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Como valorizar os funcionários de apoio da escola

O trabalho de merendeiros, porteiros, faxineiros e secretários escolares também impactam na aprendizagem e no clima escolar

POR:
Laís Semis
Crédito: Clem Onojeghuo/Unsplash

Quando a diretora Daniele Pereira Machado chegou na EMEF Dr. Vicente Machado, em Castro (PR), o clima entre os funcionários não era dos melhores e o entusiasmo, pequeno. “A equipe de apoio estava dispersa. Percebi que eles não se sentiam valorizados e que precisavam de atenção”, conta Daniele. Problema parecido aconteceu na Escola Parque Infantil Dona Zulmira Gonçalves, em Orizona (GO),  onde a diretora Denise Mesquita trabalhou por 10 anos como docente antes de chegar à gestão. “Como eu sempre tive amizade com as funcionárias de serviços gerais, ouvia as queixas de desvalorização. Algumas relatavam que nem sequer eram cumprimentadas”, relata. O tema ganhou uma bandeira tão forte para Denise que foi uma das suas pautas de candidatura para a direção da escola.

As instituições de Daniele e Denise não chegam a ser exceções. Muitas outras escolas enfrentam a questão da desvalorização e da desmotivação da equipe de apoio. Ela é formada por todos os profissionais não-docentes (inclusive, em algumas redes, essa é a nomenclatura usada) e que apoiam, de alguma forma, a ação educativa. Geralmente, fazem parte dessa equipe, merendeiros, faxineiros, porteiros, inspetores, secretários escolares e bibliotecários, por exemplo. E, apesar de não lidarem diretamente com a rotina da sala de aula, esses profissionais também têm papel importante na Educação das crianças. “Todos os profissionais que atuam dentro da escola contribuem com a aprendizagem dos alunos”, afirma Edneia Regina Burger, coordenadora de projetos da Elos Educacional.

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Se os professores estão trabalhando diretamente na aprendizagem dos alunos, os outros funcionários contribuem para que ela seja mais proveitosa. E qual seria o impacto da limpeza na aprendizagem? “Enorme”, garante Edneia. “Uma escola limpa e bonita melhora o clima. Com um clima melhor, a aprendizagem também melhora”.

No entanto, para exercitarem bem esse papel de educadores, a equipe de apoio precisa estar consciente dele. “Muitos acabam fazendo seu trabalho de maneira isolada e não enxergam o peso que têm no resultado do processo educativo”, diz Edneia. A forma como os adultos se comportam, falam e vestem é uma referência para as crianças – principalmente as pequenas. “Elas são observadoras e valorizam esses momentos que convivem com os profissionais da escola”, conta a diretora Daniele.

O que fazer para valorizá-los
Cabe à gestão construir junto aos funcionários essa consciência do papel educativo de cada ator dentro da escola. Para começar, Amaral Barbosa, técnico da Secretaria de Educação de Quixeramobim (CE) e membro da rede Conectando Saberes, recomenda que a escola comece por diagnosticar a atual situação em que a instituição se encontra no momento. “É preciso definir onde se quer chegar, o que pode melhorar e que tipo de ações podem ser desenvolvidas para fazer acontecer”, aconselha Amaral. Ele ressalta que toda a equipe da escola pode colaborar nesse processo de reunir ideias para colocar o projeto de pé. Esse movimento de incluir os funcionários nas discussões já é, por si só, uma forma de aproximá-los e fazê-los sentir o valor de sua participação. A comunidade interna pode contribuir com a elaboração do projeto político-pedagógico (PPP), em um projeto específico, na busca de saídas para algum problema que a escola atravessa ou mesmo em atividades festivas da instituição.

Do lugar que cada um ocupa dentro da comunidade, há visões e experiências diferentes que podem agregar à escola. “Os funcionários de apoio têm opiniões sobre os espaços escolares e podem dar sugestões. No entanto, eles precisam ter oportunidades para fazer isso”, diz Edneia.

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Um erro comum é supor que eles não gostariam de participar desses momentos porque são tímidos. Foi o que Daniele constatou ao chamar a equipe de apoio para participar dos projetos e reuniões gerais na escola. “No início, eles acharam estranho. Ouviam mais do que opinavam. Foi uma construção, mas hoje eu tenho uma reunião mais dinâmica e uma equipe que consegue expor seus pontos de vista”, comemora a gestora. É preciso respeitar o jeito de cada um – mas sem usá-lo como desculpa para deixar a equipe de apoio de fora.

