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A melhor forma de dar feedback à equipe

Saiba quais pontos são imprescindíveis nas devolutivas para a equipe, como lidar com os casos difíceis e quem faz a conversa em cada caso

POR:
Laís Semis
Crédito: Getty Images


Há muito planejamento envolvido para dar início às atividades letivas, organizar a equipe, traçar os objetivos do ano e acompanhar os resultados. Mas não é só o esforço de planejamento da gestão que define os resultados da escola. Cada colaborador tem a sua parcela de responsabilidade e investir no desenvolvimento profissional da equipe pode contribuir muito para ter bons resultados. Além da formação continuada durante os horários de trabalho pedagógico coletivo (HTPC), o
feedback - a famosa devolutiva - é um recurso que ajuda a desenvolver as competências e habilidades desejadas ao evidenciar caminhos potenciais para  melhoria.

“Se entendemos o feedback como momento formativo e não como ‘chamada de atenção’, temos a oportunidade de melhorar pontos e crescer enquanto profissionais”, diz Muriele Massucato, coordenadora pedagógica da Escola Municipal José Avilez, em São Bernardo do Campo (SP). A devolutiva, diz, é também uma forma de acompanhamento e acolhimento da equipe. “Já estive em escolas em que não havia acompanhamento e há um sentimento de solidão no trabalho. Como na escola somos um coletivo que precisa ter uma consonância, as devolutivas favorecem um alinhamento pedagógico”, explica.

Como funciona o feedback
O momento pode se dar de duas formas: estruturada ou pontual. Na escola de Muriele, ele é estruturado: mensalmente, os docentes e equipe de apoio recebem devolutivas sobre suas entregas em um formato pré-estabelecido. Entre os gestores, o procedimento é feito semanalmente. A vantagem de se ter uma frequência de devolutivas é acompanhar o desenvolvimento e seu impacto nos resultados. Além disso, ter uma agenda para esses eventos permite uma preparação maior dos gestores para levantar informações e embasar a conversa, o que facilita o diálogo. “Procuramos sempre nos pautar para essas conversas em documentos oficiais, como as diretrizes curriculares – agora, a Base Nacional Comum Curricular –, o regimento interno da escola ou as orientações da rede, por exemplo”, esclarece a coordenadora. “Mensalmente, os docentes encaminham seus planejamentos. A partir desses materiais e da observação na rotina estruturamos a conversa”, conta. Quando se trata de uma demanda de atenção coletiva, é possível trazer a pauta para o HTPC. “Para tratar do que é pontual e evitar a exposição do professor, fazemos agendamento com pelo menos alguns dias de antecedência”, diz Muriele. A conversa é registrada para futuras consultas de acompanhamento e, inclusive, referência para os próximos feedbacks.

Na EMEIF Boa Vista do Sul, em Marataízes (ES), o feedback estruturado acontece uma vez por ano. Todos os funcionários da escola se autoavaliam e são avaliados pela gestão. A devolutiva tem duas partes: uma em que o funcionário avalia suas ações com “sim”, “não” e “ às vezes” e outra aberta para observações escritas em relação às suas ações. “Esse modelo dá subsídios para entendermos o que é preciso melhorar, onde é preciso colocar o pé no freio e onde acelerar”, explica a diretora Marlúcia Brandão.

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Além de se pautar nos documentos de referência para a escola, nas atribuições de cada funcionário e entregas, a devolutiva bem embasada deve trazer exemplos concretos para a conversa. Três elementos básicos podem compor o feedback:

  1. Qual é a situação
    Em que momento e onde ela ocorreu

  2. O comportamento que precisa de mudança
    Aqui é importante não focar nos adjetivos – afinal, não se trata de um julgamento de impressões –, mas nos verbos, as ações que não estão de acordo com o esperado
  3. O impacto que aquele comportamento teve nas outras ações e pessoas envolvidas
    Estamos falando das reações de consequência do comportamento. Além de apontar o que precisa ser melhorado, o ideal é trazer orientações sobre como as atividades podem ser melhor realizadas.


As devolutivas também podem acontecer de forma pontual. Na escola de Marlúcia, onde o feedback estruturado acontece apenas uma vez ao ano, as devolutivas pontuais são quase diárias. “Trabalho muito com o reforço positivo sobre as atividades no dia a dia da equipe e sempre pergunto o que estão fazendo e se precisam de ajuda. Isso facilita o acompanhamento do trabalho e ajuda a entender quais são os pontos que podemos desenvolver juntos em cada um”, conta a diretora. A via é de mão dupla. “Dou abertura para a equipe me sinalizar quando eu estiver errando também. Afinal, são eles que me apoiam e vão me ajudam a visibilizar os pontos a melhorar”.

