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A coordenação pedagógica não é uma ilha

POR:
Muriele Massucato
Muriele e sua equipe. Foto: Ricardo Toscani

Olá Colegas,

A coordenação pedagógica é um espaço de liderança na escola, porém, para que ela seja feita de forma responsável e dentro dos princípios da gestão democrática, é preciso reconhecer que a coordenação não é uma “ilha”. Não estamos distantes de tudo e de todos, analisando como quem “observa de fora” e “prescreve as devidas orientações”.

Ao contrário: estamos diretamente implicados no processo educativo e, portanto, a liderança perpassa a comunicação efetiva, o compromisso e o envolvimento em equipe. Nesse sentido, é fundamental reconhecermos a importância das parcerias para o desenvolvimento do nosso trabalho, afinal, que fique bem claro: não conseguimos nada sozinhos!

Estou há vários anos desempenhando essa função, fora o período anterior em que estive em sala de aula, que foi fundamental para que eu me formasse enquanto coordenadora. Passei por escolas diferentes, tive a rica oportunidade de atuar em vários segmentos (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos) e trabalhei com centenas de profissionais... Refletindo sobre tudo isso, posso afirmar que felizmente ainda não estou pronta. Sim, felizmente! Porque ao estarmos “finalizados” nada mais é possível de ser acrescentado a quem somos.

Gosto muito desta reflexão do filósofo Mário Sérgio Cortella: “Não nascemos prontos (...) É absurdo acreditar na ideia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse, mais velho ficasse, teria que ter nascido pronto e ir se gastando... Isso não ocorre com gente, mas com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta e vai se fazendo”.

Em sua obra “Não nascemos prontos! Provocações filosóficas”, Cortella comenta sobre o quanto as nossas vivências e experiências nos levam a ser quem somos e isso implica diretamente no modo como nos relacionamos, na convivência interpessoal. Ao ler a respeito, fiquei pensando sobre a coordenação pedagógica e a importância de assumir que não estamos prontos, que não temos todas as respostas na ponta da língua, e de construir a nossa práxis, a nossa conduta, a partir da interação com os demais profissionais, com as crianças, com a comunidade, com o ambiente e com o sistema no qual estamos inseridos.

O coordenador precisa, obviamente, de tempo de estudo, leitura e pesquisa para que possa desempenhar seu papel formativo nas escolas. Sinto que esta demanda nem sempre é garantida nos contextos escolares, mas precisa sim fazer parte da rotina semanal da coordenação pedagógica. Porém, além disso, é fundamental reconhecer a necessidade que temos do outro e, com isso, buscar as parcerias em prol do melhor desenvolvimento do nosso trabalho. Além de estudar, faz-se necessário dialogar a respeito.

O psicológo russo Lev Vygostky (1896-1934), tendo sua pesquisa como importante referência em Psicologia do Desenvolvimento Humano e Educação, destaca a linguagem como forma do sujeito ser e estar no mundo, atribuindo a ela um sentido social e cultural, exclusivo aos seres humanos, diferindo-lhes dos demais seres vivos. Ressalta que a nossa interação com o mundo se dá, desde o nascimento, por meio das palavras, da fala e da escrita, mediada por outros sujeitos e, por fim, atribui grande importância à linguagem como constituinte das funções mentais superiores, da elaboração do pensamento; afirmando que o processo de aquisição do conhecimento ocorre nas relações interpessoais, através da linguagem e da interação social.

Assim sendo, retomo a afirmação de que nada conseguimos sozinhos e de que as nossas ações precisam acontecer neste universo de linguagem e interação, sendo constituída ao longo de toda vida. Sempre temos algo a aprender uns com os outros.

Como exemplos claros da necessidade de parceria, cito a importância de blogs como o Coordenadoras em Ação nos quais os profissionais escrevem e dialogam a respeito dos temas, argumentando a partir do seu contexto profissional e trocando experiências. Também vale ressaltar as valorosas parcerias que temos nas escolas, cada vez que nos propomos a refletir coletivamente para tomada de decisões, ouvindo nossos colegas e podendo refletir sobre diferentes pontos de vista. Cito ainda a rica oportunidade dos coordenadores pedagógicos de diferentes escolas se comunicarem, tendo espaços organizados para discutirem sobre a sua prática, ancorados em estudos e pesquisas coletivas.

Na rede onde trabalho, os coordenadores ainda não têm grupos de estudo constituídos na rotina, mas posso afirmar que estamos sempre que possível dialogando e trocando experiências. É muito interessante perceber o quanto precisamos disto. Todos nós! Mesmo quando uma reunião tem uma pauta pré-determinada, não é incomum vermos coordenadores conversando a respeito de outras necessidades pelos corredores, seja na pausa do café, no toilette ou ainda na saída das reuniões, antes de retornarem às suas escolas. Além disso, temos um grupo de conversa por aplicativo de celular no qual trocamos várias experiências e contribuições. Às vezes, simplesmente usamos desta tecnologia para conversarmos e apoiarmos uns aos outros, o que já é importante também.

Enfim, após muito refletir a respeito, quero agradecer a todos que fazem parte da minha formação e constituição enquanto coordenadora pedagógica. Seria impossível citar nominalmente todos os profissionais, crianças, além de cada uma das pessoas da minha família, sempre tão parceiras e compreensivas. Sou imensamente grata a todos! Por fim, meu muito obrigada à equipe da NOVA ESCOLA e GESTÃO ESCOLAR e a todos os leitores tão participativos aqui no blog e nas redes sociais.

Hoje encerro minha contribuição no blog. Após um ano de publicações e quase cinquenta posts, é chegado o momento de alçar novos voos. Despedidas são geralmente tristes, mas sinto alegria por ter feito parte deste lindo trabalho, do qual tanto me orgulho. Deixo aqui meu carinho e admiração a todos os educadores deste país e a toda equipe de jornalismo que se empenha em valorizar e qualificar a prática tão desafiadora destes profissionais.

Contem sempre comigo! Assim como eu conto com todos vocês. Somos um coletivo em constante formação e transformação!

Até breve! Um beijo!

Muriele Salazar Massucato

Para saber mais:

CORTELLA, Mário Sérgio. Não nascemos prontos! Provocações filosóficas. 16. ed. - Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. 

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky - Uma Perspectiva Histórico-Cultural da Educação. Petrópolis: Vozes,2007.

VYGOTSKY, L. S.  Pensamento e Linguagem. Tradução Jeferson L. Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1993.   

VYGOTSKY, L. S.   A formação Social da Mente. Tradução   José Cipolla Neto,  Luis S. M. Barreto e Solange C. Afeche. São Paulo: Martins Fontes, 1989.