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A importância da parceria entre diretor e professor mesmo no fim do ano

Aproveite os conselhos de classe para repensar a relação entre a direção e o corpo docente

POR:
Willmann Costa
Foto: Getty Images

Com os últimos Conselhos de Classe do ano, é o momento de fazer uma reflexão sobre o que deu certo e o que não deu tão certo com os alunos durante o ano letivo. A tarefa do professor é árdua, constante, com resultados pouco visíveis em curto prazo. Por isso, é essencial que o diretor esteja ao lado do corpo docente, para entender o que funcionou e incentivar os passos certos em 2018.

Precisamos ter foco e altas expectativas com nossos estudantes. Às vezes, o profissional comprometido com a formação dos jovens é, no início, incompreendido pela direção da escola, pelos responsáveis e pelos próprios alunos. Mas, mesmo diante desse cenário, nada é mais gratificante quando percebemos, nos olhos dos estudantes, o brilho da descoberta do novo. Para que isso aconteça é preciso que o professor esteja por inteiro em sala de aula. Precisamos entender que educar, muitas vezes, vai de encontro à vontade imediata do aluno. E se a direção estiver ao lado do professor que inova, há bem mais chances da Educação dar certo. Veja o meu exemplo:

Em 2010 passei a dar aulas, de Língua Portuguesa, para a primeira série do Ensino Médio, em uma Escola Estadual de um pequeno município do Rio de Janeiro. A instituição oferecia o segundo segmento do Ensino Fundamental e Ensino Médio.  Nas primeiras semanas tive dificuldade para que os alunos participassem, de forma ativa, das aulas. Estavam acostumados somente com aulas expositivas, queriam que eu escrevesse no quadro, tinham necessidade de ter muitas anotações no caderno. Em algumas aulas até cheguei a escrever mais no quadro do que normalmente fazia.

Um dia, com quase um mês do início das aulas, um colega, também professor de Língua Portuguesa, na sala dos professores, me disse que os alunos não estavam gostando da minha forma de lecionar, pois não tinham muito tempo para estudar, ajudavam os pais no contra turno, na lavoura. Fiquei ouvindo, sem esboçar qualquer reação. O professor continuou dizendo que eles estavam acostumados a estudar com questionários, isso facilitava a vida deles. Percebi que não adiantaria discordar daquele método e falei que iria pensar sobre o assunto.

Naquele momento, os alunos já estavam  interagindo  nas minhas  aulas, mas tinham medo da avaliação. Expliquei que a prova era uma mera formalidade, o que me interessava mesmo era que eles aprendessem a argumentar, elaborar de forma mais clara o pensamento, apropriar-se mais da Língua. Acho fundamental que o professor transmita onde quer chegar com o aluno, deixar claro seus objetivos.

Descobri que o colega que falou comigo sobre os alunos na sala dos professores havia sido o professor deles no nono ano. Eles me falaram que esse colega, vinte dias antes da prova, escrevia no quadro um questionário com quinze perguntas e em seguida respondia todas. Das quinze, dez caíam na prova. Essa forma, segundo meu colega, não dava trabalho e não estressava os alunos. Soube também que o professor era muito querido pelas turmas, raramente levava alguém para direção. O mundo era perfeito. Percebi, então, que o professor havia se acomodado em sua prática, gostava de explicar o conteúdo como palestrante, escrevia a matéria no quadro. “Há quase duas décadas funcionava assim, por que mudar?”, disse-me ele.

Fui convocado para uma reunião com alunos e vários responsáveis que diziam precisar de aulas de verdade, mais conteúdo nos cadernos. Ouvi todos, calmamente, mas não perdi o foco. A responsabilidade do ensino era minha. Não me abalei quando um aluno se levantou e disse que eu estava sendo pago para ensinar e não para colocá-los para falar. As pessoas não pensam direito quando estão inseguras, com medo. Entender o comportamento do aluno como agressões pessoais é um equívoco.

O professor é o líder e deve saber o que é melhor para seus alunos e não se comportar como se fosse o melhor  amigo. Da mesma forma, o professor também não pode ser o inimigo, pois as duas coisas implicam em relações pessoais, muitas vezes íntimas. Entendo também como inadequado o professor ficar se exibindo, mostrando saber  mais que o aluno, desqualificando-o, mostrando ser mais inteligente. Conhecimento não é sinônimo de inteligência.  O papel do professor é provocar o conhecimento, guiar o aluno para buscar o novo, estimular a curiosidade, a colaboração, o autocontrole. Ser paciente é a maior virtude do professor.

No fim do ano letivo, os alunos já estavam apropriados da minha forma de trabalhar, participando ativamente das aulas, argumentando. Vendo que não houve evasão e que o índice de reprovação caiu aproximadamente trinta por cento, o diretor quis saber sobre a metodologia aplicada e como faria para replicá-la em outras disciplinas. O professor do nono ano também se interessou pelo método, abandonou os antigos questionários e passou a motivar a participação efetiva dos alunos em sala de aula.

A direção da escola, no início do ano seguinte, organizou uma formação com todo corpo docente para compartilhar as boas práticas. Dessa forma, a escola passou a ser referência na cidade, nos anos seguintes. Por isso, diretores, incentivem os professores a saírem do lugar comum.

Willmann Costa é diretor geral do Colégio Estadual Chico Anysio, no Rio de Janeiro-RJ, e professor de Língua Portuguesa e Literaturas. Tem mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade, pela Universidade Veiga de Almeida. Atuou como tutor do programa Gestão da Aprendizagem Escolar na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).