalha boatos em bilhetes anônimos, faz caretas pelas costas ou cria perfis falsos em redes sociais.

A agressão social não passa despercebida. Em sua pesquisa de mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Warley Correa apurou que 97,5% dos estudantes do Ensino Médio de escolas públicas declararam ter observado ao menos uma forma de agressão social. As indiretas são as mais comuns: um aluno se vê alvo de rumores ou olhares que o agridem, mas não sabe a origem. Um dos participantes afirmou: "Aqui, nada é feito pela frente".

De nada adianta censurar ou dar broncas. Medidas pontuais para cessar o conflito costumam ser ineficazes nesse tipo de agressão. É preciso ter ações sistematizadas para fortalecer valores e estimular a convivência ética na escola. Vale a pena trabalhar com os estudantes esse comportamento ao promover discussões coletivas, compartilhar vivências, investir em propostas que desenvolvam a empatia e a expressão dos sentimentos e favoreçam o protagonismo juvenil. Isso acontece nas equipes de ajuda, grupos de alunos que - como o nome já diz - se dedicam a ajudar a quem precisa por ter sido intimidado por alguém.

É importante, ainda, valorizar a atuação dos que testemunham esses conflitos, pois costumam ser os primeiros a percebê-los. As agressões sistemáticas são muitas vezes incentivadas pelas atitudes das testemunhas. São inúmeros os ganhos quando os pares ajudam a vítima, pois eles têm potencial de reduzir danos e até mesmo interromper a agressão. A formação de redes de apoio com a participação de diferentes atores, como professores, alunos, gestores, funcionários e pais também permite que cada um encontre logo ao seu lado alguém disposto a unir forças em busca da convivência solidária e ética.