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9 reflexões para valorizar a carreira e melhorar a formação de professores

Susan Fuhrman, diretora do Teachers College, nos EUA, fala sobre valorização docente e estratégias para apoiar o seu desenvolvimento profissional

POR:
Marina Lopes, do Porvir*
Foto: Susan Farmer on Unsplash

Como estimular o desenvolvimento contínuo dos professores? Quais incentivos de carreira devem ser oferecidos? Para Susan Fuhrman, diretora do Teachers College da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, o apoio aos educadores passa inicialmente pela compreensão dos seus desafios. “Os professores precisam saber que nós entendemos o que eles passam e que apreciamos o seu trabalho. Para lhes dar o suporte de que precisam, temos que mostrar que eles não estão sozinhos”, diz.

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Durante visita ao Brasil, a partir da sua experiência à frente de uma das principais instituições de formação de professores dos Estados Unidos, Susan Fuhrman conversou com um grupo de representantes do terceiro setor sobre políticas de incentivo, formação de professores e valorização da carreira docente. O encontro foi promovido pelo movimento Todos Pela Educação e pela Fundação Lemann.

Confira algumas das principais reflexões apresentadas por Susan Fuhrman:

Susan Fuhrman

Formação precisa integrar conhecimento e prática
O treinamento adequado de professores não passa apenas pelo conhecimento sobre como os alunos aprendem ou pela prática em sala de aula. De acordo com a diretora do Teachers College, as duas coisas precisam estar alinhadas. “Nós sabemos que as crianças não aprendem apenas quando alguém fala com ela, elas aprendem durante conversas. Também sabemos que os relacionamentos e o desenvolvimento socioemocional são muito importantes. As pessoas não sabiam disso há dez anos. Então, temos que colocar o conhecimento e a prática juntos”, sugere Susan, ao mencionar que teoria e prática devem caminhar lado a lado na formação docente.

Como estratégia para que os professores tenham experiências reais, já que as universidades não têm como ensinar tudo o que precisam aprender para atuar na sala de aula, Susan também destaca a importância da residência pedagógica, de forma parecida ao que acontece nos cursos de medicina. “Nos países com um alto nível na educação, os professores são pagos para aprender. Isso vai um pouco além do que pode acontecer nos Estados Unidos ou no Brasil, pois exige um investimento muito grande, mas existe uma outra abordagem chamada residência pedagógica. No Teachers College, as pessoas estudam um assunto na graduação e depois passam mais um ano aprendendo sobre Pedagogia, aprendizagem dos alunos e uso de tecnologia. Durante o dia, eles também trabalham como assistente de professores.”

É preciso estabelecer referenciais sobre o que os professores precisam saber
Em um debate sobre o que realmente faz a diferença no ensino, a diretora do Teachers College diz que devem ser criadas normas para que os professores saibam o que é esperado deles. “O foco são os referenciais sobre o que os professores devem saber desde o começo. Nos Estados Unidos, isso não está estabelecido. Cada estado tem um tipo de certificação para professores, mas nenhum é sofisticado”, diz.

De acordo com Susan, devem existir algumas habilidades e conhecimentos básicos para todos os professores. “Eles devem saber como liderar uma discussão, engajar os alunos em uma conversa de forma que ela avance e gerenciar uma sala de aula”, exemplifica. “São coisas que os professores precisam saber, e nós temos que avaliar isso para estabelecer um padrão em todo o país.”

Docentes devem receber apoio em sua prática
Não adianta cobrar que todos educadores adotem um mesmo padrão. “Ajudar os professores é o melhor que podemos fazer por eles. O trabalho se torna cada vez mais difícil”, destaca Susan. Ela sugere que o desejo de ver o aprendizado dos alunos, que é nutrido genuinamente por quase todos professores, seja um ponto de partida para redes ou organizações oferecerem ferramentas e formações que podem ajudar os docentes a alcançar seu objetivo. “Se você der a eles uma boa liderança, boas condições de trabalho, materiais e acesso à tecnologia, todas essas coisas vão ajudá-los a ensinar melhor. Os professores apreciam isso.”

Políticas de bônus trazem pouco resultado efetivo
Se por um lado ela defende a criação de melhores condições de trabalho, por outro a diretora do Teachers College também traz algumas reflexões sobre incentivos por meio de bonificações. “Não tenho pensamentos positivos sobre políticas de bônus para professores. Tivemos resultados muito pequenos com todos os estudos e estratégias que usamos. O investimento é muito alto, mas o resultado final não é bom.”

