O que fazer antes, durante e depois das saídas pedagógicas?
POR: Muriele Massucato
Olá, pessoal,
Esta semana, conversando com a Leticia, uma colega que também é coordenadora pedagógica da rede onde trabalho, discutimos sobre a importância de pensar os famosos “passeios” (“visitas-estudo” ou “saídas pedagógicas”). Os nomes que damos são muitos e, em geral, querem dizer a mesma coisa: experiências escolares promovidas para além dos muros da escola.
Mas será que, de fato, temos clareza quanto à importância desses momentos? Nossa conversa ao telefone rendeu o post de hoje. Veja só:
Uma das competências gerais previstas na Base Nacional Curricular Comum destaca a importância de “Desenvolver o senso estético para reconhecer, valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também para participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural” (p. 18 – Base Nacional Curricular Comum).
LEIA MAIS: Guia da Base
Pois bem, sabemos que os passeios são, geralmente, experiências muito alegres e aguardadas por nossas crianças. Muitos de nós temos boas lembranças dessas vivências escolares. Talvez até sejam as memórias mais interessantes que ficaram desse período, não é verdade? Mas para que as saídas sejam momentos de verdadeiro estudo e aprendizado, faz-se necessário um olhar pedagógico, foco do nosso trabalho como coordenadores.
Costumo inserir os professores na seleção dos locais de visita, recomendando que reflitam sobre os objetivos curriculares de cada turma. Uma boa maneira de fazer isso é buscar, em equipe, associar a saída ao currículo anual previsto no projeto político-pedagógico (PPP) ou às sequências didáticas que estão vivenciando.
Na escola onde trabalho, a organização prática dos passeios fica a cargo da vice-diretora, que faz a reserva nos locais selecionados, contrata o transporte, define os horários de lanche, providencia os bilhetes e estabelece os funcionários que irão com as turmas. À coordenação compete o olhar pedagógico para análise dessas saídas com foco nas boas situações de aprendizagem.
Mas eu já trabalhei em uma escola onde a concepção de passeio por mero lazer e diversão era muito forte. As visitas não eram organizadas de acordo com as necessidades das aprendizagens dos alunos e era sempre difícil abordar a questão com a equipe.
Então, para promover uma reflexão crítica a respeito, realizamos em HTPC e Reuniões Pedagógicas visitas a museus e teatros com o grupo de educadores. Refletíamos sobre as possibilidades culturais locais pouco acessadas por nossos alunos, familiares e até mesmo por nós, profissionais da educação.
Certa vez uma professora sabiamente relatou em uma destas reuniões que as crianças vão com muita frequência aos cinemas, shoppings e aos parques de diversão, mas são raras as visitas aos museus e aos teatros com a família.
Concluímos, então, que cabia às escolas investir em saídas culturais que não são do conhecimento e hábito dos pequenos, incentivando-os para que possam fazer o mesmo em seus núcleos familiares. Com estas discussões, melhoramos as saídas pedagógicas, pois finalmente compreendemos alguns objetivos centrais desta ação, que são:
- Conhecer e se apropriar dos espaços e equipamentos no território onde vivemos;
- Despertar a sensibilidade e a criticidade frente às diferentes manifestações culturais e artísticas disponíveis na região;
- Vivenciar a aprendizagem através de novas experiências, na qual o educando interage de modo ativo, interpreta e se relaciona com o objeto de estudo, inserido em contexto social;
- Adquirir hábitos saudáveis relacionados ao lazer, arte, esporte e cultura.
Com a clareza dos objetivos ficou mais fácil refletirmos sobre o que propor. Estabelecemos, por fim, alguns cuidados no antes, durante e depois desta ação. Vejam abaixo algumas dicas importantes:
O que fazer antes:
- Reflita com a equipe docente sobre possibilidades de locais de visita a partir do currículo, projetos e sequências didáticas
- Faça uma roda de conversa em sala de aula ou conselho mirim, apresentando as possibilidades às crianças e verificando seus interesses
- Cuide com antecedência e planeje os aspectos organizacionais (reservas, bilhetes, transporte, lanche) – ação em parceria com a direção ou vice-direção da escola
- Estude e pesquise com os alunos o local a ser visitado. Registre as dúvidas e curiosidades para levarem no dia da saída
- Deixe claro nos bilhetes ou em Reunião de Pais os objetivos pedagógicos da atividade proposta
- Incentive toda a turma a participar. Se necessário, ligue para os pais que não autorizaram a participação dos filhos para falar mais a respeito
O que cuidar durante:
- Invista, sempre que possível e se for o caso, para que as visitas-estudo sejam monitoradas, considerando o maior aproveitamento do passeio
- Fotografe e filme a atividade, como possibilidade de registro do processo de aprendizagem dos alunos
- Busque esclarecer as dúvidas elencadas previamente com a turma e permita que os alunos verbalizem suas impressões e opiniões
- Registre as novas descobertas e aprendizagens para retomada posterior em sala de aula.
O que promover depois:
- Planeje atividades de retomada do que foi vivenciado durante a saída. As propostas podem ser diversas: roda de conversa, registros em desenhos com legenda, painel “Nossas descobertas”, “Você sabia” etc. Importante: cuide para incluir na proposta as crianças que não participaram da saída pedagógica
- Compartilhe as fotos e filmagens no blog ou site da escola (atentando-se às autorizações para uso de imagem)
- Promova socializações das fotos e das atividades em eventos como Mostra Culturais e Reunião de Pais
- Solicite aos professores que promovam a avaliação da atividade, por meio da escuta da turma, feedback das famílias e elaboração de registro reflexivo ou relatório docente.
Esta análise e reflexão precisam acontecer constantemente com a equipe docente e ser foco constante do Projeto Político Pedagógico, esclarecendo no documento os objetivos e intenções da escola ao propor tais saídas pedagógicas.
E vocês colegas, como têm promovido estas discussões e reflexões? Vamos contar aqui nossas experiências a respeito?
Um abraço,
Muriele Massucato
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