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Como fazer uma melhor observação de aula

Veja as dicas de especialistas para transformar este momento em uma troca proveitosa com o professor

POR:
Flavia Nogueira
Crianças, de costas para a câmera, levantam a mão para a professora em sala de aula
Foto: Getty Images

A observação de sala de aula não precisa ser assustadora ou complicada para ninguém. Aliás, a observação é um dos recursos mais valiosos que o coordenador pedagógico pode utilizar no processo de formação continuada.

Estar na sala de aula e assistir as interações entre professor e estudantes é uma forma ótima de coletar dados e, posteriormente, discutir com o professor o que está funcionando e o que pode ser melhorado. E, para o coordenador, é uma maneira de verificar se a formação oferecida realmente está fazendo diferença.

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Apesar de parecer uma situação desconfortável para o professor, a observação pode ser algo muito simples e objetivo, como aponta Tarciana Alves da Silva Sacramento, supervisora técnica do Ensino Fundamental 1 da rede municipal do município de Tapiramutá, na Bahia. Ela trabalha com coordenadores pedagógicos desta rede de ensino e para ela, uma boa observação de sala de aula pode ser resumida em três pontos principais.

“Planejamento. Foco para o acompanhamento. E devolutivas bem pontuais. A devolutiva tem que ser bem pontual, para que volte logo para a sala de aula”, diz.

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É preciso também ter um assunto definido. Para Eduarda Mayrink, coordenadora pedagógica da Secretaria de Educação de Rio Piracicaba, em Minas Gerais, quando o coordenador tem o foco do que vai observar, ele consegue planejar os aspectos que serão analisados.

“E consegue identificar nesta observação conteúdos de aprendizagem e conteúdos de necessidade de aprendizagem do professor. E (consegue) transformar isso em um processo formativo. Devolver isso para o professor como uma formação”, afirma.

Veja abaixo algumas dicas de especialistas para transformar a observação de sala de aula em algo simples e proveitoso para coordenadores e professores.

Planejamento

O primeiro passo é sempre o planejamento, sempre conversar com o professor antes de fazer a observação em sala de aula.

Eduarda Mayrink conta que sempre conversa com o professor sobre o planejamento de uma atividade de observação, ela tem uma “parceria antes (da observação) no sentido de conhecer e discutir com o professor o planejamento do que será observado”.

“E aí construir uma pauta de observação a partir do que eu quero observar naquele conteúdo ou da estratégia didática que o professor vai usar. E o conteúdo na formação é mais nesse sentido. Eu vou elaborar minha pauta de observação e apresento para o professor: olha, esta é minha pauta e são estes aspectos que vou observar durante a aula. E vou para a sala de aula.”

Tarciana Sacramento concorda que este é o primeiro passo para construir uma boa observação de sala de aula.

“Este professor já é avisado que a gente vai acompanhar e que nós somos corresponsáveis pela aula dele. Até porque nós planejamos juntos e definimos o foco do acompanhamento juntos.”

Clebiana Nascimento Leite Pimentel de Sá, coordenadora pedagógica do município de Boa Vista do Tupim, Bahia, explica que tudo é combinado antes e a observação de sala de aula é muito bem pensada.

“O coordenador senta com o professor antes e nós vemos as possibilidades de fazer um plano de aula ou ele pode também fazer o plano de aula sozinho e, no dia em que foi agendado, o coordenador vai para a sala de aula para fazer este acompanhamento. E ele não vai acompanhar qualquer coisa, ou tudo o que vê por aí, ele vai acompanhar apenas aquilo que ele antecipou junto ao professor.”

Sempre ter uma pauta definida e um conteúdo em mente para analisar pode fazer a observação render mais.

 “Nunca vou para uma sala de aula observar sem ter discutido o planejamento antes com o professor. Geralmente, se eu tenho um conteúdo em mente, vou pedir para ele. Vou assistir uma aula de leitura, por exemplo. Eu gosto que o professor me apresente antes esta aula até mesmo para discutir com ele os aspectos, as partes da aula, perguntar que estratégia ele vai utilizar. Eu vou discutir esta aula com ele antes, vou conhecer o planejamento dele. E, a partir disso, vou elaborar uma pauta de observação”, explica Eduarda.

Dentro da sala de aula

As três especialistas concordam que, dentro da sala de aula, a postura precisa ser a mais discreta possível.

“Preciso comunicar para as crianças que estou ali como parceira do professor e ajudante. E que eu fui acompanhar a aula do professor para que ele pudesse levar para eles a melhor forma de eles aprenderem. Eu me sento ao fundo da sala, não interrompo, não me envolvo na aula e vou anotando passo a passo o que este professor está fazendo durante a aula”, conta Tarciana.

“Eu procuro não interferir muito durante o momento de observação, para que o professor possa aplicar o que planejou. Depois eu pego todos estes registros e vou analisar os conteúdos que estão por trás daquele registro, quais são as aprendizagens do professor e quais são as necessidades de aprendizagem dele”, acrescenta Eduarda Mayrink.

Tarciana conta que também pode usar o recurso da filmagem da aula, algo que pode ajudar muito no processo.

“Às vezes a gente pode estar no registro e se empolgar tanto com a aula, e aí esquecer de algum ponto. A filmagem ou os áudios nos ajudam a voltar com o professor e falar: olha, o que eu me refiro na sua devolutiva é neste ponto aqui. Eu achei que você poderia ter investido nisso. Ou foi bacana isso que você fez”, explica.

A devolutiva

Depois da observação feita, é o momento de conversar novamente com o professor. Eduarda conta que o processo sempre começa com os pontos positivos da aula e depois aponta, com perguntas, os pontos nos quais o professor precisa de aprendizagem.

“Esta necessidade eu vou apontar na devolutiva com o professor sempre devolvendo perguntas para ele: o que você acha deste momento aqui? Então ele fala e eu respondo: pois é, eu também achei. Eu coloco minha opinião e meu raciocínio para ele. Mas sempre devolvendo perguntas para ele primeiro. Para ele se autoavaliar. O que ele falar, eu entro com a minha reflexão. E quando tem um conteúdo de necessidade de aprendizagem, eu falo: pois é, então isso eu acho que vai ser um ponto que precisamos estudar mais. Vou pesquisar mais, vamos ver mais sobre este assunto, sobre este conteúdo.”

Segundo Eduarda, se existe uma questão específica do professor, a conversa é apenas com ele. Mas se é algo mais coletivo, que o coordenador observa em várias aulas, esta conversa pode ser transformada em conteúdo de formação dos professores.

Para a coordenadora de Rio Piracicaba, a devolutiva precisa ser rápida.

“É superimportante este momento de devolutiva para o professor. Ele fica esperando isso. E não pode demorar muito para isso acontecer. Não pode deixar passar muito tempo porque você acaba perdendo alguma coisa.”

Clebiana de Sá acredita que a devolutiva não precisa ser um ponto final, ela pode ser um processo contínuo.

“Nunca acaba por aí. Você fez a devolutiva, o professor também fez a sua reflexão, ele volta para sua sala tentando rever o que foi sinalizado e o que ele (coordenador) acredita ser importante. E se preparando para a próxima observação. Nunca termina, é um processo contínuo”, conclui.

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