Para Susan, qualquer estratégia que envolve o uso de bônus deve começar com uma reforma de base muito bem estruturada. “Nos Estados Unidos, os professores pensam que recebem muito mal, e isso é evidente se compararmos com outras áreas. Mas a motivação é o essencial. O bônus não vai ajudar se a pessoa acreditar que está ganhando mal”, diz Susan. “Os bônus não funcionam na educação, mas as pessoas continuam implementando isso. Elas são atraídas ao que parece fácil de se fazer. A reforma tem que ser sistêmica.”

Mais do que reformas, a educação precisa de melhorias
Quando o assunto é uma reforma educacional, Susan Fuhrman diz que a conversa é infinita.” A reforma é uma questão muito complicada. Significa pensar em coisas diferentes para pessoas diferentes. Eu prefiro usar a palavra melhoria, porque uma reforma pode acontecer o tempo todo, mas o que nós buscamos são melhorias”, diz.

Para que os sistemas educacionais atinjam tais melhorias, eles precisam ajudar as pessoas a mudarem suas práticas. “Dizer às pessoas para fazer alguma coisa só vai dar certo se for uma mensagem simples, como 'Você tem que andar a 50 km/hora no trânsito'". Entretanto, ela diz que um aprendizado que envolve mudança de prática profissional não é algo fácil de se enfatizar. “Não adianta dizer a uma escola que ela precisa melhorar sua pontuação em 10%, sem oferecer suporte e recursos para que faça isso. Você pode até dizer que espera X, mas sem apoio não vai adiantar nada”, afirma, ao mencionar que o país precisa ajudar educadores a construir capacidade.

Política nacional para a educação precisa incluir incentivos locais
Assim como acontece no Brasil, Susan Fuhrman disse que nos Estados Unidos também existe o desafio de administrar o desempenho educacional dos estudantes em um complexo sistema federativo. “Nós temos esse quebra-cabeça de um um sistema federal com controle local. Grande parte dos fundos vêm dos estados, então o desafio é alinhar incentivos por níveis, pensando no que vai motivar determinados municípios a entrarem no jogo.”

De acordo com Susan, as estratégias não funcionarão de forma igual para todas as redes de ensino. “Nos Estados Unidos, os estados são motivados pelos valores. Se uma escola vai bem, as pessoas querem comprar casas naquele local. Precisamos entender a dinâmica que motiva os bairros a melhorar seu desempenho educacional”, afirma. Ela ainda sugere que a tecnologia seja uma ferramenta aliada para atingir as partes mais remotas do país, oferecendo apoio para que todos possam se desenvolver.

Educação deve ser vista como uma política
Na avaliação dela, o contexto político também pode tornar o sistema educacional menos funcional. “A educação é política em qualquer lugar. Dizíamos que a educação está fora da política, mas isso é ridículo. Não é assim que as coisas funcionam. Política se trata de alocar valores, e a educação é um valor essencial”, afirma.

Ao refletir sobre os desafios brasileiros, Susan também fala sobre o tempo que os alunos passam nas escolas e a jornada dupla ou tripla de trabalho enfrentada pelos professores. “Os professores precisam trabalhar o dia todo em uma escola. Eles precisam planejar o currículo e fazer desenvolvimento profissional em conjunto com os seus colegas. Os alunos também precisam ficar mais tempo na escola. Temos que pensar nisso no longo prazo e criar condições fora da educação para que isso aconteça.”

Desenvolvimento profissional deve estar focado no currículo dos alunos
Na hora de estabelecer um plano de carreira para os professores, ela afirma que o desenvolvimento profissional deve estar focado no currículo dos alunos. “Não adianta fazer um curso desvinculado. Tem que ser tudo bem planejado para ter relevância no dia a dia deles. O desenvolvimento profissional vai ser uma parte importante da reforma.”

Terceiro setor também pode contribuir com a carreira docente
Susan também se mostrou bastante esperançosa em relação ao terceiro setor brasileiro. Para ela, esse grupo também pode apoiar importantes mudanças educacionais. “Vai ser difícil encontrar recursos e assistência técnica no sistema para ajudar os professores e líderes educacionais. Eu acho que o setor sem fins lucrativos pode ajudar bastante aqui no Brasil.”


* Artigo publicado originalmente no Porvir

 

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