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O equilíbrio para coordenar diferentes etapas de ensino

Quando se é coordenadora de duas etapas diferentes em uma mesma escola, é necessário equilibrar as demandas entre elas e respeitar as características de cada uma delas

POR:
Camila Zentner
Crédito: Getty Images

Olá, coordenadores!

Trabalho em uma escola que atende mais de uma etapa de ensino. A escola onde atuo como coordenadora começou atendendo somente a Educação Infantil, sendo a primeira de sua região. No entanto, no decorrer das décadas (a escola já tem 35 anos), a demanda aumentou e foi necessário ir, progressivamente, ampliando sua oferta de ensino. Começou pela alfabetização e foi se estendendo ao longo dos anos até chegar ao 5º ano do Ensino Fundamental.

Antes do equilíbrio, os conflitos
No inicio, recém-chegada na coordenação pedagógica, trabalhar com essas duas etapas me apontavam uma série de dificuldades. A maior e mais preocupante delas era a pressão, muitas vezes velada, mas existente, por antecipar o trabalho do Ensino Fundamental na Educação Infantil. Com o pensamento de que se os alunos não aprendessem a ler e a escrever nos anos iniciais do Fundamental era necessário adiantar o processo de alfabetização, as turmas de Educação Infantil investiam seus esforços em práticas como o uso de cadernos de linha em treinos ou cópias de letras e números, por consequência, crianças de quatro e cinco anos permaneciam por um longo período dentro da sala, sentadas em suas cadeiras. Ainda assim, tal esforço não surtia o efeito esperado nos anos subsequentes do Ensino Fundamental. Os baixos índices de alfabetização continuavam.

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Nas reuniões pedagógicas, outro desafio era atender as demandas específicas de cada etapa de ensino. Os professores esperavam por discussões que contribuíssem para sua prática, bem como para os problemas enfrentados em seu dia a dia. Sendo assim, as pautas das reuniões nunca acolhiam a todos, gerando desinteresse e, comumente, dispersando alguma parte do grupo.  Além disso, por vezes, erámos engolidos pelas cobranças do Ensino Fundamental em sondagens, avaliações internas e externas, por resultados e todo um calendário rígido que monopolizava as reuniões. Cheguei a pensar muitas vezes: “como seria bom coordenar apenas uma dessas etapas!”

Felizmente, não demorou muito e mudei de ideia!
Não consigo precisar exatamente quando minha opinião mudou a respeito, porque ela vem da mistura de acontecimentos. Foi o mix da experiência, o encontro e diálogos com vários educadores em suas diferentes trajetórias e do estudo acerca da infância – que me fez enxergar para além dessas etapas, considerando suas especificidades e transpondo-as.

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A mudança de olhar (que não pode ser só do coordenador, mas de todo o grupo), permite a realização de um trabalho integrado que valoriza a diversidade presente entre as etapas de ensino, como a diferença de idade. Um trabalho que começa com atitudes bem simples.

Lembro de um passeio ao cinema em que todas as crianças estavam em duplas de mãos dadas. Cada aluno do Ensino Fundamental ficou responsável por um aluno da Educação Infantil. As crianças maiores ficaram animadas pela responsabilidade que assumiram, enquanto que as menores vibravam pela amizade com os “alunos grandes”.

O intercâmbio de histórias criou uma nova relação entre os alunos do Infantil e Fundamental. Crédito: Acervo pessoal/Camila Zentner

Esse aluno grande, admirado pelos pequenos, passou a ser uma referência e modelo a ser seguido pelas crianças da Educação Infantil, ao passo que também foi se desenvolvendo em diferentes áreas. Um exemplo é a atividade de intercâmbio de histórias. Pelo menos uma vez por semana, um aluno mais velho exercita sua leitura lendo um livro para o mais novo, assim como a criança pequena pode contar uma história a partir de um livro de imagens ou ensinar uma canção para o colega mais velho.

Encontrando o equilíbrio
Da integração e do olhar diferenciado para a infância vamos descontruindo antigos paradigmas, como a falsa ideia de uma Educação Infantil sendo preparação para o Ensino Fundamental, citada no início do texto. Passamos a considerá-la como uma etapa imprescindível para a formação dos sujeitos, com suas atividades próprias através do brincar, do faz de conta, do contato com a natureza, das explorações, do desenho, da música e tantas outras atividades que irão criar as bases necessárias para tudo que estará por vir nas etapas seguintes. Sendo assim, os pequenos passam a ocupar os outros espaços da escola: jardim, pátio, a sala da turma ao lado, o ateliê, o parque e onde mais eles puderem aprender e viver sua infância plenamente.

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O Ensino Fundamental também muda nessa perspectiva que, contagiado pelas práticas lúdicas da Educação Infantil, busca a aprendizagem também em jogos, brincadeiras e na exploração de diferentes espaços. Afinal, não é só na sala que a gente aprende, tampouco aprendemos sozinhos. Por isso, quanto mais gente, em diferentes idades e etapas de ensino, melhor!

Até a próxima,
Camila

Camila Zentner Tesche é formada em Pedagogia com especialização em Educação Infantil pela Universidade de São Paulo (USP) e está na coordenação pedagógica da Escola da Prefeitura de Guarulhos Manuel Bandeira há nove anos. A EPG atende a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I e, desde 2015, faz parte do mapa de escolas inovadoras do MEC.

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