Qual a relação entre clima organizacional e trabalho com a comunidade?
Quando falamos em gestão escolar estamos nos referindo a um conceito relacionado à mediação para se alcançar os fins de uma proposta educacional consistente
POR: Cláudio NetoOs educadores sabem e os estudos confirmam: um bom clima organizacional e o trabalho consistente com a comunidade escolar surgem de um modelo de gestão que valoriza o diálogo e acredita na construção coletiva do projeto educativo. Esses dois fatores, portanto, estabelecem razão e sentido à gestão voltada para a qualidade de ensino.
Quando falamos em gestão escolar estamos nos referindo a um conceito relacionado à mediação para se alcançar os fins de uma proposta educacional consistente. Isso passa pela convivência entre os educadores, os estudantes e a comunidade escolar (sujeitos diretamente envolvidos no processo educativo). Além disso, como bem disse o professor da Faculdade de Educação da USP Vitor Paro, assegura a natureza necessariamente democrática da Educação, para a formação de personalidades “humano-históricas”.
Como falei no meu primeiro texto aqui no blog, sobre o papel do diretor no clima organizacional, o clima escolar é um fator que influencia a qualidade de ensino e reflete a prática democrática ou antidemocrática de uma organização. No caso de uma gestão democrática, da qual decorre um clima favorável à atividade pedagógica, o trabalho com a comunidade passa a ser extremamente relevante. Tudo isso só é possível a partir da visão que concebe a figura do diretor como um articulador do Projeto Político-Pedagógico da escola.
Por isso, cabe à gestão escolar liderar um projeto educacional voltado para um modelo conceitual na perspectiva multidisciplinar, uma vez que a gestão e o ensino “são os dois grandes processos que interagem para a produção do desempenho dos alunos”, segundo o professor Chico Soares, um dos maiores especialistas brasileiros em avaliação e medidas educacionais. Em minha opinião, soma-se a esses dois processos a relação da escola com a comunidade, que, por vezes, não é uma coisa muito fácil de viabilizar.
Então o que fazer?
Algumas pessoas podem perguntar o que as escolas bem sucedidas fizeram para alcançar tais resultados. Se fizermos um levantamento a respeito disso vamos encontrar coincidências do tipo: gestão democrática, clareza na proposta pedagógica, valorização do protagonismo dos estudantes, interação com a comunidade, reconhecimento do currículo local e, acima de tudo, a criação de mecanismos que possibilitem a discussão e a articulação de todos esses fatores.
Esses mecanismos podem ser os momentos de diálogo na escola, tais como: as reuniões pedagógicas, as reuniões de organização – que na escola na qual sou diretor chamamos de reunião de articulação –, as reuniões de conselho de classe, as reuniões de pais e as reuniões das instâncias democráticas como o conselho de escola e o grêmio estudantil.
Outra pergunta: o que fazer para proporcionar a participação efetiva e de maior qualidade dos pais e/ou familiares na escola? Evidentemente, não há uma fórmula mágica, mas as saídas geralmente encontradas pelas escolas que já superaram esse dilema passam pela reversão da lógica da relação com a comunidade, que é deixar de se queixar dos alunos e da ausência de seus responsáveis e passar a esclarecer a respeito das expectativas de aprendizagens dos alunos. Informar aos pais sobre o que os seus/as filhos/as devem aprender tem sido mais eficaz do que transformar as reuniões de pais e os conselhos de classe em momentos de lamentação.
Outra estratégia eficaz é o conselho de classe participativo, que conta com as presenças dos professores, gestores, alunos e os pais. Esse momento tem sido muito fecundo e decisivo para a melhoria do desempenho dos estudantes, devido à possibilidade de diálogo conjunto, o que possibilita uma relação mais autêntica entre todos e tem como resultado mais positivo a reciprocidade, que é considerada o conceito da modernidade.
Podemos estabelecer como consenso que a gestão escolar está entre os fatores intraescolares que podem influenciar positivamente a aprendizagem dos alunos e a instituição de um clima de harmonia na escola. Entretanto, isso só é possível a partir de um conceito de gestão que tem como condição técnica a utilização da capacidade racional de meios e natureza educativa que valoriza a relação social pautada pela democracia.
Por fim, na condição de gestor e de pesquisador de temas educacionais, posso dizer que as escolas que mais avançam em seus processos pedagógicos e que mais sucesso proporciona a seus alunos são aquelas que se consideram espaços permanentes de formação e têm a compreensão de que não basta à escola ser democrática, mas que cabe a ela promover a democracia.
Para saber mais:
PARO, V. H. A educação, a política e a administração: reflexões sobre a prática do diretor de escola. Educação & Pesquisa, São Paulo, v. 36, n.3, p. 763-778, 2010.
SOARES, J. F. Melhoria do desempenho cognitivo dos alunos do Ensino Fundamental. Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 130, p. 135-60, 2007.
Claudio Marques da Silva Neto é diretor da EMEF Infante Dom Henrique, em São Paulo. Tem experiência em direitos humanos, formação docente, cultura escolar, indisciplina, violência e gênero. É mestre e doutorando em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
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