No caso de Denise, ser próxima do pessoal de apoio facilitou a aproximação. No entanto, foi preciso fazer um trabalho de sensibilização e auto-estima para ajudar a abandonar o estigma que existe em torno desses funcionários. “Alguns se achavam inferiores diante dos professores e para mudar isso foi preciso muita conversa”, diz a diretora. “Em todas as reuniões, eu destacava que tínhamos funções diferentes, mas que todos eram importantes e passei a trabalhar uma mudança de mentalidade na comunidade”, conta Denise.

Nas festas da  Escola Parque Infantil Dona Zulmira Gonçalves, os funcionários de apoio também participam das atividades. Na foto, a merendeira Joelma brinca com as crianças no Carnaval. Crédito: Acervo pessoal/Denise Mesquita

Outro equívoco frequente é abrir espaço para que os funcionários participem sem deixar claro como eles podem contribuir para a discussão. “Para contribuir com o PPP, por exemplo, o colaborador precisa saber o que é, como é desenvolvido e qual é o objetivo da escola”, cita Edneia. A premissa de mostrar os caminhos de colaboração deve guiar o trabalho do gestor em qualquer ocasião.

De igual para igual
Na Escola Parque Infantil Dona Zulmira Gonçalves, os funcionários estão participando do planejamento da festa Junina. Mas não é porque a merendeira é responsável pela comida que ela está envolvida nos trabalhos. Cada um pôde escolher colaborar com as tarefas com as quais mais se identifica. Esse detalhe é muito importante. Uma das profissionais da cozinha, por exemplo, está ajudando no ensaio da quadrilha. “Senão, o funcionário pode se sentir um tarefeiro. Ele precisa participar das sugestões, das escolhas e perceber que tem responsabilidades naquele espaço. Quando as pessoas contribuem naquilo que é o seu melhor, isso é que de fato o valoriza”, explica Edneia, coordenadora da Elos Educacional.

A valorização, em alguns casos, pode ir até além do que inicialmente se espera da equipe. Quando Amaral ainda era diretor escolar, o maior incentivador dos novos títulos que chegavam para a biblioteca da escola era o vigia. “Ele conhecia o nosso acervo literário melhor do que os professores”, relembra. Também era o vigia que fazia propaganda dos livros: selecionava alguns dos títulos e os deixava em uma mesinha na recepção, e os oferecia aos alunos.

Há muito espaço para colaboração e participação, mas eles precisam ser visibilizados para que as pessoas saibam que há abertura para contribuir. “Os próprios funcionários podem se colocar à disposição ou alguém que precisa de novas ideias ou ajuda em determinadas atividades pode convidá-los”, diz Edneia. Na escola de Daniele, os professores já têm explorado este último caminho. “Tivemos uma exposição de sequências didáticas e as professoras pediram a colaboração das cozinheiras e auxiliares de limpeza para ajudar na organização das atividades do evento”, conta. A diretora destaca que além de integrá-las mais, esta é uma possibilidade da equipe de apoio conhecer mais o trabalho de professores e alunos.

Ações pequenas também podem fazer a diferença. Ainda na EMEF Dr. Vicente Machado, os almoços mensais entre os funcionários já fazem parte da rotina da instituição. “Estamos criando sempre momentos de integração que incluem toda a equipe. Com isso, pessoas que nunca conversaram porque tinham funções diferentes passaram a trocar muitas experiências”, relata Daniele.

Formação
A secretaria em que Amaral trabalha está assessorando a secretaria de Tapurah (MT) em um cronograma de formações que contemplará também os funcionários de apoio. Apesar de não serem específicas para as tarefas que desempenham, a rede acredita que esses profissionais também podem se beneficiar de temas mais amplos e que envolvem competências socioemocionais, como relações interpessoais. Até os motoristas do transporte escolar vão participar. “Acreditamos que essa ação também desenvolverá questões como motivação, autoestima, sensibilização e responsabilidade”, diz.

As escolas têm buscado também esse caminho. As reuniões da Vicente Machado mensais incluem discussões gerais da escola – e conta com a presença de todos os funcionários em determinados períodos. “Discutimos questões que vão surgindo no dia a dia, documentos da escola, como regimento interno, e fazemos um momento de socialização”, conta Daniele.

Denise, da Escola Parque Infantil Dona Zulmira Gonçalves, em Goiás, desenvolveu um “termômetro institucional” para medir o impacto das ações. “A ideia foi mapear se os funcionários estão felizes na função que ocupam, se se sentem valorizados e o que a gestão pode fazer para melhorar o clima”, explica a gestora. As perguntas foram feitas por um formulário e estão em fase de consolidação e análise de dados. E pelo que Denise vê, as ações têm feito sucesso na comunidade. “Mas ainda temos muito que aprender e desenvolver dentro desse tema”, acredita a diretora.

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