5 ideias para acolher os professores, os alunos e as famílias (inclusive no fim do ano)
POR: Camila Zentner
Faz parte do dia a dia do coordenador pedagógico a necessidade constante de equilibrar demandas diversas de alunos, pais, gestores e professores, garantindo que todos caminhem para os mesmos objetivos. E ali, no espaço da escola, encontramos cada um com seus anseios, dificuldades, potencialidades e expectativas mil. Por isso o acolhimento é tão importante.
E esse é um assunto muito comum e frequente no início do ano, com a chegada de novos professores e alunos. No entanto, não é só nesse período que devemos fazer isso. As angústias, medos, inseguranças, problemas e outras tantas situações que exigem um olhar diferente, um gesto acolhedor, estão presentes o ano todo. Por isso, escolhi falar com vocês da continuidade desse acolhimento, que começa na chegada de cada um na escola, mas que se estende por toda sua jornada.
Tem o aluno que chega até sua sala porque bateu em um colega, mas que você sabe que ele enfrenta sérios problemas na família e sofre com a saída do pai de casa. Tem a professora recém-chegada, que fica quietinha na reunião pedagógica, mas você percebe suas dificuldades no cotidiano com as crianças e do quanto aquele novo universo tem sido assustador para ela. A mãe que está preocupada porque seu filho ainda não aprendeu a ler. A gestão da escola aflita pelo bom andamento do Projeto Político-Pedagógico. Enfim, exemplos não faltam e nem precisariam ser listados aqui, porque certamente vocês conhecem uma porção!
Mas como o coordenador pode acolher a todos e fazer com que cada um avance no âmbito da escola? Para responder a essa pergunta trago a experiência que, à lembrança do grande educador Paulo Freire, fala sobre nossa incompletude e da necessidade de educarmos uns com os outros.
Comecei na coordenação pedagógica muito nova, em uma escola com um grupo de professores bastante experiente. Eu ficava pensando no que poderia contribuir para quem já sabia tanto de seu trabalho. Foi no desenrolar dos dias (até anos) que percebi, na relação com o outro, que não havia saberes maiores ou menores. Todos tinham algo a contribuir, assim como questões a superar.
Ao entender as relações humanas desta forma, busquei desde então estratégias para atender as múltiplas demandas que recebia, a partir de uma perspectiva mais horizontal, pelo exercício do diálogo e empatia. E não se trata de ser o coordenador bonzinho, aquele que faz tudo para agradar a todos. Pelo contrário, já que a tarefa de educar também exige nosso rigor, comprometimento e competência profissional, o mix de tudo isso é o que pode dar o tom às ações do coordenador.
Embora sejam inúmeras as demandas, é importante lembrar que o volume maior delas está entre os professores, uma vez que o coordenador também trabalha com a formação profissional deles. As estratégias que escolhi para compartilhar acabam tendo como foco maior o professor:
1) Estabeleça relações de amorosidade, alegria e esperança: a afetividade não é importante só para a aprendizagem das crianças, mas para todos nós, daí a importância de criarmos laços de amizade, ajuda mútua e respeito no ambiente escolar. Nós sabemos que esses laços vão se formando no dia a dia, porém, eles precisam de situações informais para serem fortalecidos, como momentos de celebração entre a equipe, seja com o grupo de aniversariantes, a chegada de um bebê, a finalização de um projeto etc, ou por meio de pequenos gestos no cotidiano que vão desde uma pipoca com o filme que temos de estudar, um bombom acompanhado da devolutiva do portfólio, um elogio ou palavra de incentivo.
2) Não tenha medo de mostrar suas incompletudes: quando o coordenador compartilha sua experiência anterior como professor, incluindo os sucessos, fracassos, fragilidades e inseguranças, ajuda o grupo a confiar muito mais na figura do coordenador, que deixa de ser aquele profissional fiscalizador, julgador e passa a ser de fato um refúgio e um apoio fundamental para o trabalho do professor. Da mesma forma quando você conversa com as famílias e fala, por exemplo, de suas preocupações e experiências como mãe, aproxima e favorece o diálogo.
3) Seja você a motivação da equipe: nada contra vídeos de autoajuda ou filmes motivacionais – vez ou outra eu uso e são ótimos – mas esse recurso sozinho dificilmente lhe ajudará a alcançar o que precisa. Há que se mobilizar a equipe diariamente, seja com o bom humor na segunda-feira, na escolha de uma estratégia diferente da planejada, quando percebe que o grupo não está bem, na apresentação dos resultados e na necessidade de avanços etc.
4) Seja a mudança que você quer ver: não tem jeito, é do ser humano: ele aprende com o exemplo (positivo e negativo). Então, se você quer que seu professor saia mais da sala de aula e ocupe outros espaços da escola, suas reuniões pedagógicas não poderão ser sempre na sala dos professores em volta de uma mesa, há que se usar a quadra, o pátio, o jardim da escola, um passeio pelo bairro etc.
5) Evidencie o que o outro tem de melhor: todos nós gostamos de ser valorizados! Um professor que é muito bom em fotografia pode ser escolhido para registrar um evento da escola ou comandar uma reunião pedagógica, compartilhando técnicas de fotografia para melhorar o registro do professor, bem como usar esse recurso com as crianças. Práticas positivas em sala também podem ser socializadas entre os pares. E por aí vai!
Os problemas de toda a escola serão solucionados? Obviamente não! Desafios aparecem a todo momento, não tem jeito, o que muda com essa conversa toda é só a forma como a gente enxerga tudo isso, ao invés de ser de cima para baixo, é para o lado.
Camila Zentner Tesche é formada em Pedagogia com especialização em Educação Infantil pela Universidade de São Paulo (USP) e está na coordenação pedagógica da Escola da Prefeitura de Guarulhos Manuel Bandeira há oito anos. A EPG atende a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I e, desde 2015, faz parte do mapa de escolas inovadoras do MEC.
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