A coordenadora Muriele (à esq.) se reúne semanalmente com os outros membros da equipe gestora para alinhar as demandas e dar devolutivas. Crédito: Ricardo Toscani

Da mesma forma que é necessário fazer intervenções em sala de aula para guiar a aprendizagem de um aluno de acordo com suas dificuldades, é preciso avaliar quando as intervenções pontuais também são necessárias entre a equipe de funcionários. Dependendo da situação e de seu impacto, não faz sentido aguardar o próximo ciclo de conversas para indicar que, por exemplo, o planejamento de um professor está fora das diretrizes oficiais da rede ou há um problema com a limpeza da escola. Nesse processo, tão importante quanto a própria devolutiva, é o acompanhamento dela.  

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Incluir a equipe toda
Como no espaço escolar a aprendizagem é sempre o maior objetivo final, corre-se o risco de acreditar que a proposta é garantir a devolutiva apenas da equipe docente. “Todos os funcionários da escola possuem um plano de ação e precisam ser acompanhados. As reuniões são periódicas, de acordo com a necessidade, para os funcionários de apoio, como limpeza, e oficiais de escola, como o pessoal da secretaria”, explica Muriele Massucato, da Escola Municipal José Avilez. Na instituição, grupos da comunidade escolar como Associação de Pais e Mestres (APM) e conselho mirim, por exemplo, também são incluídos na devolutiva. “É muito interessante porque traz o olhar das pessoas que são atendidas nesse serviço, que é a escola. As crianças têm olhares muito sensíveis sobre como melhorar a rotina, o recreio”, aponta. Por ora, o processo ainda é unilateral, mas a escola já estuda como auxiliar na formação desses grupos.

Quem dá o feedback
A equipe gestora é a responsável por guiar a conversa. Pela proximidade maior entre docentes e coordenação, é este último quem faz os feedbacks dos professores. No caso dos funcionários de apoio, fica a cargo do diretor e vice. “Apesar dessa divisão, sempre alinhamos as pautas entre os gestores para garantir que não seja uma visão unilateral”, destaca Muriele. As devolutivas do diretor são semanais e ficam sob responsabilidade do supervisor de ensino. Como a supervisora é externa à escola, os integrantes da gestão, que estão próximos na rotina diária, também fazem esse processo. Quando não há a figura do supervisor, a devolutiva pode vir de outro membro gestor.

Na EMEIF Boa Vista do Sul, em Marataízes, na conversa da avaliação anual, a direção também é avaliada pelos funcionários. “Independentemente dos anos de experiência, a gente também erra. O importante é estar aberto para ouvir e tentar ajustar”, acredita Marlúcia.

Os casos difíceis e os cuidados na hora da conversa
Não é fácil ouvir que você não está indo bem em determinados pontos do trabalho. Por isso, é mais do que válido medir as palavras. Principalmente nos casos em que o feedback não é positivo, é preciso tomar cuidado para não emitir julgamentos ou acusar pessoalmente o funcionário. Frases como “é difícil trabalhar com você”, “você é irresponsável” ou “você sempre faz isso” devem ser evitadas. Generalizar ou exagerar nas ações (usando o “sempre faz” ou “nunca faz”) não é indicado. Para evitar um tom pessoal, o ideal é esclarecer a situação – onde e quando  aconteceu. As críticas devem se fundamentar nas atitudes e não em impressões suas ou de terceiros. Ao fim da conversa, vale perguntar se os pontos ficaram claros e  há dúvidas.

Mesmo nas conversas difíceis, não esqueça de destacar os avanços e pontos positivos da pessoa com quem está falando. Seja qual for o caso, ela coloca o gestor na posição de escuta. “Procuro entender o problema e os motivos. Às vezes, partimos da premissa que o funcionário já sabe tudo e que é óbvio, mas pode ser que estejamos cobrando cobrando coisas que eles não têm domínio. Por isso, a escuta é importante. Só depois que você mostrou e deu um tempo ao funcionário para se ajustar, dá para cobrar uma nova postura”, acredita a diretora.

Uma estratégia para esses casos mais delicados é fazer a conversa em duplas. “Quando é um caso em que já demos orientações em outros momentos e o funcionário continua agindo da mesma maneira ou uma questão que afeta o pedagógico, como um professor que está sempre atrasado ou é faltoso, preferimos fazer com a presença do diretor”, conta a coordenadora Muriele. Em duas pessoas, é possível elencar mais exemplos sobre o comportamento e justificar o impacto, além de se apoiarem nas falas.

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