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Ideias para aproveitar melhor os espaços e o tempo das crianças na Educação Infantil

POR:
Eurismar Silva Ribeiro
Foto: Getty Images

Quando cheguei ao CEI Dolores Lustosa, em Sobral, no Ceará, recebi a função de coordenar o trabalho dos professores das crianças de zero a três anos. Eu nunca tinha coordenado e nem dado aula para esse público. Foi um desafio e tanto! Procurei o Projeto Político-Pedagógico da instituição para entender os fundamentos das práticas pedagógicas de lá e comecei a observar o que era feito pelas professoras: como davam aula, como organizavam o espaço e os materiais, como tratavam as crianças e como era organizada a rotina. Ao mesmo tempo pesquisava e lia sobre o desenvolvimento infantil, rotina, ambiência entre outros assuntos que surgia sobre o trabalho pedagógico na creche. A diretora Ticiane ajudou demais indicando excelentes fontes de leitura, quase que diariamente.

Nas observações diárias do trabalho pedagógico dos professores fiz diversas descobertas. Uma delas é que as crianças interagem o tempo todo com o espaço e seus materiais, além da interação com os colegas nas brincadeiras de faz de conta. Vi várias formas de organizar o trabalho pedagógico. Nas salas em que o professor focava seu trabalho nas interações e brincadeiras, as crianças eram mais tranquilas, felizes, ativas, curiosas e atentas.

Percebi que as crianças precisam de tempo para brincar e o papel do professor é organizar o espaço e os materiais para que a criança possa brincar e se desenvolver, brincando de faz de conta nos cantinhos ambientados, imitando, se expressando e vivenciando atividades do dia a dia.

Diante das observações e descobertas, resolvi estudar com os professores textos e vídeos que embasavam suas práticas, para que tomassem consciência sobre quais teorias estavam por trás do seu fazer pedagógico e promover a troca de experiências entre eles.  Isso porque só consigo fazer mudanças (intervenções) significativas na prática dos professores que coordeno, estudando, pesquisando, planejando e refletindo com eles sobre a prática. Por isso parto sempre da pesquisa e do estudo sobre o problema vivido.

Lemos o livro: “Interações: ser professor de bebês – cuidar, educar e brincar, numa única ação”, de Cisele Ortiz e Maria Tereza V de Carvalho. Assistimos a alguns vídeos da professora da Faculdade de Educação da USP Tizuko Morchida sobre a importância do brincar e como organizar o espaço para as brincadeiras (vários disponíveis no YouTube, como este). Vimos também o documentário “Território do Brincar” do Instituto Alana (veja aqui como assistir). Lemos o texto “Qual lugar da sucata na escola?” da revista NOVA ESCOLA sobre o uso de materiais não estruturados na Educação Infantil, e muito mais.

Estudando descobrimos que o educador infantil precisa fazer intervenções constantes no espaço a fim de atender as necessidades e curiosidades das crianças, pois é mexendo, pegando, sentindo, interagindo, experimentando o espaço e seus materiais que as crianças aprendem. É preciso aproveitar bem todos os espaços e recursos disponíveis e buscar materiais não estruturados constantemente.

As mudanças

Os professores aceitaram o desafio da mudança do ambiente, organizando novos espaços, renovando os materiais de alguns cantinhos que são permanentes, fazendo intervenções nos diversos ambientes que as crianças frequentam no CEI. No parque, por exemplo, uma professora passou a armar uma rede e as crianças adoraram se deitar e balançar. Pendurou também malhas no teto onde muitas brincaram de escalar, se enrolar, e fazer casinha.

Outro dia fizemos até um foguinho num cantinho do parque e uma criança de três anos sugeriu que cozinhássemos ovos. E assim as professoras, juntas com eles, cozinharam e degustaram ovos no parque, aproveitaram a oportunidade e conversaram sobre os cuidados que precisamos ter com o fogo e panelas no fogão. Passamos a brincar mais com água, construímos com as crianças e enchemos lagos na areia do parque, onde elas colocaram brinquedos para flutuar nele.

A partir daí passamos a coletar material não estruturado e levar diariamente um sacolão com eles para brincar de faz de conta. Além das mudanças no espaço, decidimos dobrar o tempo das crianças no parque e oportunizamos o convívio das crianças pequenas com as maiores. Também resolvemos visitar as demais salas de aula participando de alguma atividade da turma visitada.  Agora faz parte da rotina planejar o uso dos espaços e materiais disponíveis, organizar contextos  e oportunidades para aprender brincando.

Organizamos o nosso fazer pedagógico em projetos temáticos, sempre tendo em vista as necessidades e os desejos das crianças. Nessa época, estudamos a vida no jardim, pois sempre que as crianças achavam bichinhos no parque ficavam muito curiosas e admiradas. Então para permitir que as crianças plantassem, mexessem com a terra, com a água e conhecessem os bichinhos que habitam o jardim, decidimos elaborar o projeto que foi um sucesso.

E vocês, coordenadores, já fizeram algo semelhante? Contem suas experiências.

Eurismar Silva Ribeiro é coordenadora pedagógica no CEI Dolores Lustosa, em Sobral, Ceará, desde outubro de 2015. É pedagoga e tem especialização em psicopedagogia institucional e em gestão escolar.